Capítulo 2

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Os raios solares adentravam tímidos a pequena janela da cela escura iluminando a prisão da pior criminosa de toda a história da floresta encantada, a brisa indicava a chegada do inverno trazendo o frio e eriçando a pele pálida da Ex Rainha. Mas dentre a sensação de frio e medo suas costas flageladas que antes provocavam uma dor extrema, agora pareciam dormentes, a pele ainda estava dolorida, seu corpo reclamava pela falta do alimento e pela posição na qual adormecera, mas a parte de seu físico que deveria latejar encontrava-se amortecida e levemente úmida, talvez o sangue e seu estado de pré despertar a estavam enganando e assim que despertasse por completo a dor voltaria. Regina moveu-se levemente e seu corpo trêmulo despertou sentindo o peso dos últimos dois anos sendo catigada, os olhos castanhos abriram-se e de imediato suas pupilas comprimiram-se na tentativa de acostumar com a luminosidade, a morena não fez esforço para se alongar pois sabia que a dor seria extrema. Todos os dias nos últimos anos Regina acordava e aguardava o escasso desjejum, mas está manhã fora peculiar, ao abrir seus olhos encontrou o novo guarda, o loiro estava de pé dentro da cela segurando um pote de cerâmica semelhante aqueles que os médicos do reino usavam para fazer remédios e um cálice, a morena varreu o compartimento com o olhar, tudo estava como sempre, sua bandeja com o café da manhã, o caderno que ela escondia ainda estava sob o fino travesseiro, as grades fechadas, o único estranho era o homem que parecia aguardar sua fala.

--Bom dia. --Percebendo que palavra alguma sairia dos lábios da prisioneira Robin falou.

--Bom seria observar o sol nascer de uma sacada. Aqui é somente mais um dia. O que é isso, Branca finalmente mandou me matar? --A mulher perguntou desinteressada enquanto apontava para o cálice. --Eu não vou beber isso. --A morena levantou-se com cuidado e segurou as lágrimas de dor que insistiam em seus olhos.

--A Rainha não sabe que eu trouxe isso, é uma mistura de ervas, vai aliviar a dor, e isso aqui é unguento, passei nas suas costas enquanto dormia. --Regina abriu os lábios em surpresa e tocou suas costas, levando os dedos até próximo ao nariz sentindo o cheiro e constatando que o guarda não mentia.

--Ninguém ensinou que não deve tocar uma mulher sem permissão? --A ex rainha exclamou irritada, caminhou até a bandeja e começou a se alimentar sem mostrar desespero. Enquanto Robin olhava para a cicatriz na maçã do rosto feminino, ele já havia visto quadros da tão temida Rainha Má, tão bela, mas agora seu corpo estava mais fraco, a pele mais pálida, e a cicatriz na maçã do rosto era relativamente grande, parecia um ferimento não cuidado, assim como os que havia em suas costas. Era desumano.

--Eu tentei acordá-lá, mas você estava em um sono profundo. --Regina riu ironicamente, lembrando-se das vezes que usou a maldição do sono. --Bom, eu só vim trazer seu desjejum, aqui está o chá, beba. --O loiro colocou o cálice no chão. --Ou não, não haverá diferença para mim. --Depositou o pote de cerâmica sobre a cama e saiu da cela deixando a morena pensativa.

Após observar como o guarda sumia pelos corredores, a morena levantou-se, pegou o cálice do chão e sentiu o odor forte torcendo os lábios, sentiu receio de beber o conteúdo, mas uma fisgada em suas costas fizeram-a não ter tempo para pensar muito, seus lábios tocaram o cálice de metal e sugaram o líquido e o sabor amargo inundou a boca da morena,  ela sentiu o impulso de cuspir, mas engoliu até a última gota, não era a coisa mais asquerosa que havia provado.

--Viu? Não era veneno. --Regina assustou-se ao ver David. --Meu amigo tem o coração puro, não suportou ver o que te fizeram. --O homem saiu da escuridão aproximando-se das grades.

--Olha só quem está aqui, saudades? Ou vai me dizer que a sem sal da Branca De Neve é melhor do que eu? --A morena provocou. O Rei sorriu de canto e respondeu em seguida.

--Eu amo a Branca. Por que contou sobre nós? --O loiro perguntou e Regina riu irônica. Suas gargalhadas eram altas e suas costas reclamavam, mas a morena nunca mostraria que Branca havia afetado-a.

O Mal Que Te CativaWhere stories live. Discover now