MARLENE MCKINNON

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Meus ombros se aliviaram assim que ele caiu na cama, deu para saber que a cama era dele pelos posters de Quadribol. Olhei em volta, já estive no dormitório dos meninos diversas vezes antes, ao lado da cama de James, havia uma outra que eu conhecia perfeitamente. Estava bagunçada como sempre, de repente me vi tentada a me sentar nela, a tocar aqueles cobertores que inúmeras vezes me esquentaram, me cobriram junto com os braços dele em volta do meu corpo.  James murmurou alguma coisa se mexendo. Me inclinei na cama dele  colocando a mão em sua testa, coitado! O idiota não aguentou ver Lily com Ludo e enfiou a cara no Whisky, eu também não deveria ter deixado ele chegar ao extremo, mas até mesmo bêbado ele é divertido e engraçado, claro que fica mais arrogante e exibido, algumas garotas fizeram uma voltinha ao redor dele para vê-lo executar o patrono, era extraordinário que um aluno da nossa idade pudesse produzir um patrono corpóreo e mais extraordinário ainda que James Potter fosse capaz, sempre achei ele burro e medíocre, mas parece que ele é realmente inteligente para matérias, mas burro o bastante para azarar Ludo e fazer crescer espinhas na cara dele bem em frente a Lily. Não sei se ela desconfiou que foi ele, mas dei boas risadas essa noite.
-O que você está fazendo aqui? - me levantei assustada, Sirius estava parado a porta, as sobrancelhas juntas. 
-Eu vim... - Comecei a gaguejar como se tivesse sido pega roubando alguma coisa – James precisou ser carregado até aqui porque... 
-Ele está bem? - Ele adentrou o quarto preocupado encarando o amigo que resmungou alguma coisa enquanto estava entre algum lugar entre o sonho e a vida real.
-Está, está, apenas um pouco bêbado, mas bem. - Falei me colocando ao lado da cama. Sirius ajeitou o amigo, mas ainda parecia irritado com alguma coisa. - Estávamos no três vassouras e então ele acabou exagerando.
Os olhos escuros pararam sobre mim.
-No três vassouras? O que estavam fazendo lá? - Ele quis saber numa mistura de preocupação e curiosidade. - Estavam só vocês?
-Bom, sim nós fomos para lá depois do treino de Quadribol...
Ele soltou uma risada engasgada.
-Ah agora vocês comemoram o treino de Quadribol? - Jogou o cabelo para trás - Não sabia que eram amigos próximos.
Eu fiquei estática por alguns segundos. 
-Estávamos apenas...
-Eu não quero saber o que vocês estavam fazendo! - A voz dele soou surpreendentemente alta, eu me afastei por impulso e James resmungou alguma coisa. Ok, tudo bem sentir compaixão por ele, mas nada justificava ele começar a querer gritar comigo por nada.
-ÓTIMO, PORQUE NÃO É DA SUA CONTA! - Respondi no mesmo tom de voz.
-Saia do meu quarto, Mckinnon! - dessa vez a voz não estava alta, mas fria.
Estava acostumada com os apelidos idiotas, mas ele dizer meu sobrenome daquele jeito fez meu coração bater mais forte. A forma como ele me olhou me deixou mal, realmente mal, fiquei imaginando que se Sirius optasse por ser um Comensal... Se Sirius fosse convencido, aqueles olhos seriam testemunhas de milhares de atrocidades. Passei por ele deixando-o a só com James, confusa e perdida em meus pensamentos fui para o dormitório e fiquei deitada em minha cama encarando o teto. Meus pensamentos foram interrompidos por Lily que se jogou na cama ao meu lado.
-Acabei de deixar a enfermaria, Madame Promfey disse que Ludo com certeza foi alvo de alguma azaração. E eu imagino quem foi. - Ela resmungou ao meu lado, mas eu mantive os olhos no teto. - Aliás, era obvio, não é, que ele fosse aprontar alguma coisa? Não é o bastante ficar se exibindo para todos no três vassouras...
Eu me virei para ela.
-Você está falando sobre James? - Perguntei.
-Sim! Você viu como Amber Quinn estava próxima dele, achei que ela fosse beijá-lo ali mesmo! Ah, mas claro que você reparou, quero dizer, você estava do outro lado.
Ela torceu o nariz e fingiu abrir um livro para simplesmente não me encarar. 
-O que você quer dizer, Lily?
-Não sabia o quanto você e o Potter eram amigos. - Ela disse erguendo as sobrancelhas ainda não me encarando. - Vocês estavam tão próximos lá...
-Achei que você estava interessada demais nas piadas do Ludo para reparar no que James estava fazendo. - Respondi áspera, era só o que me faltava, além de ouvir Black eu teria que ouvir as alfinetadas de Lílian!
-James?! - Ela finalmente ergueu os olhos para mim – Desde quando você o chama de James? Além do mais, dois dias atrás quem o odiava era você.
-Eu nunca o odiei de verdade, acho ele e o Black dois arrogantes, mas você está tão preocupada e enciumada com o fato de eu estar perto dele que não consegue parar para me perguntar o porquê.
Ela levantou da cama e fechou o livro com força.
-Enciumada? - Gritou – Ora, e por Merlim, porque eu teria ciúmes do Potter?
-Porque você é apaixonada por ele, Lílian! - Gritei de volta, ela me fuzilou com os olhos. - Você tem tanto medo que ele faça com você o mesmo que Sirius fez comigo, que prefere ficar o maltratando.
As bochechas ficaram vermelhas e os olhos verdes escureceram de raiva.
-O que você está dizendo? Céus, Marlene. – Ela quase não tinha argumentos.
-É verdade! Você tem medo de que James te machuque da mesma forma que Sirius fez comigo, pois bem, James não é como Sirius.
-Ah, você deve saber bem já que são grandes amigos agora. – Ela soou sarcástica e eu bufei, não estava a fim de me controlar  muito pelo contrário. Pelo visto era o dia de irritar Marlene em Hogwarts.
-Admita que você gosta daquele idiota ao invés de ficar enchendo o meu saco! – Cuspi as palavras na cara dela, que ficou parada me encarando perplexa.
-Eu não sou apaixonada por um idiota que coloca os outros presos em arvores! E além do mais, estou namorando o Ludo. 
Eu parei de falar alguns segundos frente aquela revelação. Ela estava vermelha e eu tenho certeza de que eu também estava, os meus lábios tremiam. Ela só podia estar brincando.
-Mentirosa - Falei, mas me arrependi no minuto seguinte pela expressão dela. 
-Seis anos de amizade, e pela primeira vez você não acredita em mim, suponho que seja resultado de sua nova amizade com o Potter, não?
-Claro que não, Lily. - Tentei rapidamente consertar meu erro me aproximando, mas ela deu um passo para trás. Estava chateada, eu estava chateada por ter dito aquilo. - É só que há algumas coisas que... 
-Eu não quero saber – Respondeu ríspida me interrompendo. - Faça o que você quiser, com quem você quiser.
Ela se jogou na cama novamente fechando a cortina, eu sabia que tentar falar com ela seria inútil até porque eu estava tão irritada que poderia acabar falando mais alguma besteira. Às vezes eu esquecia que Lily é feita de gentileza, que é diferente de mim que sou grossa e então eu explodo e falo o que não devo, mas dessa vez acho que falei mais do que deveria com a pessoa errada. Me retirei do quarto afim de dar mais privacidade a ela e ficar sozinha, mas no meio do caminho me lembrei que Sirius e eu tínhamos que continuar com o trabalho de poções. Eu não tinha ideia se queria fazer isso essa noite porque não queria olhar na cara dele, mas pensei o quanto ficaríamos atrasados se não continuássemos. Ainda faltava meia hora para ir até a biblioteca, bom, eu iria e se ele não aparecesse eu continuaria sozinha com o trabalho. A sala comunal começou a ficar cheia, alguns garotos do primeiro ano começaram a fazer muito barulho e então resolvi descer para a biblioteca mais cedo o que foi muito bom pois encontrei Diggory lendo um livro, me aproximei por trás da poltrona dele e tapei seus olhos.
-Com mãos tão macias, só posso imaginar que seja a professora Minerva. – ele disse engasgando-se em uma risada, eu gargalhei denunciando-me. Ao menos ele me fazia se sentir melhor. – Ah, Lene, desculpa eu fiquei realmente decepcionado!
Nós dois rimos.
-Muito engraçado! O que você está lendo? – perguntei pegando o livro de sua mão. O encarei novamente, surpresa, ele mantinha um sorriso calmo no rosto – Jane Eyre!
Ele assentiu com um balanço de cabeça.
-Você é...
-Minha mãe se chama Mafalda Rosenberg e meu Pai Daniel Diggory! Ele é um trouxa, minha mãe o conheceu em Liverpool.
Eu me senti felicíssima ao saber que ele era como eu, como Lily. Obviamente que Hogwarts era cheio de alunos mestiços, mas na maioria, eram puros sangues e saber que Amos Diggory também era mestiço me deixou mais atraída ainda por ele.
-Isso é fantástico! – Me sentei ao lado dele – Além do fato de eu amar Jane Eyre! É um dos meus livros favoritos.
Ele sorriu e eu me derreti toda, estávamos sentados em uma poltrona no canto da biblioteca, era o meu favorito porque podíamos fazer qualquer coisa sem que ninguém soubesse e por isso me sentei no braço da poltrona ainda com o livro em minha mão.
-Sério? – ele deu uma risada – isso é uma pena porque eu estava achando realmente entediante.
Eu me senti ofendida.
-Entediante? Jane Eyre é uma personagem forte, inteligente...
-Totalmente sem graça. – Me interrompeu, dei risada e acertei ele com o livro de leve. – Prefiro alguém como você.
Seus olhos azuis se sustentaram em mim por alguns momentos e meu sorriso congelou na minha cara. Estávamos próximos, quero dizer, centímetros de distância, tão próximo que eu podia... podia... PAM!
Eu dei um pulo da poltrona.
-O que foi isso? – Ouvi Pince gritar e chegar perto da gente – Você derrubou a estante?
-Eu não a vi aí. – Sirius respondeu, mas os olhos deles estavam sobre mim. Uma pequena estante havia caído e espalhado os livros no chão, não parecia uma estante que caía simplesmente com alguém esbarrando nela. Madame Pince balançou a cabeça e com uma sacudida na varinha a estante e seus livros começaram a voltar para o seu devido lugar. Ela fuzilou Sirius com os olhos e saiu batendo o pé, voltando para a sua mesinha. Sirius continuou parado de braços cruzados me encarando.
-Vim para o trabalho de poções. – disse friamente. Olhei para Amos que permanecia sentado, percebi que estava respirando mais rápido do que eu deveria.
-Claro, certamente... Amos, com licença. – falei me afastando, Sirius e eu nos sentamos do outro lado, em uma mesa pequena, ele continuava sério me encarando e aquilo era extremamente irritante. - Você quer parar de me olhar assim? Se vai ficar bravo por causa da discussão...
-Discussão? – pareceu perdido.
-No dormitório.
-Não estou bravo por discussão alguma, achei que você estivesse me esperando para o trabalho e não contava com a ideia de surpreender você e Amos Diggory aos beijos.
A voz dele, a expressão dele era de quem queria vomitar.
-Eu beijo quem eu quiser! – afirmei
sentindo meu rosto queimar.
-Não quando você vai se casar comigo. – Respondeu arrogante, eu gargalhei alto recebendo um longo "psiu" de madame Pince.
-E quando vai ser isso, presumo que hoje a noite quando você estiver sonhando? – ele deu uma risadinha de lado e a voz de James ecoou na minha cabeça. Ele estava apenas tentando disfarçar a raiva e ciúmes sendo sarcástico e arrogante. Ok, mantenha a paciência Marlene! – Vamos começar logo com isso, ok?
Eu peguei um pequeno caldeirão e um dos livros que continha a receita. Percebendo que a biblioteca não seria o lugar ideal para preparar a poção tivemos que sair e ir para outro lugar, acabamos no banheiro feminino no quarto andar que estava interditado acho que a anos. Uma fumaça esbranquiçada saia do pequeno caldeirão enquanto eu movimentava a pequena colher, ao mesmo tempo, ele lia as instruções para mim.
-Ao final despeje um pouco de pó perolado. Deixe cozinhar por algumas horas até que o líquido também fique totalmente perolado. – Ele disse lendo as instruções com um bocejo, como se estivesse realmente entediado de estar ali. – Isso pode levar até vinte e quatro horas.
Ergui os olhos para ele.
-Vinte e quatro horas? Não vamos terminar isso nunca. – Resmungou.
-Ainda bem que temos mais dois dias – Respondi ainda mexendo o líquido. Ele sorriu de canto novamente jogando o cabelo para trás enquanto fechava o livro.
-Graças a mim e a minha habilidade em poções.
Não pude contestar, se dependêssemos dos livros somente talvez levaríamos mais tempo para preparar a poção. Ficamos em silencio alguns minutos enquanto eu mexia o líquido no Caldeirão fumengante.
-Marls, desculpe ter gritado com você é que, nunca vi você e James tão próximos. – Ele parecia realmente sentido ao me pedir desculpas, o encarei por trás da fumaça que subia entre nós graças a poção. Automaticamente, o imaginei sendo expulso de casa pelos pais.
-Está tudo bem, Sirius. – Disse.
-Sirius? O que aconteceu com o "Black!"? – Tentou soar como eu.
-Você vai ficar reclamando?
Ele gargalhou.
-Além do mais, é bom você se acostumar pois escrevi aos meus pais para você poder passar o natal lá em casa.
Falei mais rápido que pude para que a frase não morresse na minha garganta, ele que acabara de bocejar novamente me encarou perplexo. Se ajeitou no chão em que estava quase se deitando.
-Por quê?
-Bom... achei que você iria querer conhecer um pouco o mundo trouxa, só isso. – Falei e achei que iria convencê-lo, mas os olhos permaneceram em mim, como se lesse cada linha de expressão de meu rosto.
-O que o James te disse? – Eu ergui a cabeça assustada, engoli em seco. Droga, droga, droga!
-Nada, ele não me disse nada. Acho que finalizamos aqui.
Eu ia me levantar, mas ele segurou levemente meu punho.
-O que James te disse? – Insistiu, não adiantava mentir, não adiantava pensar na melhor resposta. Ele sabia.
Suspirei fundo sabendo que estava cometendo um erro, mas não iria poder mentir para ele.
-Ele me contou que você está morando na casa dele por um tempo – tentei amenizar a história – Só isso. Ele balançou a cabeça visivelmente puto soltando meu punho.
-Por que ele não fica com a língua dentro da boca?! – Disse mais para si mesmo do que para mim. Eu ia responder, tentar amenizar a situação, mas ele simplesmente se levantou saindo do banheiro com passos firmes, o cabelo balançando, e eu sabia que ele iria matar James Potter.

Hogwarts, 1978. ( CONCLUÍDA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora