Chapter 5: Little Bear

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Rainfort, Connecticut, Estados Unidos. Outubro de 2020.

O relógio na parede indicava 04:15. Me levantei da cama com um pulo. Olhei pela janela e estava escuro do lado de fora. O Binky estava dormindo na cama ao lado da minha. Ele só acordava quando soava o toque para o café da manhã. O meu melhor amigo era um baita preguiçoso.

Parei na frente do espelho e bocejei. Era um espelho de corpo inteiro, nosso dormitório era relativamente grande, então nós tínhamos espaço. Eu conseguia ver a silhueta do meu corpo através da parca iluminação que vinha da janela. A figura só de cueca diante de mim me incomodava tremendamente.

Encolhi minha barriga e estufei o peito. Flexionei meus braços. Fechei as pernas e observei a maneira como minhas coxas encostavam uma na outra. Subitamente senti meu estômago embrulhado. Destranquei a porta do dormitório sem fazer barulho e entrei no banheiro que ficava no fim do corredor.

Vomitei, mas não havia nada sólido no meu estômago. Eu o sentia em chamas, mas aquela sensação era melhor do que quando eu me sentia cheio. E eu me sentia cheio o tempo inteiro, cada caloria ingerida se posicionando de maneira incômoda em alguma parte do meu corpo. Eu odiava aquela sensação mais do que qualquer outra coisa, mas ela não me abandonava, nunca. Sentei no chão frio, encostando na parede e limpando o rosto com um pedaço de papel higiênico.

Abracei as minhas pernas e coloquei a cabeça entre os joelhos. Deus, como eu estava cansado.

Me levantei com um pulo. Parei diante da pia e abaixei a cueca. O reflexo suado no espelho foi a primeira coisa que eu vi quando abri os olhos. Estiquei o braço e desenrolei um pouco do papel higiênico, limpando as mãos. Então eu joguei o papel sujo na lixeira, ergui a cueca e lavei as mãos na pia, saindo do banheiro em seguida. Aquilo não me dava prazer, mas me deixava um pouco menos estressado.

Corri até o quarto e depois voltei ao banheiro, escovando os dentes por vários minutos. Depois eu desci as escadas em direção ao vestiário. Fazia muito frio pelos corredores da St. Dominic, e eu não devia estar andando por ali só de cueca, mas eu sabia que nunca havia ninguém acordado naquele horário. Nunca houve, nos meus dois anos na academia. Aqueles garotos eram todos um bando de preguiçosos.

Eu deixei a água gelada escorrer pelo meu corpo, finalmente me acordando por inteiro. Não me demorei. Me enxuguei e voltei pro quarto, colocando o meu uniforme dos Cerberus. Uma bermuda bordô, um tênis branco e a minha regata com a inscrição, "19. Chevalier". Por último, peguei o meu relógio branco e o abotoei no pulso. Era exatamente 04:40.

A pista de corrida da academia estava imersa em uma espessa névoa. O céu estava escuro e fazia muito frio. Esfreguei as mãos e me alonguei por alguns minutos. E então eu apertei o cronômetro no relógio e comecei a correr.

A temperatura no meu corpo aumentava conforme eu corria, e em poucos minutos eu já não sentia mais frio. Eu sentia o meu corpo suando mais e mais a cada volta que eu dava na pista. Perto do fim as minhas pernas começavam a me incomodar levemente, mas eu continuava correndo. E então eu ouvia o apito do relógio. Eu parava, apoiando as mãos nos joelhos. Aquela era a minha rotina de exercício, todas as manhãs.

Olhei o relógio em meu pulso e ele indicava 00:45:13. Era 05:30 da manhã.

Me sentei na pista, inspirando e expirando. Sempre chovia por ali, então o ar frio da St. Dominic tinha um cheiro bom. Fiquei alguns minutos sentado, observando a neblina e as luzes, os sons de alguns pássaros, o céu que começava a mudar de cor. Por algum tempo eu senti paz. Mas eu não tinha tempo para aquilo.

Outro pulo e eu estava de pé de novo. Voltei para o vestiário e tomei um segundo banho rápido e gelado. Quando eu terminei de me colocar dentro do uniforme da academia, o relógio na parede indicava 05:50. Ajeitei o broche da raposa dourada na lapela do meu paletó e saí do quarto, carregando alguns papeis debaixo do braço. A partir daquele horário eu começava a ver um ou outro garoto acordado pelos corredores, mas não todos os dias. Aquele era um dos dias em que não havia ninguém.

Fine Young GentlemenWhere stories live. Discover now