Capítulo 8

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Jund ainda estava em cima da árvore. Não sabia como descer sem ser visto.

O grupo de pessoas na fogueira só aumentava. Alguns colocavam madeiras a intervalos para que o fogo não se apagasse e mais pessoas chegavam com expressão cansada e se serviam daquele guisado que agora devia estar em um cozimento mais saudável.

Apenas com a claridade da fogueira, não dava para ele saber quem era parente de quem.

Às vezes se esquecia de onde estava e os assistia como a um filme em tela grande.

Quando a fogueira contava com inúmeras pessoas á volta, o senhor cego chamou uma criança que o respondeu de imediato, como se já antevisse e ao ouvi-lo ela anuiu e correu para dentro de uma casa. Era incrível que conseguisse isso á noite, saber em qual deveria entrar, todas pareciam iguais. Trouxe três objetos para o senhor. Ao longe lhe pareceu que eram cabaças pelo formato. Tamanhos variados, uma que devia ter uns cinquenta centímetros, a maior, era ovalada na ponta.

Ao receber os objetos, o velho sentou-se em uma pedra, apoiou-a sobre um pé, retirou de uma sacola de tecido atada ás costas uma vareta fina e comprida e passou a bater de leve nas duas dispostas em se colo, alternando as batidas entre as menores e a maior apoiada ao chão.

Esse instrumento arcaico, produzia uma melodia gostosa e bem apreciada aos espectadores que o acompanhavam cantarolando ou chacoalhando o corpo no ritmo.

Cantaram várias canções, em momentos, o som modificava para mais acelerado ou mais lento. A vareta era mais ou menos usada, mostrando que o ritmo agora era outra. Quando a noite já ia alto, uns se dispersaram. Crianças acompanhavam suas mães para casa, e outros que chegaram após o início da cantoria, colocavam mais lenha na fogueira que se desmilinguía, a grávida se retirou, em seu gingado único e pesado de carregar a cria.

Jund reparara que um rapaz que devia ter pouco mais de vinte anos e que havia chegado há pouco tempo se retirou para alguns metros do grupo. Entrou em uma moita maior de mato, que devia chegar á altura de seus joelhos e menos de um minuto depois, foi seguido sem nenhuma discrição.

Sem ter uma visão perfeita, percebeu que uma mulher o seguiu e a dança universal e óbvia do acasalamento, teve início. Ali também havia romance.

Ela o seguiu com um rebolado característico que antecede o coito. O jovem pôde ver que não foram longe, que sabiam que estavam próximos ao seu grupo. Haviam ali, em volta da fogueira, famílias, idosos e crianças. Mas alheios á tudo e todos, iniciaram o processo do amor.

Em instantes os gemidos na moita aumentava enquanto os movimentos dos dois ficavam mais e mais intensos.

Jund ficou estático ouvindo e sabendo que o grupo também ouvia. Uma senhora que cantava, chegou a apontá-los e os outros deram gargalhadas.

Como crianças são inocentes, dois garotos de não mais de oito anos, iniciaram uma corrida e se encaminharam para onde estavam o casal em cópula. Um tropeçou no casal e caiu. Levantou sorridente e continuou a brincadeira com o amigo.

Em choque total, viu quando terminaram e voltaram para a fogueira, começando a cantar junto aos outros.

Com o rosto quente e com certeza ruborizado, sabia que sua boca estava escancarada e segurando mais forte o galho, observou que passado uns trinta minutos, com um som mais agitado, esse mesmo rapaz foi convidado por outra jovem da roda a se levantar e o acompanhar á mesma moita. Pondo se de pé, ela o puxou para que se levantasse e a acompanhasse, o que ele prontamente fez. E novamente se iniciou a dança erótica.

Enquanto olhava cada um que compunham aquele grupo, agora todos felizes, as moças e os rapazes satisfeitos, olhando para as casas, percebeu que a grávida voltava andando devagar, sua barriga distendida, sua dança de pata e ao chegar á fogueira, foi abraçada pelo mesmo rapaz que havia feito sexo com duas mulheres ali mesmo ao lado de todos.

Prisão Sem MurosWhere stories live. Discover now