5. as horas que se passam

111 19 0
                                    

Aquilo permaneceu o dia inteiro.

Quando não era Yeojin quem parecia amarga e melancólica, eu fazia esse papel, cobrindo toda a minha cabeça com ideias absurdas e deixando meu coração extremamente preocupado. Nada me fazia mudar de opinião após ter visto aquela cena. Hyunjin precisava ajuda.

Eu queria ajudá-la, mas ver uma cena de briga igual aquela de ontem não era o suficiente para uma denúncia anônima. Elas podiam mentir, dizer que estava tudo bem. Os policiais desistiriam de investir e algo muito pior poderia acontecer. Eu não conhecia a mãe de Hyunjin, mas pelo o que eu havia percebido naquela tarde, não era muito bom mexer com seu psicológico.

Acabava pensando no sofrimento da garota por qual me apaixonei. Como ela conseguia viver debaixo daquele teto? Esconder tudo com facilidade e agir com os outros de forma delicada e gentil? Isso afeta muito a mente de alguém, e esconder suas angústias piora tudo. Desesperada, eu queria sair pela porta da frente e correr para salvá-la das garras daquele monstro maligno, e dar todos os bens mais preciosos do mundo como recompensa por ter sido forte e corajosa durante tanto tempo.

Saberá quanto tempo ela não aguenta essas brigas? Será que o pai dela sabe e contribui para os castigos? Ou não? Ela teria um pai? Será que não era apenas sua madrastra? Impossível, as feições eram idênticas com as de Hyunjin. Eram milhares de perguntas explodindo aqui e ali, e isso chegou a preocupar minha família.

— Heejin, você não tocou uma vez sequer no macarrão. — Constatou minha mãe, acariciando minhas bochechas arredondadas. — Me diga, o que está acontecendo?

— Estou pensando, mãe. — Respondi, e para calá-la, comecei a devorar o prato de macarrão com molho branco.

Yeojin entreolhou-me, cruzando os braços sobre a mesa e respirando fundo. Naquela visão, muitos a confundiriam com uma criança, por ainda ser muito pequena comparada à nossa mesa de jantar.

— Mamãe, tenho uma pergunta. — Mamãe desviou finalmente o olhar em mim. Muito obrigada, Yeojin. — Hoje, a Jiwoo, minha amiga, me convidou para passear com ela na praça. Posso ir?

Mamãe fez uma cara de desconfiada, dando uma garfada cheia na comida. Ficou alguns segundos assim, até me olhar de soslaio, e seus olhos se arregalarem. Sabíamos que aquele sinal era de que ela tinha tido uma ideia.

— Sua irmã pode ir junto? — Levantei a cabeça na hora, os pedaços de macarrão caindo da minha boca.

— Quê?

— Pode sim, mãe. — Yeojin sorriu, pegando seu copo de suco e bebendo com gosto. Eu poderia ter ficado agradecida por ela ter tirado a atenção de mamãe em mim por alguns segundos, mas passar uma tarde inteira com ela e Jiwoo, não estavam nos meus planos e meu desânimo só aumentava gradativamente.

— Ouviu, Heejin? Acompanhe sua irmã hoje de tarde, que eu vou sair para resolver algumas coisas da festa de aniversário da senhora Son. — Levantou o queixo decidida, e silenciosamente, terminei meu macarrão.

Na hora de sair, Yeojin bateu na minha porta fortemente, pedindo para que eu me arrumasse logo. Irritada, tive de pausar o capítulo de "Sherlock" para atendê-la. Yeojin estava usando uma camiseta florida, short preto, e tênis all star amarelo. Parecia uma princesinha dos contos modernos. Ri internamente com esse comentário.

— Qual é, Heejin! Você prometeu!

— Prometi coisíssima nenhuma. A mamãe foi quem me mandou eu te acompanhar. — Argumentei, cruzando os braços.

— Então, você deveria obedecê-la e sair de casa!

— Mas ela não precisa saber disso. — Falei, sentando na minha cama e pegando o controle da televisão.

Yeojin ficou de boca aberta, e por alguns segundos, permaneceu parada na entrada do meu quarto. Quando fui encará-la, murmurei um "vá embora", e eu acho que ela entendeu direitinho a mensagem, saindo apressadamente e fechando a porta da frente com força total.

Demorou alguns minutos para a ficha cair e eu perceber o quão estúpida eu tinha sido com a minha irmã, só porque minha mente estava em um turbilhão de pensamentos. Me perguntei o quanto meus sentimentos internos afetam a vida das outras pessoas, e ao chegar em um resultado, me afundei profundamente na maratona. Já bastavam os problemas de Hyunjin para racionar e chegar em uma conclusão. Eu não precisava encarar uma crise existencial sozinha dentro da minha própria casa agora.

><><><

Acabou que foi uma péssima decisão.

Já eram oito horas da noite, e Yeojin ainda não tinha chegado em casa. Ela prometera que iria passar a tarde, mas não incluira a noite também! E mamãe chegaria daqui a pouco, carregando milhares de pacotes nos braços e o a notícia de uma filha desaparecida.

"Por que eu tinha de ser tão estúpida?" Me questionei, caminhando para lá e para cá pela sala de estar, aguardando a chegada de uma garotinha que recém saira da puberdade e uma lasanha se esquentando no microondas.

A campainha tocou. Corri desesperada em direção à porta da frente, e meu coração deu um salto. Abri a porta e agarrei Yeojin com todas as minhas forças, só largando-a daquele abraço aperto ao ouvir o sino do microondas apitar da cozinha.

— Meu deus, Yeojin. Por onde você andou? — Perguntei. Preparei a mesa de jantar organizadamente, enquanto Yeojin se sentava no sofá e me observava de cabeça baixa.

— Eu... Eu estava com a Jiwoo. — Respondeu. — Fomos ao cinema, por isso demoramos tanto.

Olhei para ela, que me encarou nos olhos. Por segundos, não pude decifrar se o que dizia era verdade ou não, então deixei a fome falar mais algo. Convidei-a para jantar, e esperamos juntas mamãe voltar assistindo algum reality show de sobrevivência na televisão.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin