Algo não faz sentido

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Não consigo dormir. Por mais que eu tente me desligar e assim permitir que o sono me encontre, minha mente está em constante alerta, num estado de agitação impossível de controlar.

Ainda não acredito que estive com o General Ross hoje, depois de tantos anos, depois de tudo. Mesmo que não tenha sido pessoalmente, e sim por meio de uma videoconferência.

Ele estava lá, espectral, como um fantasma me assombrando, um holograma no meio da sala de reunião da Torre, diante de mim e dos outros Vingadores. E, apesar da tensão do reencontro, o resto foi estranhamente... normal.

Isso é uma das coisas que está me tirando o sono agora. Ross se comportou de maneira normal comigo. Ou pelo menos bem razoável, tendo em vista nosso passado tumultuoso e o presente ditado pelo seu misterioso plano de vingança.

Ele me tratou exatamente como se dirigiu aos outros, apenas como o seco e firme Secretário de Segurança Nacional. Alguém que está indignado pelo fiasco da missão Ossos Cruzados e sendo o portador de uma péssima notícia, mas apenas isso. Não me pareceu nada pessoal.

Mesmo quando ele formalizou a péssima notícia para Tony, enviando a este um arquivo intitulado Tratado de Sokovia, não me pareceu parte de um plano maligno para me atingir. Só uma consequência que, no fundo, já estávamos esperando depois da vasta cobertura na mídia sobre os efeitos colaterais de nossas ações pelo mundo.

O acordo é uma reação da ONU em conjunto com diversos países, incluindo os Estados Unidos. E não se dirige apenas ao Hulk, mas a todos os Vingadores.

Eu não consigo entender se Ross está se aproveitando da situação, se é muito dissimulado para isso ou se Kurt Lockwood mentiu sobre o homem que o contratou para me rastrear. Só sei que algo não faz sentido nessa história. E me irrita não saber o quê.

Volto ao passado, tentando entender o presente...

Antes de hoje, a última vez que nos vimos foi durante a batalha contra o Abominável, no Harlem, há muitos anos. Um pouco antes, Ross vinha me perseguindo de forma implacável com o intuito de me capturar, dissecar, usar como arma e possivelmente recriar o soro do supersoldado usando a radiação Gama presente em cada molécula do meu corpo.

Ao mesmo tempo, queria se vingar pessoalmente já que, durante a explosão de radiação Gama que deu origem ao Hulk, Betty ficou gravemente ferida. Quando ela se recuperou e descobriu que o pai me mandou embora, cortou relações com ele por um bom tempo.

Apesar do passado conturbado, uma parte de mim acreditava que havíamos superado nossas diferenças naquela noite no Harlem. Porque, no fim, o Hulk lutou contra o Abominável, venceu e Ross nunca mais me importunou.

Achei que tínhamos um acordo silencioso, uma espécie de trégua, pois derrotei o segundo monstro criado por ele, que Ross não pôde controlar por si mesmo. Naquela noite, eu salvei a vida do desgraçado, além de Betty. Nem mesmo um homem como ele poderia ignorar que estava em dívida comigo.

Então, há poucos dias, o ex-namorado de Amelia contou que Ross o incumbiu de hacker meu celular. Eu e a S.H.I.E.L.D. deduzimos que foi Ross quem plantou aquelas bombas em Nova York e o gás venenoso para me atingir. A trégua entre nós não existia afinal.

Só que agora, depois de revê-lo... Não sei, não tenho mais tanta certeza de que estamos no caminho certo. Talvez Ross não seja dissimulado, talvez não esteja se aproveitando da situação, talvez ele... não seja o inimigo que está me caçando.

Ou, o mais provável, talvez eu esteja sendo muito ingênuo e ele seja sim pior do que imaginei.

O ruído da maçaneta girando me desperta desses pensamentos.

A Bela, o Outro Cara & EuWhere stories live. Discover now