HUMANOS

O SOBRE HUMANO, ADÃO

Telefone tocando as 2 da manhã.

Adão desperta assim que o som o alcança.

Abre seus olhos lentamente. Adão não desperdiça movimentos ou palavras, o que dá a ele uma aura de firmeza em tudo o que faz. Adão com calma lança o braço ao telefone. Ele estava esperando essa ligação desde a tarde.

_ Geraldo, posso saber onde você está? _ pergunta Adão.

_ Acabo de tentar negociar com o funcionário da alfandega, Adão.

_ Tentar? Fico descontente em ouvir isso.

_ Ele disse que não poderá nos entregar agora, nem amanhã.

_ Você tem alguma noção do que está me dizendo? Onde está?

_ Certo. Ele disse que está na Alfandega ainda. No meio das outras substâncias proibidas! _ Geraldo faz uma pausa quando percebe que Adão não dirá mais nada, prossegue _ Há coisas que estão além de nossos limites, Adão...

_ Me escuta, Geraldo. Não quero te ver mais. _ Diz Adão com calma.

_ Mas Ad..

Adão desliga o telefone e vai até seu closet. Ele escolhe sua antiga roupa de corrida, passa na cozinha e pega uma de suas garrafas de beber água. Ele olha uma última vez para o celular e o desliga.

Adão sai na rua a correr, passa por um posto de gasolina.

Adão demitiu Geraldo por ligação. Geraldo fora treinador de Adão nos últimos 3 anos. Adão é ginasta de 24 anos. Um prodígio. Começou a praticar ginástica olímpica em sua pré-adolescência e conseguiu se desenvolver em pouquíssimo tempo. Antes mesmo dos 18 anos, Adão já havia conquistado campeonatos regionais e participado do nacional.

Adão era homem alto de corpo atlético e obstinado em seus objetivos. Talvez era isso que o fazia prodiginoso. 

Adão corria pela rua até que chegou onde queria. 

>Prédio da Alfandega <

Adão estava prestes a por toda sua carreira em jogo e invadir o vigiado prédio da alfândega.

Para um ginasta, nada era mais simples que pular aquele muro e ir até seu objetivo. 

O que fazia Adão demitir Geraldo e sair correndo na rua em plenas duas horas da manhã, era a nova droga que ele havia importado.

Adão não via problema em experimentar drogas com promessas milagrosas de desempenho. Adão era o que se pode chamar - biohacker - ele era inconformado com sua biologia, era uma espécie de super humano, que desejava ir ainda mais longe. Adão não se interessava em parecer musculoso, ele queria força real e sem limites.

O Frasco com 10 comprimidos da droga, tinha a habilidade de inibir os limites que o cérebro usa para administrar o corpo. O cérebro quase sempre deixa os braços com um limite baixo de força, afinal, você precisa tocar coisas sem empurrá-las para longe, levantar coisas sem arremessá-las ao teto. Dar tapinhas sem espancar. 

Além de que o uso de força máxima do corpo causa lesões irreversíveis ao corpo. 

Porém Adão já havia recebido uma outra droga, feita principalmente para tornar o corpo mais coeso e flexível, minimizando o desgaste causado pela droga na qual ele se arriscava neste momento para recuperar.

Adão adentrou o prédio.

O Prédio tinha alguns andares e setores. Adão não se intimidou. Ele teria até  o período que os funcionários chegariam para encontrar sua droga.

Adão com muita cautela, encontrou um mapa de risco em uma das salas que entrou, e conseguiu entender em qual setor exatamente ficavam as drogas banidas em seu país. 

Adão imediatamente foi se esgueirando até o setor, e chegando lá, e se pôs a procurar.

Já lá dentro, ele começou a entender que era surreal a quantidade de drogas enviadas por meio de encomendas comuns. Haviam drogas disfarçadas até mesmo em garrafas de coca cola. 

Adão procurava incessantemente, quando escutou passos no corredor. 

Adão se apressa para se esconder atrás da porta caso o guarda seja preguiçoso. Porém ao se movimentar no escuro ele esbarra em algo que cai e faz ruído o suficiente para que os passos do outro lado da porta se apressem. 

O plano de se esconder já era.

Adão imediatamente despeja a gasolina que comprou em toda a sala e ateia fogo.

Segundos depois, o guarda abre a porta e se assusta ao se deparar com o fogo. Esse momento de distração, foi o suficiente para Adão encaixar um soco bem abaixo de seu ouvido. 

A força colossal de Adão derrubou o guarda, que desmaiou na porta da sala em chamas. Adão arrastou o homem para fora, o desarmou e o deixou no corredor desacordado. Adão foi ao banheiro mais próximo e se molhou completamente. Então ele entra no fogo e continua procurando sua droga.

Depois de repetir o processo de se molhar 2 vezes, ele a encontra e mais que depressa começa a se mover para fora do prédio. 

Descendo as escadas com certa cautela, ele percebe que existe uma bota próximo ao último degrau, saindo de um canto escuro. 

Havia outro guarda, que ao ver a fumaça e não receber qualquer chamado de seu parceiro, matou a charada e decidiu por emboscar Adão, na única saída do prédio.

Adão atira.

_ É melhor você fingir que não tem ninguém aqui. _ Diz Adão, falando pouca coisa mais alta que o normal.

Adão atira novamente.

O novo guarda coloca a arma no chão, chuta para frente, longe de si e diz:

_ Tudo bem, tranquilo, tranquilo. Não queremos vítimas aqui.

_ Não fica no meu caminho.

Adão tapa o rosto com uma das mãos, apanha a arma do chão e anda majestosamente até a área sem câmeras por onde entrou e então grita para o guarda que o observava:

_ O que vocês fazem com aquele tanto de droga?

_ Eu só poderia te contar, se você nunca fosse sair daqui.

_ É mesmo?

Adão pula o muro e vai embora, novamente correndo, enquanto escuta bem de longe o som de sirenes. 

Adão liga o celular, uma mensagem de um número desconhecido.

_ Neste horário? Ela de novo?