Por favor, me chame de preta!

Por favor, me chame de preta.
Eu nasci assim
Eu sou assim
Minha certidão diz o seguinte: PRETA.
Por favor, me chame de preta.
Eu não sou morena
E desde pequena
Tive que ouvir
"Você não é tão preta assim"
Como que ser preta fosse um mal
Banal
Literal
Por favor, me chame de preta.
E antes que você se esqueça
É preferível que você me bata
Do que me chamar de mulata 
Me faz entrar em luto
Quando eu lembro dos estupros
Que minhas ancestrais sofreram
Nos casarões...
Quando os bebês nasciam mestiços
Era chuva de um só apelido:
MULATO.
Por favor, me chame de preta.
Pode elogiar meu cabelo
Mas não me diga pra o deixar preso
Ou pra baixar o volume
Pode elogiar meu rosto
Mas não os "traços finos" inexistentes 
Por favor, me chame de preta.
Não é ofensa, não!
É o que está na minha certidão.
É o que está por todo o meu corpo
Corpo esse que sofre objetificação
Porque mulher preta tem que ter "bundão", "peitão", "coxão"
Tem que saber sambar, lavar, passar, cozinhar
Pra poder ser uma negra de verdade.
Oh, céus! Minha vida foi uma mentira?
sim, eu to de ironia.
E você, veja bem, me respeita!
E por favor, me chama de preta!