A joia inalcançável de Amritsar

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— Não feche o portão, o papai não vai demorar – Bahuan avisou para Lahki, assim que a irmã começou a puxar o portão para trancá-lo. Eles tinham acabado de retornar para casa e o filho mais velho foi o primeiro a chegar trazendo as irmãs consigo.   

— Papai não ia deixar a tia em casa? – Alisha perguntou confusa.

— Não, ela vai passar a noite aqui, o marido dela está em Mumbai – Bahuan somente disse, enquanto fechava o carro – E a prima Shivani está vindo com ela.

— Que delícia! – Chandra exclamou, seguindo os irmãos para dentro de casa – Sabe que eu nunca agradeci aos deuses por papai não ter nenhum irmão homem? Imagina morar com primos aqui em casa!

— Nunca? Eu agradeço todos os dias quando acordo – Alisha riu do comentário da irmã. Entretanto, concordava em número e grau. A casa deles era a única que não era dividida entre muitos membros da família, pois os filhos homens permanecem na mesma casa até sua morte. As mulheres, pelo contrário, se mudam para a casa de seus maridos ao se casarem. O pai de Alisha só tinha irmãs, por benção divina.

— E eu agradeço todos os dias por vocês serem mulheres – Bahuan afirmou sorrindo para as irmãs – Adorarei morar somente com a minha família e ver vocês uma vez por ano.

— Isso nos seus sonhos, Bahuan – Lahki os alcançou acelerando o passo – Todas vamos morar com você pela eternidade!

— Não vamos não! – Nila teve que dizer. Pobre jovem, não conseguia nem pensar na possibilidade de continuar morando com seus irmãos por toda a eternidade. Os 15 anos já haviam sido incontáveis para ela.

— Claro que vamos, Nila. Só podemos nos casar depois que a "Joia inalcançável de Amritsar" se casar – Lahki implicou como se estivesse falando mal de uma pessoa que vivia a quilômetros de distância e não de sua irmã que estava ao seu lado.

Essa história de "joia inalcançável de Amritsar" perseguia Alisha há muitos anos. Quando a jovem completou 18 anos, a mãe decidiu que era a hora dela se casar. Alisha, obviamente, preferia morrer. O pai, com toda sua sabedoria, resolveu fazer um acordo com sua filha mais amada: Ela poderia decidir se casava ou não com o noivo que eles a apresentassem. Pela surpresa do patriarca, Alisha negara todas as dezenas de pretendentes.

Alisha, portanto, apresentou outro acordo: Ela casaria depois da faculdade. Contra os protestos da mãe, o pai aceitou a oferta. Alisha se formara naquele ano, mas por benção divina, ainda não fora apresentada a nenhum pretendente. Ela acreditava que a família havia entendido que ela não queria casar.

A quem estava tentando enganar? Assim que conseguiu o diploma, o pai não deixara Alisha procurar emprego em nenhum lugar. Ela não faria carreira como jornalista. O diploma era uma coisa muito simples, um complemento no seu currículo. O currículo casamenteiro.

Talvez, e essa ideia era mais plausível, a fama de inalcançável surtira efeito. Nenhum pretendente iria insistir em Alisha, todos em Amritsar conheciam sua reputação de negar todos os arranjos.

Isso tranquilizava Alisha e aterrorizava Lahki.

— Nunca vou me esquecer de quando você tinha 17 anos, Lahki. Você dizia que não se importava em ser a segunda filha, porque Alisha ia se casar muito bem e ia te dar sorte. " Alisha é a jovem mais bonita de Amritsar, isso vai ser fácil" – Bahuan imitou a voz da irmã. Lahki realmente havia dito aquilo, há 4 anos. Nada fora fácil.

— Como eu ia adivinhar que Alisha seria tão burra? – Lahki perguntara para o vento, indo na direção do quarto e fechando a porta atrás de si.

— É... o dia realmente não tem como piorar – Alisha disse para si mesma. O dia começara tão bem com as expectativas para o casamento de Jaya, mas então encontrara Ethan. Era seu sonho, ela realmente pedira para os deuses antes de dormir, mas virou um pesadelo. Toda a imagem que ela tinha dele virou trevas e agora... Estavam recebendo a tia e a prima mais insuportáveis do que a época de monções. E para piorar ainda mais, a irmã estava brava com ela só porque Alisha continuava solteira. Oh deuses, ela precisava de uma ajuda para não enlouquecer.

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