A volta dos que não foram

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É como estar diante de um fantasma. Só que de alguém vivo, é claro. Não uma assombração, e sim um tipo de miragem que remete a lembranças e certas coisas que eu pensei estarem sob controle e adormecidas.

É assim que me sinto agora, frente a frente com Amelia, na sala de Tony, aqui na sede das Indústrias Stark. Sinto que me enganei feio e que não a esqueci nem por um segundo mesmo após um ano de distância e, no mínimo, nove meses sem ouvir sua voz ao telefone.

Como eu poderia ter esquecido Amelia? De certa forma, foi pensando nela que decidi sair das sombras e voltar para Nova York. Era preciso, o certo a se fazer e, além disso, uma parte de mim se alegrou com a ideia de estar de novo na mesma cidade que ela.

Não planejava revê-la, no entanto. Não achei que seria necessário. Tampouco, recomendado. Mas aqui estamos nós, diante um do outro, mesmo que acidentalmente, depois de um longo ano distante.

Ela me encara com visível surpresa. Certamente, está confusa com o meu retorno. Em choque. Não sei qual reação esperar, além da confusão em seu semblante. Nunca soube decifrar Amelia, muito menos prever qual atitude tomará em determinadas situações.

Confesso que vejo isso como um dos seus encantos. A capacidade genuína de me surpreender e me desarmar ora com um sorriso, ora com um olhar firme. Às vezes, ela é doce e compreensiva. Em outras ocasiões, explode e desliga o telefone na minha cara.

Noto que está um pouco abatida. Será que tem dormido direito?

Apesar do olhar cansado, está mais bonita do que eu me lembro. Linda, sendo bem franco. Não consigo parar de olhar para ela, na verdade. É como um ímã.

Nervoso, percebo que ela ainda me atrai. E isso será um problema. Preciso me controlar.

— Ora, ora. — Ela cruza os braços e franze o cenho. — Se não é a volta dos que não foram...

Com certo alívio, relaxo consideravelmente. Podia ser uma reação muito pior, mas ela só foi irônica. É menos do que eu mereço por ter ido embora e a magoado com a minha decisão.

Vejo que ela endireita a postura e estreita o olhar de mim para Tony algumas vezes, um claro sinal de que espera uma boa explicação. Engulo em seco ao lembrar que não me preparei para explicar coisa alguma. Realmente esse reencontro não estava nos meus planos.

Sou salvo pelo gongo quando Tony interrompe o pesado silêncio, questionando em tom divertido:

— Amy, você se lembra do Bruce, certo?

— Quem? — ela rebate com outra brincadeira. Depois, torna a olhar para mim, aproxima-se com passos rápidos e me surpreende com um abraço. — Eu não estou entendendo nada, mas... bem-vindo de volta, Bruce.

Meio desajeitado, retribuo o gesto. Tenho que me controlar para não abraçá-la com muita força. Só então me dou conta do quanto senti sua falta. Não quero soltá-la. Sei apenas que devo.

Infelizmente, ela rompe o contato de forma brusca, como se tivesse lembrado da minha partida. Recua um passo e cruza os braços de novo.

— Então... Há quanto tempo você voltou?

Hesito por um instante e troco um olhar com Tony. Decido não mentir.

— Mais ou menos... duas semanas.

— Duas semanas?! Uau! Nossa! — Amelia fica ainda mais estarrecida. — E você demorou duas semanas para procurar o seu melhor amigo?

Ela indica Stark, que parece lisonjeado com o título recebido. Aos poucos, Amelia desmancha o sorriso amarelo que sustentava até então. Logo, sua expressão se torna dura e incrédula. Antes que eu consiga dizer qualquer coisa, deduz:

A Bela, o Outro Cara & EuWhere stories live. Discover now