Colocando as cartas na mesa

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Colocando as cartas na mesa

por Lilian Kate Mazaki

O som da televisão era tudo o que preenchia a pequena sala do apartamento de Clarisse. O canal esportivo transmitia um campeonato de ginástica olímpica ao vivo dos Estados Unidos. Em um dos breves intervalos entre a realização de exercícios em diferentes aparelhos a jornalista aproveitava para separar algumas cervejas guardadas no freezer, passando-as para uma pequena caixa de isopor. Pretendia deixar a recipiente sobre a mesa de centro, entre o sofá e o televisor, para não mais precisar se levantar até o final da competição.

Era quarta-feira e beber sozinha em casa estava longe de ser um hábito seu, mesmo durante noites quentes do verão, porém seus ânimos pediam uma dose generosa de álcool.

Desde o "desastre", como apelidara conversa com Alex na Cafeteria Vintage, a redatora estava sentindo-se a pior das pessoas. Era uma culpa tremenda pensar que deveria ter deixado sua amiga mal com as palavras covardes que jogara sobre esta.

Claro, as duas ainda trabalhavam no mesmo andar do prédio da editora. Alex passava por ela e Ricardo todos os dias, cumprimentando normalmente. Porém a fotógrafa recusara os convites para almoçar que Ricardo lhe fizera na primeira metade da semana. Alex também vinha saindo pontualmente às quatro e meia da tarde, sem dar chance para ser convidada para um happy hour. Clarisse também não a havia visto sair para almoçar no horário comum, como vinha fazendo desde que entrara para o departamento.

Sim, Alex estava claramente a evitando. A única comunicação entre as duas havia se dado ainda no sábado da dita conversa, quando a morena enviara uma mensagem curta pelo celular:

"Quando estiver segura, vamos conversar de novo."

― Eu sou uma imbecil. ― disse Clarisse a si mesma, atirando o saco de gelo vazio na lixeira da cozinha estilo americano do seu apartamento. Com ambas as mãos ela ajeitou as cinco latas de cerveja no gelo quando ouviu o toque da campainha.

Aguardou, secando as mãos em um pano sobre o balcão. Não conseguia imaginar quem poderia ser. Talvez Ricardo, o rapaz era expert em detectar quando Clarisse estava ruim e costumava aparecer nesses momentos para distraí-la. Alex não tinha ainda seu endereço, então ela descartou de automático essa possibilidade.

Outro toque na campainha. Clarisse caminhou até a entrada e viu uma mulher desconhecida pelo olho mágico. Abriu a porta com uma expressão interrogativa:

― Ah, olá. ― cumprimentou a desconhecida. ― Você é Clarisse, certo?

― Sim. E você? ― perguntou a jornalista, observando a figura da outra de cima a baixo.

― Jenifer. Sou uma amiga da Alex. ― disse a designer. Clarisse não conseguiu deixar de notar o conjunto jeans escuro de saia e jaqueta, uma blusinha com temas tecnológicos por baixo que esta vestia.

Clarisse abriu e fechou a boca duas vezes sem dizer nada. Não poderia ser a visita mais inesperada, ela pensou de imediato:

Clarisse e AlexWhere stories live. Discover now