O FOLHETO

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Os pés de Kim Jongin sempre estão com os calcanhares para fora do tênis, como se os sapatos fossem na verdade sandálias. Naquele momento não seria diferente, e Kyungsoo, com os olhos no chão, repara enquanto engole a seco e prende a respiração ao sentir a perna direita do rapaz encostar nas suas, encaixando-se no meio de seu corpo.

KyungSoo sabe que não deveria levantar o olhar, ao menos não até JongIn segurar seu queixo e o fazer, mas ainda assim, o faz, porque não aguenta mais o sentimento angustiante batendo forte no peito.

E Jongin está perigosamente próximo.

Tudo que Do Kyungsoo quis se perguntar foi: Como diabos acabou naquela situação?

Um mês antes

O lugar preferido da Seoul Foreign School para Kyungsoo sempre foi, e sempre será os bancos logo atrás do campo de futebol. O campo verde e ensolarado era calmo no início da manhã, quando ainda não tinha ninguém além dos funcionários do colégio para enchê-lo o saco.

Lembrava-se de sentar ali desde quando era mais novo, um dos muitos mirradinhos correndo pelo colégio enquanto fugiam de ter que falar inglês com alguém. E, se olhasse com cuidado para uma daquelas árvores com troncos secos logo atrás dos bancos, encontraria, com sorte, seu nome e os dos amigos entalhados na madeira. Ainda hoje gostava de sentar no banco de metal embaixo da sombra das copas rasas das árvores e olhar para o campo, para a estrutura exuberante da escola e então refletia sobre tudo. Sobre o quanto era bom ter conseguido uma bolsa naquela escola ainda quando muito novo e também sobre tudo que conquistou ali dentro.

Aos dezoito anos os momentos de nostalgia começavam a gritar em sua cabeça cada vez mais frequentemente. Kyungsoo sabia que era só porque aquele era o tão sonhado último ano escolar, e que em breve estaria livre de uma vez do inferno do Ensino Médio – preferia ignorar que logo em seguida teria que se jogar diretamente no abismo do submundo ao ingressar em uma faculdade. Era só que estava feliz. Apesar de se considerar uma das pessoas mais azaradas do mundo junto com os irmãos Baudelaire de Desventuras em Série, estava feliz.

Naqueles dias que chegava ainda mais cedo no colégio – morava praticamente do outro lado da cidade, tinha que acordar antes do nascer do Sol para não se atrasar para as aulas, mas reconhecia que às vezes exagerava – gostava de ficar ali sentado no banco ouvindo Khalid no último volume e comendo seu café da manhã – dois onigiris e um suco de caixinha – enquanto esperava os amigos darem o ar da graça.

Era ali que eles se encontravam antes das aulas, e também onde passavam os intervalos. Kyungsoo, Minseok, Jongdae e Baekhyun. Agora apenas os três primeiros, porque Baekhyun se formou no ano anterior, os abandonando com os problemas do colegial nas costas enquanto enfrentava a própria vida adulta. Kyungsoo ainda se lembra de quando não era assim, de quando era apenas ele, e depois Minseok e Jongdae. E Baekhyun por último. Mas aquela parte da vida sem os amigos parecia tão sem graça que não valia a pena relembrar, preferia fingir que os conhecia desde outras vidas.

― Você está me evitando sim – A voz melodiosa de Jongdae pode ser escutada quando a música acaba e há uma leve pausa antes de começar a próxima, Kyungsoo tirou um dos fones levantando o olhar para ver os dois amigos que se aproximavam. – E não adianta negar, você só fala comigo no grupo.

― Bom dia, Soo – Minseok sorriu doce ao sentar ao seu lado.

Jongdae levantou as mãos aos céus, implorando à qualquer entidade espiritual que estivesse o escutando naquele momento, um pouquinho de piedade, só um pouquinho era o que ele precisava. Então sentou-se do lado esquerdo de Kyungsoo, deixando-o no meio dos dois. Kyungsoo balançou a cabeça e endireitou os óculos no rosto.

Boys Love CaféWhere stories live. Discover now