O ÚLTIMO E-MAIL

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Congelado feito um frango resfriado estava eu sentado em frente a meu computador de última geração, minha única exigência de salário abastado, junto a um Dr. Herman de olhar compadecido.

Li cada linha daquele resultado novamente como se gritassem comigo, como se me culpassem por não as ter lido anteriormente. Li com angustia, com medo, arrasado, frágil pelo momento.

Jullieta não estava curada, minha amada enfrentaria mais uma batalha, pior, já havia enfrentado, estava enfrentando ou... O ultimo pensamento espantei como quem espanta uma mosca enxerida.

Havia meses que não mais nos vimos, e pelo que o resultado do exame indicava seria uma luta séria e perigosa, com riscos gigantes, enormes, medonhos, talvez fatídicos.

Só após me refazer do baque percebi que aquele e-mail havia sido encaminhado a seu irmão. Talvez Jullieta naquele momento achou melhor pedir ajuda a alguém que julgava não atrapalhar os planos no momento. Talvez sua euforia fosse de procurar abrigo onde na sua concepção não poderia mais me atrapalhar, ou mamãe, ou a todos nós.

Me senti tão pequeno, inútil. Não a ponto de não compreender as reais intenções de minha desprendida amada. Não me achava inútil, ela estava se sentindo assim, mas apenas gostaria de arrancar como uma erva daninha uma lembrança que me remetesse a algum dia que houvesse dado a entender que me atrapalhava. Não sei. Mulheres são seres de imaginação fértil. Talvez tivesse imaginado algum dia que poderia viver melhor sem seu perfume amadeirado com leves toques de café, encaferado diria se não soasse tão infantil.

No momento minha única urgência seria reencontrar minha amada. Com um sorriso bobo me lembrei que gente de televisão encontra pessoas como quem encontra uma agulha no palheiro, me lembrei de um produtor que após o ter ajudado com um problema de espaço em seu palco me disse dever uma. Sim, iria cobrar porque sou literal, não me diz nada que acredito, e me recordo, e cobro.

Pelo endereço de e-mail conseguiram rastrear de onde seu irmão se comunicou pela última vez, ainda era tempo das últimas Lan houses da vida e descobriram onde morava através de informações de pessoas aos arredores que o via frequentar o local.

Agora era comigo. Agradeci ao Produtor como quem agradece a um salva vidas. De olho no meu desespero me concedeu mais uns quinze dias de recesso. Havia ajudado muito a emissora com minhas ideias, havia feito um ótimo trabalho, como um bom homem ao contrário do que muitos dizem sobre artistas, me permitiu cuidar de minha doce e bravinha Jullieta.

Apertar aquela campainha foi a coisa mais difícil que fiz desde que apertei a campainha da casa dos pais da minha guaranazinha aguada, mas precisa ser firme e forte.

Não sabia o que encontraria do outro lado, não sei como estaria após meses a fio de um mais agressivo tratamento, mas queria crer que estava do outro lado daquela porta, não suportaria a vida se não estivesse.

Me preparei para apertar a campainha com dedo tão esticado que parecia que iria lançar um feitiço em um sapo asqueroso. Não foi preciso, alguém abriu a porta.

PARA SEMPRE JULLIETAWhere stories live. Discover now