41 - Fim.

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Acordei com um mosquito em meu rosto e imediatamente lembrei onde estava. Tinha adormecido alí entre as árvores depois de me embebedar na noite passada esperando que as coisas melhorassem mas sei que é daqui pra pior, quer dizer, pior do que antes é impossível.

Tentei olhar a hora em meu celular mas a bateria havia acabado, o sol não estava tão quente então imagino que passe das duas da tarde.
Levantei recolhendo minhas coisas e cocei meus olhos me espreguiçando.
Tinha areia por todo meu cabelo e roupa, sacudi tudo afim de tirar pelo menos o excesso e fui embora.

Enquanto andava pela cidade notava olhares sobre mim, mas não os que costumava provocar.
Agora vejo pena nos olhos das pessoas, eu estava parecendo uma mendiga. Prendi meu cabelo e enfiei as mãos no bolso da minha calça procurando algum dinheiro pra passagem de ônibus, mas não tinha nem mesmo cinco centavos.
Sou egoísta demais para pedir dinheiro a algum estranho e o caminho até minha casa é longe, mas nem tanto.

Respirei fundo e comecei a andar de vagar pelas calçadas, o que irei fazer da minha vida agora?, com que cara irei olhar pra minha mãe de agora em diante?.
As coisas nunca serão as mesmas, ela sabendo ou não. Só agora consigo sentir o peso em minhas costas de tudo o que eu fiz e não sei se conseguirei lidar com isso.

°

Depois de mais de uma hora caminhando estava finalmente na rua da minha casa. No caminho eu refleti sobre tudo, sobre todas as minhas ações desde o começo. Cheguei a conclusão de que eu precisava arrumar toda a bagunça que eu fiz.
Conversar com minha mãe — achar uma forma de me abrir com ela sem revelar que tive um caso com minha professora —, arrumar algum emprego e começar a caminhar com meus próprios pés pela primeira vez e, conversar com a Mora.

Sinceramente não tenho muita esperança que ela me perdoe. Eu fui idiota tantas vezes e em todas as vezes ela foi paciente comigo, tenho noção que até um certo ponto as pessoas acabam cansando, e esse pode ser o caso. O pouco de esperança que me resta espera que ela me deixe explicar o que ela provavelmente já sabe, ou que tente me compreender.

°

Quando cheguei em casa presenciei a típica cena; minha mãe vendo TV.
Ela não me perguntou onde eu tinha passado a noite, mas tinha convicção de que bebi, e estava certa.
Pedi para conversarmos e ela estranhou já que isso nunca acontecia.

Conversamos por algumas horas e eu tentei omitir alguns detalhes. Tudo o que falei é que tinha me envolvido com uma mulher mais velha durante um tempo e que tivemos problemas que levaram a confusões e confusões que levaram a mais problemas.
Recebi sermão, óbvio, mas ela foi mais compreensiva do que pensei que seria. Falei sobre meus planos de arrumar um emprego e ela pareceu feliz com isso, assim eu poderia ajudá-la nas despesas ao mesmo tempo que acordava pra vida.

Tomei um bom banho e vesti uma roupa confortável, jantei com ela e avisei que iria até a casa da Mora.
Respirei fundo saindo de casa e caminhei em direção ao meu destino com um frio na barriga.

A casa estava escura, rezei pra que ela não estivesse dormindo.
Toquei a campainha e esperei por algum tempo, a porta foi aberta.
Seu cabelo estava maior, um pouco abaixo do ombro e parecia mais castanho que antes. As íris mais claras e melancólicas, não sei porque notei uma certa frieza em seu olhar.
Ela segurava a porta atrás de sí enquanto tentava não olhar em meus olhos.

— O que faz aqui?. — Perguntou baixo.

— Podemos conversar?, por favor.  — Fitei o chão por alguns segundos me sentindo vulnerável por uma razão desconhecida.

— Ok, mas não aqui dentro, minha vó não pode saber que estou falando com você. — Fechou a porta e nos afastamos dali.

— Por que sua vó não pode saber que está falando comigo? — Perguntei enquanto andávamos de vagar pela vizinhança, ela de braços cruzados e eu com as mãos no bolso do casaco.

— Porque quando fico triste ou irritada ela é a única que pode me ouvir desabafar. Todas as vezes que isso aconteceu ela me ouviu falar do quanto estava decepcionada, com você. — Mora não parecia mais intimidada, as palavras saíam de sua boca com rigidez, aquilo me assustava.

— É por isso que estou aqui, Mora. Quero me desculpar com você. — Suspiro.

— Por que?

— Porque você é minha amiga e me arrependo de tudo que eu fiz.

— Nós éramos amigas Isadora, nada sobrou daquilo. — Respondeu com os olhos focados no caminho, estávamos dando a volta no quarteirão.

— Então quero construir uma nova amizade com você, me deixe fazer isso. — A encarei.

— Não Isadora, não posso mais fazer isso.

— Eu sei que eu errei ma...

— Eu gostava de você! — gritou e paramos de andar.
— Eu gostava de verdade, não só como uma amiga. Eu estava apaixonada por você e eu nem sabia que gostava de garotas. — Exclamava, meus olhos estavam arregalados.

— Eu.. eu não sabia..

— Claro que não sabia, nem eu sabia. Só percebi isso quando eu tive que aturar assistir você mudar completamente com todos ao seu redor por causa de uma mulher que deixava seu corpo marcado todo santo dia. Assisti você tentar esconder isso, tentar manter isso, manter seu caso com ela de pé enquanto nossa amizade desmoronava, enquanto eu desmoronava...

— Mora, me desculpe, eu estava cega e você sabe disso, sabe que eu faria tudo diferente se pudesse voltar atrás. — Me segurei forte para não chorar.

— Mas você não pode voltar atrás. Isadora, nossas decisões perduram por toda a nossa vida, não devemos agir de uma forma esperando mudar as consequências dessas ações em um futuro próximo. Ou fazemos ou não fazemos, erramos ou não erramos. A maturidade nos ensina isso, se quiser crescer vai ter que aprender a pensar não só em sí mesma, afinal você não está sozinha no mundo. Espero que consiga fazer isso, mas faça sem mim.

Meus olhos foram invadidos por lágrimas enquanto a observei me dar as costas naquela rua escura e vazia.
Mora não olhou para trás, nem de relance, apenas seguiu.
Sua silhueta desaparecia aos poucos de minha visão a mil milhas de distância, enquanto meus pés estavam plantados no asfalto, até chegar minha vez de dar as costas.

Segui pelo caminho oposto ao dela, podia jurar que ouvia o som de minhas lágrimas se chocarem com o chão, e essa era a única coisa que ouvia.
Não havia barulho de rodas ou de buzinas, vozes e vento, eram somente gotas salgadas tomando vida.

Acho que agora posso responder a pergunta que fiz a mim mesma um tempo atrás.

"O que é o amor?"

É o medo, a determinação. É quando tememos cair ou quando pulamos sem pensar duas vezes.
Isso é o que conheço como Amor, mas provavelmente não é como você ou o resto do mundo pensa, o que me fez chegar a conclusão de que existem 7,7 bilhões de formas de amar. Isso é equivalente ao número de pessoas que existem no mundo, cada uma carregando consigo no peito uma resposta única para essa pergunta.

E essa foi a minha forma de amar. Foi como ficar de pé por alguns segundos na ponta de um precipício e de última hora resolver pular, não pensando nas chances de acabar se chocando com alguma rocha pelo caminho, acreditando que iria levitar. Não foi o que aconteceu.

Acredita em segundas chances? porque agora, eu decidi acreditar.
E agora aqui, de pé na borda da maior ponte da cidade,

Espero que dessa vez eu consiga voar.

Fim.

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A safada da minha professora | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora