Boys Love Café

O TREINAMENTO

Kim Jongin, no auge dos seus 18 anos acreditava que estava preparado para qualquer cenário pós-apocalíptico que o mundo estivesse disposto a oferecer. Epidemia, invasão alien, apocalipse zumbi, um lugar silencioso. Ele tinha certeza que sairia intacto de qualquer uma dessas possibilidades. Mas nenhum filme ou teste do Buzzfeed o preparou para ver Do Kyungsoo sentado na frente de seu chefe com um contrato em mãos.

Pensou em todas as variáveis tentando entender o que estava acontecendo. Se comeu comida estragada no colégio, ou aquela era uma pegadinha de Joohyun, tentando o ensinar a ser mais "maduro", como ela dizia. Quis acreditar – do fundo do coração – que aquela era só uma alucinação de sua cabeça mesmo, mas aquele projetinho de anticristo continuava sentado ali no meio da bagunça de Park Chanyeol, com as sobrancelhas grossas levantadas como se não estivesse em completo choque também, mas apenas o desafiando.

Não conseguiu respirar tão fundo quanto gostaria para poder repor o ar de seus pulmões depois daquela ceninha ridícula. Mas ajeitou a mochila nas costas e tentou assumir a postura mais soberba possível, olhando Kyungsoo de cima.

— O que está acontecendo aqui? – perguntou cruzando os braços.

Kyungsoo virou-se para Chanyeol, decidido a ignorar – dessa vez de verdade – qualquer palavra que saísse da boca do Kim. Ainda precisava de tempo para raciocinar o que acontecia também. Porque, se fosse sincero, as sobrancelhas levantadas e a cara de durão estavam ali só para disfarçar que o corpo estava tremendo por dentro, pronto para entrar em colapso. De todas as coisas que podiam acontecer, tinha que parar no mesmo lugar que Kim Idiota Jongin?

— Conseguimos substituir o Taemin, foi bem rápido dessa vez, não? – Park respondeu alcançando o contrato assinado por Kyungsoo e balançando o papel no ar, completamente orgulhoso. – Esse é o... – ponderou, juntando as mãos.

— Nos conhecemos – Jongin interrompeu, ainda de braços cruzados. Kyungsoo respirou fundo em sua cadeira.

— Sério? – Chanyeol sorriu abobado olhando de um para o outro – Isso vai tornar as coisas tão mais fáceis! Pedi para o Kyungsoo já começar amanhã, já que você é o mais velho aqui e já conhece ele, pode ser o mentor dele, não?

Kyungsoo jura que se viu puxando o contrato da mão de Chanyeol e o rasgando em vários pedaços, depois juntando o papel e enfiando todo na boca do Kim. Mas invés disso sorriu amarelo, não deixaria Kim Jongin estragar mais uma coisa em sua vida.

Ouviram – calados, acredite – mais instruções do dono do café, ele tirou medidas de Kyungsoo e algumas fotos do garoto com o paletó do café ainda desajustado em seu corpo. Chanyeol parecia não ter notado que a cada vez que repetia "seu mentor" e "vão amar vocês dois juntos" algo na sala morria, que era um pedacinho da alma de cada um.

Nunca tiveram que trabalhar juntos no colégio. Em todos esses anos, mesmo quando os grupos eram sorteados, nunca acabaram tendo que conviver um com o outro mais tempo do que o permitido por suas respectivas sanidades mentais. E nas pouquíssimas peças que participaram juntos, Kyungsoo não tinha lá muitas cenas com o necessitado de atenção, aka Kim Jongin. E de todos os lugares que poderiam acabar juntos – depois de mais de cinco anos estudando na mesma sala – trabalhando num café com temática Boys Love era o mais improvável de todos.

Mas ali estavam eles. Saindo do escritório minúsculo de Park Chanyeol pensando em formas de torturar um ao outro. Foi Jongin que o puxou pelo braço para o lado de fora do café, apesar de não ter feito isso brutalmente, não deu nem tempo de Kyungsoo ver os outros dois rapazes que haviam chegado enquanto estava em sua curta reunião com o novo chefe.

— Você vai me explicar o que está fazendo aqui, Do?

— Eu não tenho absolutamente nada para te explicar, só vim atrás de um emprego – rolou os olhos – Se eu soubesse que você trabalhava aqui nunca nem tinha passado pelo bairro.