Capítulo dezenove - Esmeralda

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     Acordamos cedo na manhã de sábado e vamos para a mansão Tales com a mamãe. Assim que entramos pelos portões gigantes, vemos pessoas por todos lados decorando e organizando tudo. Eu diria que são mais de vinte pessoas porque o quintal é enorme. Eles fazem o seu trabalho, cada um com uma tarefa, com uma mulher loira de meia idade supervisionando tudo.
    Seguimos mamãe pelas traseiras que dão à porta da cozinha. Eu sei que tínhamos que chegar cedo para organizarmos tudo, mas ainda são oito da manhã. E pelo que eu sei, os meninos ricos devem estar dormindo ainda. Mas uma parte de mim está torcendo para que Peter não esteja em casa ou que saia e não me veja até a hora da festa.
    Fico admirando a cozinha americana gigante. Acho que é do mesmo tamanho que a nossa casa. Não sei quando na vida vou ter uma cozinha dessas.
    Ouvimos saltos altos batendo no chão e todas olhamos para a entrada da cozinha onde senhora Bella Tales entra com um sorriso. Ela vem beijar o rosto de cada uma de nós e me pergunto se ela é mesmo mãe do Peter.
    — As famosas filhas da Sofia. — Ela sorri. — Deixa eu adivinhar. — Aponta para mim. — Você é a Jade.
    — Eu sou a Esmeralda.
    — Você é a Rubí! — Aponta para Jade.
    — Na verdade, eu sou a Jade.
    — Então, você só pode ser a Rubí. — Aponta para Rubí.
    — É verdade. — Rubí sorri.
    — E a Safira! — Olha para Safira. — Eu quero que fiquem à vontade! A cozinha é vossa. Não precisam ter medo de mim, não sou como as patroas dos filmes. — Começa a rir, nos fazendo rir também.
    — Muito obrigada, senhora Bella! — Jade sorri também.
    — Eu vou sair com o meu marido. Qualquer coisa, os meninos podem resolver ou podem ligar para mim.
    — Entendido! — Mamãe responde.
    A senhora Tales sai da cozinha, mas seu perfume permanece. Safira pega nas caixas com os uniformes e pega numa faca para abrir.
    — E onde estão os outros empregados? — Pergunto.
    — Eles vêm depois. Eu queria que a gente viesse primeiro, temos outras coisas para fazer.
    — Eu posso usar o banheiro? — Rubí olha para mamãe.
    — Sim. No quarto em que eu durmo tem um. Venha! — Mamãe leva ela por uma porta ao lado da sala.
    Jade abre a geladeira gigante e tira algo para comer, mesmo depois da gente ter tomado o café há uma hora. Ela tira uma travessa com uma comida estranha, mas acho é polvo, verduras e vinho.
    — Jade, por favor, não faça isso!
    — Eu só quero saber como é a comida de rico. — Ela dá uma garfada. — E é boa.
    — Eu tenho pena do chefe dela. — Safira ri.
    — Eu também. Mas não a culpo. E também quero saber como essas coisas vão me ficar. — Pego num uniforme de garçonete.
    — O clássico preto e branco. — Safira olha para eles. — Se eu fosse rica usaria colorido.
    — É por isso que você não é! — Jade responde com a boca cheia.
    — E tem essas gravatas. Eu não sei como fazer uma gravata... — Olho para as minhas irmãs, que estão paradas olhando atrás de mim.
    Eu me viro e vejo Peter na porta da cozinha olhando para mim. Ambos ficamos congelados, e eu seguro as minhas lágrimas porque olhar para ele é suficiente para eu sentir meu coração se quebrando dolorosamente e chorar. Simplesmente porque eu o amo.
    Ele dá um passo para frente, e eu dou um para trás mesmo que estejamos a dois metros de distância. Eu não posso fugir, preciso aprender a controlar os meus sentimentos, as minhas lágrimas, o meu coração. Não posso estar nesse estado. Eu tenho que superar isso.
    Ele tenta dizer alguma coisa. Vejo seus lábios tremendo quando ele finalmente diz: — O que você está fazendo aqui?
    — Estou trabalhando! — Consigo responder. Acho que depois daquela noite no Blue Mountain, nunca mais dissemos nada um para o outro. Pelo menos, eu não conseguia dizer.
    — Está bem. — Ele senta na ilha, olhando para as suas mãos.
    — Quer que a gente faça o café para você? — Jade pergunta.
    — Não! — Ele olha para mim por um segundo. — Eu vou esperar Sofia.
    E eu não acho que consigo ficar aqui. Eu saio da cozinha correndo e já estou chorando. Vou correndo para fora de casa, que é o único lugar que não tem pessoas circulando, para eu poder chorar sem ninguém me ver.
    Essa noite vai ser difícil porque não posso mostrar para ninguém o quanto Peter me afeta. Também não quero que minha mãe descubra, então eu vou fazer de tudo para conseguir. Eu sei que não vou poder evitar Peter a noite toda, mas as lágrimas eu tenho que evitar.
    Limpo as lágrimas para que minha mãe não note que eu estive chorando, mas eu não acho que isso vai enganá-la. Fico observando as outras mansões, os pássaros e até um esquilo para parar de pensar nele. Mas quando eu voltar a entrar, ela ainda estará lá.
    Eu queria saber o que Peter anda fazendo, se ele tem se encontrado com outra que também está prestes a enganar, ou se está se encontrando com alguém que ele queira apresentar aos seus pais. Ele deve gostar de mulheres diferentes assim como aquela tal de Madeleine, que é muito bonita e rica. E eu que achei que ela tinha machucado ele. Se calhar, foi ao contrário. Acho que já nada que venha de Peter me surpreende.
    O segurança abre o portão e olha para mim. — Não pode ficar ali.
    — Está bem. — Eu entro e caminho lentamente. Estou dando um tempo para o meu rosto não parecer de alguém que esteve chorando.
    Aposto que Peter ia gostar de saber disso. Mas ontem ele me viu chorando duas vezes, sei que não demonstrou que estava gostando daquilo, mas eu acho que estava realmente gostando. Quer dizer, não duvido nada de alguém que tenha enganado outra pessoa, só para ter uma noite de sexo e depois pagar com um colar de diamantes com bilhete dizendo que estava tudo acabado e que não podiam mais se ver. Seguro as lágrimas, porque não posso mais chorar. Minha mãe sabe sempre quando não estamos bem. Eu não quero que se preocupe comigo ou que descubra que tive alguma coisa com Peter.
    Vejo algumas pessoas colocando luzes por todos os lugares, e consigo imaginar como isso vai ficar lindo à noite. Enquanto observo, os aspersores se ligam, me molhando. Eu saio correndo de volta para a cozinha. Agora estão o Peter e o Harris tomando o café. Só tenho que fingir que eles não estão aqui.
    — Esme, filha, o que aconteceu com você? — Mamãe pergunta se aproximando e tocando no seu cabelo molhado.
    — Eu estava vendo a decoração e os aspersores se ligaram. — Respondo olhando para ela, resistindo a vontade de encarar Peter. Eu sinto que ele está olhando para mim.
    — Talvez isso significa que você terá sorte essa noite. — Safira comenta, fazendo todos olharem para ela. Eu estou tentando firmemente não olhar para Peter e sei que isso não vai acontecer. A única sorte seria se eu podesse ficar longe dele a noite toda.
    — Eu vou trocar de roupa. Rubí você me mostra o quarto da mamãe? — Pergunto.
    — Claro!
    Sigo ela até ao quarto da mamãe que é maior que o da nossa casa. Pego numa toalha e começo a me secar. Mas não estou tão molhada assim. Tiro o casaco cinza e a minha blusa.
    — Você acredita que Renner não está em casa? — Ela olha para as unhas. — O que ele faz se não trabalha?
    — Eu não sei. Apenas acho que Peter está tomando o café ali de propósito.
    — Claro que está. Acho que quer testar até que ponto você é fraca.
     — Você acha?
     — Mas você precisa se concentrar. Não podemos deixar mamãe saber o que aconteceu.
    — Eu estou tentando, mas no momento em que ele se sentou e ficou esperando, eu não aguentei. Eu acho que não aguento muito tempo ao lado dele ou respirando o mesmo ar. — Procuro alguma coisa para vestir, Rubí me ajuda.
    — Você pode evitar olhar para ele. Também é uma opção. Não olhe para ele e não pense nele ou no que vocês tiveram.
    — É difícil porque aqueles olhos azuis me fazem lembrar o azul do mar que nós...
    — Concentração! — Ela estala os dedos.
    — Está vendo? Eu sou fraca!
    — Você não é. — Ela me entrega uma blusa da mamãe e um casaco.
    Visto imediatamente e penteio o cabelo para fazer um rabo de cavalo, depois voltamos para a cozinha, e felizmente, os irmãos Tales já não estão aqui. Tive sorte!
    — Vamos por mãos à obra! — Mamãe me entrega um avental e outro para Rubí.

    Os decoradores fizeram um trabalho espetacular no quintal dos Tales, com luzes por todos os lugares, cadeiras e mesas, com decorações em prateado e azul, brindes em cada cadeira dos convidados, que são pequenas sacolas prateadas, e comida que eu acho que dá para sustentar todas as famílias pobres do país.
    Mas não é apenas o exterior que foi decorado, o interior da mansão também. E está tudo tão lindo que eu me pergunto se algum dia eu irei dar uma festa assim. Talvez em uma outra vida porque eu não imagino que tipo de trabalho eu teria ou o que iria precisar para ter uma vida assim.
    Pelo que minha mãe disse, essa festa é para senhor Tales comemorar a abertura da sua nova empresa no Canadá. E sei que haverá outra em outro lugar para comemorar os quinze anos da Tales Tec, mas nessa eu estarei lá como uma trabalhadora convidada, mesmo assim eu não quero ir. Seria diferente se fosse garçonete mais uma vez, assim eu pelo menos iria ganhar alguma coisa.
    Outros garçons chegam também e começam a receber seus uniformes. Faltam apenas alguns minutos para a festa, os últimos acabamentos estão sendo feitos e já estamos vestindo os uniformes para atender os convidados. A senhora loira e mamãe ordenaram, pois querem que tudo esteja perfeito.
    Eu saio para ver se mamãe ainda está nos esperando na cozinha quando eu me encontro com dois dos empregados. Um loiro e outro moreno. Passo por eles até a saída, quando um deles me faz parar.
    — Espera! — Olho para trás. É o homem loiro.
    Ele se aproxima de mim e pega na gravata mal feita, quero afastá-lo, mas desisto. Ele começa a fazer a gravata, olhando para mim algumas vezes com seus olhos verdes, depois termina de fazer o nó e desliza o dedo na gravata, sem tirar os olhos de mim.
   — Não é tão difícil, não é? — Ele sorri.
   Ele é atraente, mas eu não quero nada com ninguém até algum tempo. Mas também não sei se ele quer alguma coisa, quer dizer, pode ser o caso dele apenas querer me ajudar. Nem todos querem ficar comigo. O que eu estou pensando? É melhor eu ir trabalhar.
    — O que está acontecendo aqui? — E aquela voz!
    Nós nos viramos para encarar Peter, que decidiu aparecer na cozinha o dia inteiro por algum motivo. Talvez eu seja o motivo, mas tenho a certeza que não é no sentido que eu gostaria. E mesmo estando com raiva, não posso mentir que ele será o homem mais lindo da festa. Ele está usando um smoking preto com um brilho surreal e com o cabelo bem penteado e brilhante. E agora olhando assim para ele, eu me pergunto: porquê eu fui burra de pensar que ele gostava de mim?
    — Senhor! — O homem larga a minha gravata e se afasta com o olhar de Peter. Parece intimidado por ele.
   Peter deve gostar disso. Deve gostar de ter poder para humilhar as pessoas. Gosta de ser visto como superior a todo mundo. Consigo ver no seu olhar.
    Eu não entendo porquê ele está olhando assim para o pobre homem, como se fosse matá-lo. E se aproxima em passos lentos até mim, ficando na minha frente. Olho para baixo, porque não quero chorar e não posso deixar ele ganhar. Eu sei que ele me afeta bastante, mas tenho que controlar isso. Eu preciso.
    — Onde está Sofia? — Ele cruza os braços. — Olhe para mim!
   Eu olho para ele. — Eu não sei. Estava procurando por ela.
   — Estava procurando nos olhos desse idiota? — Ele ri sem humor. O que ele pensa que está fazendo?
    — Não precisa chamar ele assim!
    — Eu chamo as pessoas do jeito que eu quiser.
    — É por isso que você acha que pode usar as pessoas como você quer? — Choro. — Que só porque pertence a uma família tão poderosa, você pode falar com as pessoas como quiser, brincar com os sentimentos delas? Você acha que é superior a todo mundo por causa do dinheiro que você tem? É por isso que é tão fácil para você ser um insensível e egoísta? Você é apenas um idiota que não sabe o que é ser machucado.
    — Pare com isso!
    — O que vai fazer?
    Eu saio limpando as minhas lágrimas, deixando ele para trás. Mais uma vez, não consegui me controlar. Ele está ganhando, está fazendo de propósito. Eu não posso dar o que ele quer. Preciso de uma âncora para poder aguentar essa noite, já que não vou poder estar longe dele.

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Espero que tenham gostado do capítulo
Abraços!

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