[2] - Sirius

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6 anos depois

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6 anos depois

Eis uma verdade: nunca consegui esquecer realmente o que se passou no dia que não deve ser nomeado, mas as recordações já não me assombram tão frequentemente como antes.

Edward aka Benny, realmente tentou fazer todos os possíveis para levar as coisas com normalidade, mas era impossível esconder a tristeza profunda que eu sentia. De tudo o que eu
tinha planeado na minha cabeça, nunca sequer pus a hipótese de ser rejeitada. Bem, olhando para trás, neste momento, era bastante previsível. 

Eu, Julian e Edward continuamos amigos, mas, eventualmente Benny acabou por se afastar um pouco à medida que foi conhecendo novas pessoas. Manteve-se, contudo, fiel à velha tradição dos encontros ao sábado (sempre que possível) para maratonar séries, debater teorias da conspiração ou simplesmente para matar saudades.

Mas não estou a reclamar: eu realmente gosto muito de Edward e ele continua a ser o meu melhor amigo, tal como Julian, portanto, todo o tempo que passo junto dele é sempre bem apreciado.

Bom, pelo lado positivo, o meu primeiro (e único) desgosto amoroso fez com que conhecesse Sirius: o meu Golden Retriever e o meu mais que tudo. Aliando o meu desejo intenso de ter um amigo de quatro patas, a minha tristeza e o facto de o meu aniversário ter sido exatamente 10 dias depois do Incidente, os meus pais viram em Sirius uma forma de me alegrar. Resultou e,
passados 6 anos, ainda resulta.

À medida que o tempo foi passando e Benny se foi afastando de mim e Julian, acabei por encontrar conforto nos livros (algo que se veio a revelar uma verdadeira paixão) e na cozinha,
especialmente no preparação de doces. 

- Outra vez a ler Misery? - questiona Julian, enquanto se atira para o lado vazio da minha cama. 

- Sim! Estou na parte em que Annie esmigalha as rótulas de Paul e o obriga a tomar o comprimido para as dores, com a água suja de detergente e vómito! - exclamo com um sorriso e
deito a língua de fora pela cara de repugnação que recebi.

- Tu és chata e nojenta!

- Mas tu adoras-me.

- Nope! Adorar, adoro o Sirius. - diz, quando este salta para cima dele. - A ti, no máximo, só te suporto.

- Hum, hum.

Paro a minha leitura, acabando por deixar o livro na escrivaninha perto da cama e deito a minha cabeça no seu peito, enquanto ele me mexe no cabelo. Sinto-o tenso e o meu coração aperta-se.

- Como é que estás? - pergunto, enquanto mexo nas correntes da sua casaca preta de cabedal.

- Estou bem. - sei que é mentira, mas já o conheço suficientemente bem para saber que apenas não quer falar sobre o assunto. - Então e tu? Ansiosa para a chegada do teu Romeu?

- Tu és impossível! - exclamo, emburrada, saindo de cima do seu peito. Todos os sábados, antes de Edward chegar, Julian gosta de troçar sobre o Incidente e eu, pessoa introvertida e altamente envergonhada, fico sem jeito de todas as vezes. - Nunca vais esquecer isso? Ele é o meu amigo, tal como tu.

- Eu sei, estou só a brincar. Mas ficas super fofinha quanto estás chateada! - ri, tentando ajeitar os meus caracóis completamente emaranhados.

- De que é que estás rir? - ouço uma voz familiar a entrar no quarto e sei, pela agitação de Sirius, que Edward chegou.

- De como a Grace fica um amor quando está chateada! - gargalha Julian novamente, fazendo com que eu fique com uma carranca ainda maior.

- É verdade, dá vontade de guardar numa caixinha. - concorda, dando-me em seguida um beijo na testa. - E quem é o menino mais lindo do pai? - vira-se para Sirius, que não para de abanar a cauda.

Pequeno detalhe, Edward ficou cem vezes mais gato do que já era. Os seus olhos verdes destroem todos os corações por onde passam, e o seu corpo faz qualquer um suspirar. Para além disso, tem umas mãos incríveis e um jeito nato para lidar com qualquer coisa, pessoa ou animal. Qual é? Deus, podias ter sido um pouco mais brando! A coisa boa é que o tempo ajudou-me a perceber que o que eu sentia por ele não era realmente amor: todos as sensações que ele me provocava no passado, permanecem inalteradas no presente. Todos os formigamentos, as voltas na barriga, a sua capacidade de me fazer corar. Exatamente como Julian: tudo o que Julian me faz sentir hoje em dia corresponde ao que me fazia sentir no passado (com umas poucas discussões que hoje em dia me tiram do sério). Acho que o que muda é a maneira como reajo a ambos, o que não quer necessariamente dizer que seja amor. 

- Desculpa, não consegui ir ao debate que organizaste sobre aqueles animais todos estranhos, por causa dos ensaios com a banda! Tem sido uma correria. - diz, com um pesar genuíno que me
aquece o peito e as bochechas. Ainda que cheio de planos e pessoas e ensaios e todas as coisas que alguém com a sua popularidade tem, ele ainda dispõe do seu tempo para se importar comigo. - Mas quero saber de tudo! És muito estranha, mas eu adoro-te na mesma e vamos ultrapassar este problema juntos!

- Idiota! - resmungo com um sorriso perante a sua brincadeira, com o coração a palpitar!

- Olha a baba, Julieta! - diz, Julian, entre tossidelas.

Merda!


graceWhere stories live. Discover now