Onde tudo começou

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Choi San

Eu estava totalmente dolorido. As chicotadas em meu corpo pareciam não surtir mais efeito por conta da dor das outras. A vida aqui no inferno é realmente um inferno, como dizem os humanos para descrever algo horrível. Eu nunca fui um humano ou algo do tipo para pecar e vir parar aqui. Na verdade, a culpa de tudo isso é dos sentimentos ruins dos seres vivos da Terra que se moldam e se tornam almas malignas e às vezes o Belzebu os tornam monstros ou formas humanas para trabalhar com ele. Eu fui uma dessas almas a se personificar em forma de humano. 

Eu e ele nos dávamos muito bem. Era difícil ele querer proferir alguma palavra para seus submissos, porém ele me criou para ser justamente seu braço direito e aqui estou. Me consideravam um segundo diabo, demônio, anjo caído, cruz-credo ou seja lá como vocês chamam de tão cruel que eu sou.

Se eu era o querido do Lúcifer, por que então estava apanhando? 

Eu estava o contrariando. Eu estava desenvolvendo sentimentos e a razão e aqui em baixo não é comum alguém desenvolver essas coisas e, se desenvolve, quer dizer que a pessoa está se tornando alguém melhor por assim se dizer, alguém mais humano ou angelical. Mas mesmo assim, não cometia erros em meus trabalhos. Continuava sendo o demônio 2.0, porém eu estava começando a questionar sobre minha vida e percebendo o quão bosta ela era sem eu ao menos merecer ou ter a chance de mudar e por isso, às vezes questionava ele sobre tudo e, consequentemente, ele se irritava e eu apanhava.

Enquanto estava voando em meus pensamentos, vejo todas as criaturas começarem a correr ao verem uma luz aparecer no local onde estávamos. Era uma luz branca, muito forte e bela, no qual nunca havia visto. A única luz que via era a do fogo.

Não demorou muito para o meu Senhor aparecer no local já gritando e totalmente irritado. 

— O que quer aqui, em meu território?

Ao ver para quem ele estava berrando, vi a imagem de Jesus. Sim, Jesus. Eu nunca havia o visto em minha vida e nem sequer me falaram sobre sua aparência, porém sempre soube que haviam dois lados: o meu e o lado de Jesus, um ser frouxo e trouxa — como o Demônio se referia a bondade —, porém algo nele me fazia saber que era o tal Jesus, o comandante do outro lado.

— Olá. Estou com pressa, então apenas vim avisar que irei pegar algo que agora irá pertencer a mim e ao meu povo. — disse pacífico e logo direcionou o olhar a mim, sorrindo.

Todos me olharam surpresos, inclusive o Satanás que só faltava os olhos saltarem e a boca cair no chão.

— Ele me pertence! Não tens o direito de tirar algo útil meu sem nenhum motivo! — Ele estava quase se transformando em sua verdadeira forma horrenda. 

— Útil? Sei que ele vem te causando problemas e ele desenvolveu sentimentos, portanto sempre o ouvia. Perdoe-me, mas ele não é mais útil para você. 

Como ele conseguia manter a calma diante do Rei dos infernos quase se transformando na sua verdadeira forma?

— Sabes que ele é tão pecador quanto eu. — disse ainda surpreso e me lançando um olhar de ódio. 

— Sim, por isso ele não irá ter as melhores condições de vida, porém mesmo assim o meu pai o quer. 

Como assim vida? Eu iria me tornar um humano? E quem era esse pai dele que ao mencioná-lo, Belzebu se calou e apenas assentiu? 

— Assunto encerrado então. Peço perdão novamente e espero que encontre outro alguém para lhe ajudar, adeus. — se despediu do meu Senhor e sorriu para mim enquanto observava sua face e ouvia murmúrios dos outros monstrinhos. Minha visão foi ficando cada vez mais escura até eu apagar completamente. 

Jung Wooyoung

Novamente acordado, eu estava observando a pequena criança que me olhava parada em minha porta.

— Infelizmente não posso brincar com você hoje. —  ela fez um biquinho. —  Tenho que estudar, mas espero que encontre algo ou alguém que brinque com você. Agora vá, pois preciso fazer minhas coisas. —  a menor assentiu e foi desaparecendo aos poucos. 

Me levantei e novamente fiquei me questionando o por quê de eu enxergar esses fantasmas. Não era um total incômodo pra mim, pois com o tempo perdi o medo e nem me assusto mais quando eles aparecem do nada. O problema é que ultimalmente andam aparecendo espíritos malignos e eu sempre tenho que fugir deles. Não sei como não morri ainda, pois o processo de me livrar desses espíritos é muito complicado. Eu tenho um poder, se é que posso me referir assim pra isso: a fala.

Eu consigo mudar o pensamento dos espíritos apenas com minhas palavras e alguns até encontram a paz conversando comigo. Eu sou como um exorcista, porém nem todos me ouviam como, por exemplo, os malignos não ligam pra mim, então tentam me atacar, mas graças a Deus, literalmente, nada de ruim aconteceu comigo até agora.

Moro sozinho e nunca conheci meus pais. Não tenho lembranças claras sobre minha infância e apenas lembro de muitas pessoas cuidando de mim até minha adolescência. Ninguém nunca falou comigo, apenas faziam o que eu pedia até eu ter idade o suficiente e eles apenas sumirem, me deixando uma fortuna. Me pergunto se eles eram seres divinos ou fantasmas.

Suspirei e tentei me manter positivo sobre o dia de hoje, afinal, era sexta-feira e as provas haviam acabado. Me arrumei e fui a caminho do ponto de ônibus.  A caminho da faculdade, vi alguns espíritos e tentei ao máximo ignorá-los mesmo sendo quase impossível. Aqui em minha cidade me acham louco e surtado por achar que esses seres existem e falam comigo. Me acostumei com a ignorância das pessoas ou seria eu realmente louco e a solidão me fez criar esses seres?

Adentrando a faculdade todos desviavam de mim, pois me achavam louco. Minha vida toda foi assim, sozinho. Não falava muito com os humanos e apenas fazia o que tinha que ser feito sem incomodar ninguém. Não me importava com a solidão porque não estava completamente sozinho. Os espíritos me faziam companhia por mais que eu os odiasse. 

Se o Senhor dos Céus me desse uma nova chance de ter uma vida nova, eu iria aproveitá-la com certeza. 

X

Após as aulas acabarem eu estava faminto então resolvi ir para um café que ficava na esquina de minha casa. Enquanto estava me dirigindo ao ponto de ônibus, senti uma sensação horrível. 

Merda.

Um espírito maligno apareceu justamente agora. O ponto estava cheio e eu não queria me passar de louco novamente. Respirei fundo e sai do ponto indo para qualquer lugar mais calmo e de preferência que não tivesse nenhuma alma viva, apenas a minha. Enquanto caminhava, não ousei olhar para trás por mais que vários espíritos aparecessem pra mim, eu não gostava do físico deles. 

Quando cansei-me e vi que estava em um local seguro, me virei para conversar com a aparição. Era um homem com a boca quebrada e o crânio amassado.

—  Sinto muito por o que aconteceu com você. Como é que você morr- — não tive tempo de terminar minha frase e a criatura gritou. Um grito estridente que, por sorte, não fiquei surdo.

Vi mais dois espíritos aparecerem. Pareciam uma família. O pior de todos era a mulher. Ela estava totalmente manchada de sangue na região de sua vagina, sua perna esquerda estava totalmente distorcida e quebrada e seu pescoço quebrado também.

Aquela família foi torturada e morta. 

Eles correram pra cima de mim. Nunca havia sofrido um ataque em grupo ou algo do tipo. Se não estivesse em pânico, eu até acharia bonito eles quererem me dividirem entre família. Eu iria citar um dos feitiços que deixaram pra mim em um livro, porém algo aconteceu.

Não sei ao certo se estava feliz com o que aconteceu, só sei que estou vivo ou não.

Punishment - ATEEZ WOOSANWhere stories live. Discover now