Demônios disfarçados

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- AAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Kabanov gritava enquanto os colegas o seguravam no chão para Vaganov, mais hábil nessas coisas, cortar o braço pendurado do homem.

- Façam ele morder alguma coisa ou não vai aguentar a dor! – Yurovsky ordenou.

- AAAAAAAAAAAAAAAH! TIREM ELA DAQUI! SAI! – Kabanov gritava alucinando... Ou não. Ele via uma garota nitidamente à su frente, parada ao lado de Yurovsky que estava perto de sua cabeça, mas superior hierárquico parecia não vê-la. Ninguém parecia ver a menina. Uma bonita jovem de pijama branco semelhante a um vestido, típico do época, cabelos castanhos desgrenhados, sangue negro escorrendo de sua cabeça e formando uma poça fétida no chão. Um sorriso doce e, ao mesmo tempo, sinistro emoldurava o rosto da menina que olhava para ele como se achasse graça no sofrimento dele. Ele não precisava que ela lhe dissesse seu nome. Ele conhecia aquele rosto. Porra! Qualquer um na Rússia que tivesse um pouco de conhecimento saberia quem era aquela menina. Maria, a terceira filha do czar Nicolau II, a menina que gritara antes de ser enterrada, a mesma que ele matara.

- De quem ele está falando? – Tselms perguntou com sucessivos tremores involuntários.

- Ele está alucinando de dor, estúpido! Não está vendo? – Ermakov bradou.

- ELA VAI MATAR TODOS NÓS! ELES VÃO MATAR TODOS! NÓS VAMOS MORRER! O DIABO! É O DIABO! – Kabanov gritava em pânico vendo o sorriso cada vez mais cruel e divertido da menina. Círculos vermelho escuro começaram a surgir na roupa da moça, logo se transformando em fluxos como sangue escorrendo de dentro para fora da roupa. - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – O homem gritou com todas as forças, mas o som saiu apenas em sua mente. Ele não tinha voz. Sua boca nem mesmo se movia como ele queria, ficando aberta em formato de "o" com o último som que ele conseguiu dizer.

A menina olhou para a própria roupa sem nenhum interesse aparente, apenas como se visse uma formiga no chão. Seu olhar escuro como a noite sem lua se voltou para Kabanov que ainda tentava desesperadamente gritar, sem sucesso. Vaganov cortava seu braço e ele podia sentir cada centímetro de dor. Alguém colocou um graveto sujo em sua boca e forçou-a a se fechar um pouco firmando seus dentes do objeto. Maria, pálida, com lábios negros, sangue escuro brotando de sua cabeça e suas roupas, andou lentamente por trás dos homens que cercavam e seguravam Kabanov, em direção à seus pés, sempre olhando pra ele com um sorriso maldoso. Não diminuindo o ritmo em momento nenhum, ela deu a volta por todo seu corpo, atrás de seus colegas, até parar acima da cabeça dele, parte de seu corpo passando por dentro de Nikulin que segurava a cabeça do colega com ambas as mãos. Ela se inclinou sobre o homem ferido, seu tronco atravessando Nikulin pela barriga como se ele fosse só uma cortina leve de pano, seus cabelos estavam molhados de sangue, caindo dos lados do rosto de Kabanov. Ele tentou gritar com mais desespero ainda, mas sua voz não saía. Sua boca nem se movia, ainda segurando o galho com os dentes. Ela pairou com olhos na altura dos olhos dele, o odor de carne podre invadindo as narinas do homem, um terror fora do comum abalando seus nervos e sua mente. Os olhos da menina eram tão negros que por si só já aterrorizavam, mas aquele sorriso... Aquele sorriso era... Perturbador.

Vaganov já tinha amputado seu braço e conseguira finalmente estancar o sangue na cabeça do homem por algo que ele só pôde pensar em chamar de milagre. Nikulin se afastara do homem assim que o trabalho foi feito. Ele estava sentindo um frio no estômago que não sabia explicar, mas era apavorante. Maria não se moveu quando Nikulin saiu. Era como se ele não fosse nada, como se ela não o tivesse atravessado.

NÃO! NÃO! ME DEIXE! – Kabanov gritou em sua mente.

A menina segurou o queixo dele, forçando sua boca lentamente a se abrir e o galho escorregar na lateral de sua cabeça. Os colegas estavam um pouco mais afastados, de cabeça baixa, tentando recuperar o fôlego.

A vingança dos RomanovWhere stories live. Discover now