O meu primeiro amigo

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- Aqui! Eu estou aqui, Samantha! - gritou Alex, enquanto acenava em minha direção.

Virei-me e avistei-o parado em um ponto de ônibus, perto do portão da escola. Um sorriso largo e afetuoso estava nitidamente estampado em seu rosto.

Em seguida, fui apressadamente até onde ele estava.

- Oi... - falei, ao chegar mais perto.
- E aí? Como você está? - ele perguntou, ao mesmo tempo que começamos a caminhar lado a lado.
- Com muito sono. E você?
- Também. Acho que eu não deveria ter virado a noite no computador. - respondeu, um pouco sem jeito. - Mas e você? Por que não dormiu bem?

É incrível como apenas uma pergunta pode fazer você sentir tanta coisa ao mesmo tempo. Lembrar de todos aqueles pesadelos perseguindo-me durante as madrugadas é como recordar-se dos piores machucados adquiridos na infância.

As cicatrizes nunca somem.

Por um breve momento, eu tinha esquecido-me que estava indo para a escola.

Jurava que era possível sentir aquela mesma brisa gélida...

Os monstros...a floresta escura...as vozes...os gemidos de dor...

Ele...

- Ei! Está tudo bem, Samantha? - Alex perguntou, imóvel em minha frente e acenando uma das mãos diante dos meus olhos. - Você ficou parada de repente...

Após piscar algumas vezes, percebi que novamente tinha mer perdido em minhas memórias.

- E-Eu estou bem. - respondi, com um pouco de vergonha. - É-É que...
- Relaxa! Não precisa ficar nervosa. - interrompeu-me, tentando tranquilizar-me. - Eu só fiquei preocupado, você estava ficando pálida.
- Desculpa por te preocupar. Às vezes eu tenho isso.
- Você sabe o porquê? - ele indagou, enquanto passávamos pelo portão do colégio.
- Bom...eu tenho pesadelos quase todos os dias. Então, quando lembro deles...fico daquele jeito.
- E o que acontece nesses seus pesadelos?
- Você é bem curioso, não é? - questionei, virando no corredor de nossa classe.
- Fazer o quê, é mais forte do que eu. – o moreno replicou.
- Bom...eu vejo monstros vindo me atacar dentro de uma floresta escura. Também ficam falando um monte de mentiras pra mim. - respondi, abrindo a porta da sala.

Subitamente, senti uma mão puxando meu ombro para trás, fazendo-me ficar de frente para Alex. Seu olhar estava muito sério e, pela primeira vez, também vi traços de tristeza em seus olhos.

- Você não precisa esconder as coisas de mim, Samantha. Somos amigos, esqueceu? - seu tom de voz estava carregado de melancolia com um pouco de irritação. - Eu sei que ainda não nos conhecemos muito, mas não precisa desconfiar de mim.

Por conta da grande diferença de altura, ele estava inclinado e com o rosto próximo do meu.

Eu não tinha notado o quão alto ele era ou como o seu cabelo era enrolado nas pontas.

E nem o quão rápido eu depositei toda a minha confiança nele ao ponto de não ter medo de dizer coisas desse tipo.

Ele nunca me chamou de louca.

- Obrigada. - respondi, apresentando um sorriso que há tempos eu não fazia. - Isso é muito importante pra mim.

Em seguida, tocou-se o sinal da primeira aula.

***

Infelizmente, ocorreu justamente o que eu previ: diversas pessoas fofocando sobre o fato de Alex estar andando comigo.

"Por que um cara lindo como ele está andando com uma ninguém feito ela?" foi o que mais ouvi das garotas.

Já os meninos tiravam sarro sempre quando podiam: "Cuidado, Alex, você pode pegar a doença dela!".

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