Banheiro

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Estou sentado no banheiro... Faz alguns vários minutos que estou olhando para a parede, pensando nos acontecimentos da minha vida até então. Meu cigarro, está quase terminando, indicando que o meu tempo de permanecer ali estava acabando. Deixo as cinzas caírem na pia e deslizarem até o ralo.

Meu coração ainda está acelerado e me falta o ar. Tento perceber como meu corpo reage aos pensamentos de uma madrugada fria, tento não perceber o mundo ao meu redor, desconectei da realidade ao som de musicas que me lembram do passado que ecoam pelo apartamento sujo e bagunçado.

Olho para os azulejos na minha frente, mas não estou mais ali, minha mente divaga por entre pensamentos cada vez mais profundos sobre mim. A música que toca no celular me faz experimentar uma série de sentimentos diversos e difusos, passo em poucos instantes da minha infância traumática, até os mais recentes acontecimentos em minha vida: a culpa, o ódio, desesperança, ao mesmo tempo os guitarras e a voz melodiosa na musica me fazem sentir em um oceano, um planeta inteiro feito de água e ondas gigantes, nuvens tempestuosas, mas sou Rei, flutuo pelas águas como flutuo por entre pensamentos, sigo o ritmo da musica, navego por sentimentos que aceleram ainda mais meu coração. Estou perdido? Ou apenas navegando em lembranças? Memórias supostamente foram feitas para serem tão dolorosas? Será que é assim com todos? Não sei... Será que sou diferente? Provavelmente não, deve ser algum mal de ser o que somos. Humanos.

Sofremos por expectativas, sofremos por sofrer, sofremos apenas por viver, buscamos formas de esconder e mascarar nossas dores. Buscamos esperanças em atos, palavras, pessoas, mas a verdade é que sofremos e buscamos a todo instante tirar este sofrimento de dentro de nós... Lembranças me fazem sofrer, mas me fazem navegar por ambientes nunca antes navegados, memórias que são minhas e ao mesmo tempo não são de ninguém, pois nem ao menos vivi o que imagino...

Estou sentado ainda no banheiro, aos poucos sinto meu corpo voltar, pisco os olhos e me deparo com a realidade, forte, pesada como mil toneladas sobre meu corpo, sufocando minha alma que desejaria estar mergulhando entre ondas gigantes, surfando na voz de sereias que cantam sobre mim, me chamam para as ondas nada encantadoras de um mundo em tempestade. Meu mundo, minha mente, minha cabeça, eu sei. Mas de quem é então a voz?

Por fim saio do banheiro, o cigarro apagado sobre a pia de porcelana azul, a musica trocou para outra do mesmo autor, mas não tão emocionante quanto a ultima, naveguei pela duração de uma musica, o suficiente para meu coração ter acelerado ao som da minha ansiedade, ter sentido vontade de gritar, dançar, ser livre... Me sentir livre de que mesmo? De mim mesmo apenas, pois de todo resto afastei-me. Porém sou perpétuo para mim mesmo, sou meu próprio inicio, meio e fim...

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⏰ Last updated: Feb 04, 2021 ⏰

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O Livro das Memórias RubrasWhere stories live. Discover now