Alianças e traumas

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O primeiro encontro provocou dentro de mim algo que queimava como chamas e congelava meu medo como a neve. Não conseguia parar de pensar em Nove. Olhava sua foto, lembrava de seu beijo e tinha a certeza de que estava amando ela.

Não podia demonstrar esse amor por inteiro, pois sabia que acabaria como um trouxa. Tinha como proteção meu orgulho, deveria fazê-la correr atrás de mim, até porque já tinha passado meses correndo atrás dela.

O que realmente me preocupava era a promessa que havia feito. Mentir que revelaria meu rosto algum dia, não era uma boa ideia, pois ela me pressionaria com o passar do tempo.

A curiosidade era das duas partes, de um lado ela desejava conhecer meu rosto, do outro lado eu queria descobrir porque esse trauma de não conseguir transar.

As coisas só estavam piorando a cada dia. Como morava com minha mãe, em um dia que fui encontrar com Nove, ela me viu de máscara e então estranhou.

— Para onde vai com essa máscara, menino?

— Oh, mãe. Estou indo em uma festa.

— Em plena segunda feira?

— Sim. - confirmei, meio sem graça.

— Nunca vi. No meu tempo não tinha isso.

— Os tempos estão mudando e as festas também. - disse, saindo.

É claro que minha mãe não ficou convencida, porém era a única desculpa que poderia dar.

Toda vez que via Nove, sentia algo tão forte transbordando meu corpo que era obrigado a parar por alguns segundos para se controlar. Ao sentir seus lábios tocando os meus, o mundo ficava pequeno diante de tanto amor e a felicidade parecia estar me abraçando com a intenção de nunca mais me deixar.

— E aí como você está? - perguntou ela, segurando minha mão.

— Com você sempre estarei bem. - disse sorrindo.

— Oh, que romântico. - corou as bochechas, Nove.

Fomos até o cinema e minha máscara causou um pouco de espanto nas pessoas.

Os atendentes do cinema se olharam entre si, mas não tomaram nenhuma atitude. Entrei no cinema, acompanhado de minha amada e então tivemos uma noite espetacular.

Ficar ao lado de Nove era espetacular. Tudo estava acontecendo muito rápido, se víamos quase todas as semanas e isso estava virando uma rotina que eu adorava. Não conseguia mais pensar em nada além dela, os problemas interiores, os preconceitos, as pessoas ruins, as críticas e o mundo que sempre me incomodou estava mostrando sua parte boa.

Como as coisas estavam indo rápido demais, Nove me convidou para conhecer sua família, o que me deixou muito inseguro. Como conheceria a família de uma suposta namorada, sendo que estava usando uma máscara? Estava claro que isso não daria certo, seus pais logo desejariam saber porque estava escondendo meu rosto e claro que não acreditariam na resposta.

- Será que devo mesmo ir até a casa de seus pais?

- E por que não, amor?

- Eles vão estranhar a máscara.

- Fica tranquilo. - pediu, segurando minha mão. - Já expliquei para o meu irmão e ele, com certeza, já preparou todos.

- Está bem. - disse, um pouco desconfiado.

O encontro com seus pais foi como havia imaginado, apesar de me respeitarem e não perguntarem nada em relação a máscara, os olhos de cada um não conseguiu esconder o preconceito.

Depois de um jantar em que comi meio que obrigado, acompanhei o irmão de Nove que surpreendentemente, me convidou para uma conversa particular.

Acompanhados de uma paisagem iluminada pelos postes e com poucas árvores, o rapaz que se chamava Pablo, serviu Whisky e cruzou as pernas, sentado em um banco de dois lugares.

- Desculpe pelo jeito de meus pais. Minha mãe até queria ser simpática com você, mas meu pai é muito autoritário.

- Está tudo bem. Entendo os ciúmes que deve possuir.

- Entende não. Esses ciúmes são doentios. Meu pai só não prende minha irmã porque sabe que ela vai escapar.

- Nossa, não sabia que chegava a tanto. - disse, surpreso.

- Mas conte aí, como vocês se conheceram?

- Pela internet. Sua irmã está mudando minha vida, ela é uma ótima pessoa.

- Sei disso. Estou muito feliz por vocês terem se conhecido. Minha irmã já passou por várias coisas e não aguentava mais ver ela chorar. - revelou Pablo.

- Chorando? Por que ela teria motivos pra chorar?

- Sinceramente, não sei se devo tocar neste assunto. É um pouco delicado.

- Agora que começou, continue. - ordenei, bebendo.

Arregaçando as mangas de sua camisa social preta, Pablo começou a falar.

- Um dia quando estava voltando de meu trabalho, achei que não teria ninguém em casa, pois minha irmã tinha a mania de fazer aulas de reforço, então entrei em casa acompanhado de uma mina que estava ficando na época. Quando estávamos se direcionando para o quarto, encontrei minha irmã jogada no chão, seminua, com suas vestes rasgadas. Perguntei o que havia acontecido e então ela só conseguia chorar.

- Desculpe te interromper, mas está tentando dizer que ela foi...

- Sim, estuprada. - completou o que eu não tinha coragem de falar.

- Mas como? Por quem?

— É um mistério que já dura 3 anos. Não sei o que aconteceu naquele dia, pois ela não me contou.

- E até hoje você não toca no assunto?

- Já tentei inúmeras vezes e nada adianta. Não contei para meus pais, você é a primeira pessoa que converso sobre.

Sem entender, se levantei, segurando o copo na mão.

- Do que precisamos pra descobrir? - perguntei.

- Só precisava de um apoio e acho que consegui.

Pablo se levantou, apertando minha mão. Naquele momento tínhamos feito uma aliança. Ambos teriam que descobrir o que havia acontecido naquele dia. Minha mentira pelo menos serviria para alguma coisa, apesar de Nove não gostar de minha atitude, caso saiba, tenho o dever de ajudá-la a resolver seus problemas interiores.

(capítulo novo toda semana)

(TODOS OS DIREITOS AUTORIAS RESERVADOS AO AUTOR STEFEN MOONWALKER)

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