Capítulo 1

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Roberta

Vinte anos antes

Eu detestava garotos.

Mamãe dizia que quando eu crescesse, mudaria de ideia, mas não imaginava isso acontecendo. Ela não mentiria para mim, né? Mas eles só serviam para fazer bagunça e beber todo o refrigerante.

— Roberta, cara de cueca!

O grito foi seguido por um puxão em minha trança. O menino de olhos azuis saiu correndo com as outras crianças tentando alcançá-lo. Todos estavam brincando de pega-pega no quintal da minha casa, menos eu. Cruzei os braços, emburrada. Era meu aniversário e mamãe não me deixou participar da diversão até que cantasse parabéns.

"Você é uma boa menina e muito linda para estar suada nas fotos", ela disse quando pedi para brincar com os meus amigos. Os meus amigos e o novo vizinho: Matheus. Eu não era fã de garotos e gostava menos ainda desse. Por que dona Júlia teve que ir morar com a sua filha no norte e vender a casa para os pais desse menino chato e mandão?

— Qual o problema, pequena? — Tia Dulce se ajoelhou ao meu lado e bateu o dedo no bico enorme que eu fazia. — Por que essa cara tão triste? Hoje é dia de festa.

Apontei com a cabeça para o menino, ele estava todo desgrenhado, os cabelos pretos apontando para todos os lados e a camisa com um desenho de um super-herói verde estava levemente suja por ter rolado na grama.

— Ele está se divertindo mais do que eu na minha própria festa!

Observamos Matheus desviar de um moleque, fazer outro tropeçar no chão e estirar a língua para uma menina, ainda sem ter sido pego.

— Esse garoto tem o espírito selvagem... — murmurou a tia.

— Não gosto dele! — sentenciei irritada.

— Eu gosto — ela me lançou um sorriso tranquilo —, ele é realmente doce por baixo de toda essa travessura.

Revirei os olhos, mesmo sabendo que boas meninas não deveriam fazer isso. Era desrespeitoso com os mais velhos. A opinião de tia Dulce não valia de nada, ela gostava de todo mundo! Até da professora de matemática que morava no fim da rua e era uma malvada. Tanto que ao invés de ficar irritada com a birra, ela apenas riu e beijou a minha bochecha.

Ela foi se afastando quando Matheus veio correndo em minha direção. Esquecendo mais uma vez que eu deveria ser uma boa menina, estiquei o pé, fazendo-o tropeçar e cair de cara no gramado.

— Peguei você! — Puxei um punhado do seu cabelo, sentindo-me vingada pela trança.

— Ei, isso não vale — Oscar, um menino grandalhão que morava em frente a mim, berrou. Suas bochechas estavam vermelhas da corrida e o suor empapava a frente de sua blusa, fazendo-a grudar na pele. Eca! — Você não estava na brincadeira — acusou.

Levantei o queixo em desafio. Se era a minha festa, eu deveria fazer as regras, não? Na verdade, pouco me importava a brincadeira, só queria vê-lo cair de cara no chão.

Matheus ficou em pé e limpou a grama de seus joelhos e do rosto.

— Claro que estava na brincadeira! Só que ao contrário de você, ela não precisou se mexer para me pegar — interveio antes que Oscar começasse um escândalo como o bebezão que era. O filhinho da mamãe era um péssimo perdedor, mas adorava competir por tudo. Falando em mães, a minha escolheu aquele momento para anunciar que havia chegado a hora de assoprar as velinhas. O novo vizinho sorriu para mim e estendeu a mão: — Parabéns, você venceu o jogo.

Eu ainda não gostava de Matheus, mas apertei asua mão e, antes que percebesse, estava sorrindo de volta...

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Meu ex-melhor amigo (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora