Capítulo 27

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Samara parou em frente à janela, vendo a manhã ensolarada, enquanto ouvia o que lhe diziam do outro lado da linha. Os segundos prestando atenção às informações, que nada novo lhe revelaram, irritaram-na. Encerrou a ligação sem se despedir e arremessou o celular do outro lado da sala. Passou as mãos pelos cabelos curtos e vermelhos e andou de um lado para o outro, ainda incrédula com tudo o que acontecia. Como ninguém achava aquela menina? Como ela pôde simplesmente desaparecer depois de tudo o que aconteceu? Para onde ela foi?

Xingou em pensamento. Não ter uma pista sequer do paradeiro de Aline a deixava em cólera. Somado àquilo, também havia a questão dos demais rebeldes, que pareciam ter desaparecido do país, e o fato de o presidente ter negado o pedido que fez para começar a interrogar a população com a droga da verdade. Ele sequer se dava ao trabalho de compreender, era como se não se importasse com possíveis rebeldes dentro do sistema. Por mais que Nicolae batesse na tecla de que o ocorrido em São Paulo foram casos isolados, ela pensava o contrário. Poderia muito bem haver rebeldes entre eles. E se houvesse, pegaria cada um deles.

Só parou de andar quando ouviu três batidas na porta do gabinete. Bufou, pois avisara que não gostaria de ser incomodada, e praticamente gritou que queria ficar sozinha. No entanto, a porta se abriu mesmo assim, e um soldado, visivelmente nervoso, bateu continência.

— Qual parte do eu não quero ser incomodada você não entendeu, soldado? — mantinha a postura séria e a voz ríspida.

— Desculpe-me, general — ele inclinou a cabeça para frente, resignado. — É que é um assunto urgente.

— Se é urgente, por que ainda não falou? Anda, diga logo!

— Um homem quer falar com a senhora, disse que tem informações sobre uma rebelde.

— E vocês pelo menos perguntaram quem é esse sujeito? — chegou mais perto dele.

— Miguel Moura, marido da primeiro-tenente Tatiana Moura — o soldado ergueu os olhos para a general, já que até então os manteve baixos. — Pedimos que ele nos dissesse o que sabia, mas se recusou, falou que precisava conversar diretamente com a senhora.

Encarou atentamente o subordinado e não gostou nem um pouco de tudo aquilo. Ainda assim, autorizou que trouxessem o sujeito. O soldado fez que sim com a cabeça e saiu de lá. A general se sentou na cadeira diante da mesa e esperou enquanto tamborilava os dedos sobre o tampo de madeira. Questionou-se por que o marido da primeiro-tenente veio pessoalmente ter com ela, sendo que, se ele sabia de algo, aquilo também seria do conhecimento da esposa.

De repente parou de mover os dedos. Será que Tatiana era uma...

A porta foi aberta, e um homem de mais ou menos trinta anos, branco e de olhos e cabelos castanho-claros entrou acompanhado de dois militares. Um deles ficou ao lado da porta, e o outro o guiou até a cadeira diante da general. Samara sequer se levantou para recebê-lo, apenas indicou que se sentasse.

Miguel se acomodou sem jeito, pigarreou e olhou para a general. Ela o analisou com superioridade, percebendo os olhos fundos e um pouco vermelhos. O cabelo estava desarrumado e a roupa amassada. Onde será que ele dormira? Se é que havia dormido...

— Pois bem — ela se recostou melhor na cadeira, arrumou ainda mais a postura e cruzou as pernas. Descansou as mãos entrelaçadas sobre o colo. — O que o senhor tem a me dizer?

— Minha esposa... A Tatiana... Ela é uma... — fechou os olhos em uma feição de dor, as palavras pareciam não querer sair. De uma hora para a outra, lágrimas desceram pelas bochechas.

Samara continuou inabalável, mas mandou o soldado servir um copo de água a Miguel, que tomou tudo de um único gole. Percebeu que ele tremia quando devolveu o copo ao soldado, secou a boca com as costas da mão e respirou fundo antes de voltar-se novamente à general. Quando perguntou se estava bem, ele fez que sim com a cabeça.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora