3. Por água abaixo

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Pego o capacete de suas mãos e o coloco sem ao menos olhar para trás. Subo na garupa de sua moto e a abraço, forte. Sinto seu perfume penetrar minhas narinas. É maravilhoso! Quando me dou conta, já estamos muito longe do local dos testes. Para falar a verdade, não tenho a mínima vontade de voltar para casa.

— Chegamos! — Ela grita para que eu possa escutar por sob o capacete. Ela para a moto e põe suas mãos sobre as minhas, que ainda a abraçam.

Me solto e desço rapidamente. Vergonha uma hora dessas, Ariel? Não sei o que está acontecendo comigo. Eu a admiro muito, mas só isso, nunca imaginei que ela fosse querer algo mais comigo. Afinal, sou apenas uma criança, e ela, mulher feita. Nem sei o porquê desses pensamentos. Talvez por eu amar minha melhor amiga, e namorada do meu irmão. Quem sabe!

Ela desce da moto e caminha em direção à casa a nossa frete, fazendo sinal para que eu a acompanhante. Não consigo parar de olhar para a casa, ela é imponente. E linda! Talvez arquitetura seja uma boa escolha. Seguir os passos de papai. Isso é coisa que se pense, agora? Devo estar entrando em choque, é isso.

Sei que meu lance é mulher, já fiquei com alguns garotos, mas a sensação é repugnante, muito diferente de quando dou uns pegas em alguma garota por aí. Isso sim me completa! Eu deveria estar nas nuvens agora, mas não. Estou com medo, só não me pergunte do que, pois nem eu sei a resposta.

— Esta casa é realmente linda! — Falo para quebrar o gelo que se formou entre nós. — Meu pai iria adorá-la. Ele é arquiteto, sabe. ... Desculpa. — Falo e caminho até ela, que sorri e abre a porta, entrando na casa escura.

Se por fora ela era magnífica, por dentro ela era de tirar o fôlego! Quando as luzes se acendem, fico paralisada, tamanha é a perfeição do lugar. Os móveis rústicos contrastando com as paredes em tons de bege e branco, e o piso de parquê, tão lustrado, que me permite enxergar meu reflexo nele, é extraordinário! Me pego olhando atenta para todos os lados, me sentido como se voltasse no tempo. Uma sensação estranha, mas reconfortante.

— Venha, vamos comer alguma coisa. — Ela diz, enquanto solta o capacete sobre o aparador ao lado da porta, mexe nos cabelos e vai em direção do que deve ser a cozinha. Faço o mesmo.

O silêncio tomou conta novamente. Fiquei sem jeito quando ela, gentilmente, pediu que eu me sentasse enquanto preparava algo para nós. Me vi perdida em vários pensamentos, e todos acabavam da mesma forma: papai.

— Desde quando? — Ela pergunta ainda de costas.

— Desculpa. Não entendi a pergunta. — E então ela repete a pergunta, só que dessa vez, completa.

— Desde quando, tu és assim, como eu. — Se ela não estivesse de costas, veria o rubor tomar conta do meu rosto. E então, muito sem jeito, eu respondo.

— Desde que me lembro. Desde sempre. — Falo e baixo a cabeça, envergonhada. Nunca havia falado sobre isso com outra pessoa, nem mesmo com as garotas que fiquei. Apenas ficava, e pronto. Muitas vezes haviam rapazes também, muita bebida e, sei lá, só acontecia.

— Foi difícil para mim também, mas eu assumi minha sexualidade muito nova, eu tinha 12 anos. Sofri bastante, mas sobrevivi. Não vai ser fácil, nunca. Sempre terá alguém para apontar o dedo e falar merda na cara da gente. Só temos que saber a hora para revidar, ou não.

— Como soube? Digo. Eu... — As palavras fugiram. Fiquei muda.

— Eu não sabia. Mas desconfiava. A gente tem o costume de se esconder, ao invés de por para fora tudo que sentimos. Isso é um veneno que vai nos corroendo de dentro para fora, até não restar mais nada. Seja forte e lute pelo que deseja, sempre. Não deixe sua felicidade esvair, ou de nada valerá tudo que já passou.

— Obrigada. — É tudo que consigo dizer, antes que as lágrimas me consumam.

— Pode passar a noite aqui, se quiser. Mas acho melhor avisar seus pais. Não quero a polícia invadindo minha casa por sequestro de menor. — Fala e ri. E que sorriso. Sincero, puro, verdadeiro.

— Eu já avisei meu irmão que estou bem, e com uma amiga. Mas pode ter certeza de que meus pais já sabem onde estamos. Eles rastreiam os carros, os celulares, tudo. Só virão se eu permitir. Pelo menos isso.

— E aí. Quem é a sortuda?

— A namorada do meu irmão. — Solto a bomba que seguro a muito tempo. A sensação foi boa, de alívio. Sorri.

— Ai, caramba! E ele sabe, quero dizer, me conta tudo.

Ficamos conversando até tarde. Ela foi muito gentil e me falou de suas experiencias, namoradas, enfim, me contou toda sua vida. Até os abusos que sofreu e as tentativas de suicídio. Fiquei feliz por ter com quem conversar, por para fora tudo que estava preso, engasgado dentro de mim. Me senti livre. Melhor, mas com um porém. Ninguém mais poderia saber de minha paixão por Elena.

Passava um pouco da meia-noite quando a campainha tocou. E agora, quem será? Ruby levantou da cama e vestiu apenas uma camiseta. Fiquei em pânico, e se forem meus pais, ou na pior das hipóteses, os seguranças atrás de mim!

Escutei risos vindo do andar de baixo e logo em seguida uma mulher de cabelos longos entrou no quarto. Puxei o lençol automaticamente, cobrindo meu corpo nú. E logo atrás aparece Ruby com um copo com água nas mãos. A loira se vira e dá um beijo de tirar o fôlego em Ruby, que larga o copo na cômoda e retribui, a beijando intensamente. Confesso que a cena me excitou.

As duas começam a caminhar em direção da cama ainda aos amassos. Não sei se fico ou saio correndo. Rubi me olha, convidativa. Sorrio amarelo, e me junto às duas. No início estava um pouco retraída, mas logo a coisa começou a esquentar. Me soltei e aproveitei cada minuto em que estivemos juntas. Foi a melhor experiência que tive, até agora.

Não recordo em que momento caímos no sono. Só lembro de acordar nos bracos de Ruby, sozinhas na cama king. Sua amiga foi embora e nos deixou. Até que por um lado, foi bom, pois fui acordada com a melhor das carícias. Descobri lugares que nem sabia que podiam me dar prazer. Foi uma noite mágica, inesquecível. Pena que as coisas boas sempre acabam.

Olho para o celular já quase sem bateria. E uma mensagem me anima, é de Elena, querendo saber onde estou e se estou bem. Tem também mensagens de mamãe e papai. E de Sebastian, se desculpando por não ter podido fazer nada, pois papai já sabia de tudo.

 E de Sebastian, se desculpando por não ter podido fazer nada, pois papai já sabia de tudo

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Mais um capítulo para vocês, amadinho!
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Data: 1/4/2020
Publicado: 2/4/2020

A namorada do meu irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora