Água

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j i m i n

E, de repente, o humor do ambiente mudava. Algo que Taehyung não compreendeu de primeira, mas os outros dois presentes entendiam muito bem quando trocaram olhares entre si. Com a pouca capacidade de pensar que ainda o restava, o psicólogo cortou da lista de vítimas quem já havia sido citado até ali e parou no último nome.

– Park Jimin. – Taehyung balbuciou após uma tosse doída, erguendo a cabeça para poder olhar o paciente nos olhos. – Você me disse o nome dele antes mesmo de ter sua memória de volta. Por que?

Seokjin respirou fundo, olhando para os próprios pés com uma expressão que raramente era vista em seu rosto. Para Taehyung, era a primeira vez que presenciava depois de saber toda a verdade. Ele parecia triste. Diferente de Namjoon, este notavelmente sentia algum tipo de raiva.

O garoto passou mais um tempo em silêncio, sentindo em seu peito um aperto que não lembrava, que não lhe era natural. Até o momento tudo o que havia sido trazido de volta para sua memória não carregava um peso emocional muito especial – no máximo o fazia relembrar sensações prazerosas e doentias, além da diversão –. Isso tudo não era difícil de digerir, sentia-se contando histórias engraçadas em uma roda de amigos. Mas aquele nome, aquela pessoa... lembrava-se bem do porquê a sessão de hipnose a qual o mencionou fora tão dolorosa para si.

Foi necessário engolir seco um choro. Mesmo que Namjoon ou Taehyung não pudessem perceber por trás da expressão vazia, havia enorme desconforto e melancolia ardendo por dentro do jovem.

– Essa é mesmo necessária? – Namjoon sussurrou.

– É óbvio. É uma história interessante... – Seokjin o interrompeu imediatamente, após perceber que o silêncio perdurava por muito tempo. – Apesar de ser a mais difícil de organizar nas minhas lembranças. Imagino que tenha tido um esforço extra para apaga-la de mim, não é, amor? – De forma sarcástica, olhou para o mais alto por cima do ombro, este que agora sentia-se como culpado. – Dessa vez o melhor não ficou para o final, Tae. Mas não poderia faltar.

Na mais profunda sinceridade, queria poder pular aquela parte. Mas o custo disso seria parecer frágil, e isso não aceitaria.

Em tudo, apenas um lado seu era exposto: o assassino. Era chegada a hora de expor o lado ainda mais sombrio para o próprio Seokjin: o lado humano.

Aquele dia em particular havia sido cansativo ao extremo. Sentia a exaustão passando por cada um de seus músculos, ao nível de dar-lhe arrepios. Porém ainda não era o suficiente para fazê-lo ir direto para casa. Seus pensamentos, como de costume, não paravam quietos. Esperava que sujar-se de graxa no calor infernal de uma oficina por 14 horas ao dia, acumulando queimaduras e arranhões, iria ser distração o suficiente. Mas não era. Nem um pouco.

Jimin já dirigia sem rumo por mais tempo que pôde contar, até encontrar a placa de um bar. Nem mesmo sabia que rua ou parte da cidade estava, mas a falta de iluminação ou de algum sinal de vida apontava estar bem longe de casa. Bem como queria. Sua velha e enferrujada picape Chevrolet não chamaria atenção de ninguém, então apenas estacionou em um terreno baldio ao lado. Encheria a cara, não lembraria nem seu próprio nome por algumas horas e saborearia aquele rápido nirvana de mente vazia. Duraria pouco, tinha noção, já que não importava o que fizesse ou pensasse, tudo servia como motivo para estar triste, desanimado e afins. Mas valia a pena tentar.

O bar era um barraco sujo caindo aos pedaços. Os poucos clientes eram indivíduos estranhos sem vida no olhar que pareciam estar ali há dias. Ao menos não precisaria fingir estar tudo bem. Sentou-se em frente ao balcão, mal notando a presença de alguém ao seu lado. Foi servido com uma garrafa de cerveja, que esvaziou pela metade em uma só virada. E só então pôde vislumbrar aquela figura. Tinha quase certeza que aquele garoto era novo demais para estar ali, mas não estava em posição de opinar na vida de ninguém.

Romantic MurdersWhere stories live. Discover now