2- Como eu encontrei o Veganismo (na verdade, como ele me encontrou)

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Numa uma tarde de tédio qualquer, decidi me aventurar nos meus recomendados do Youtube. Poderia ficar fazendo isso por dias, porém, parei ao me deparar com uma tumb chamativa e um título que puxou minha atenção; um recente vídeo do canal Spotniks. Meu interesse pelo assunto "veganismo" na época era praticamente nulo, e eu não sabia absolutamente nada sobre a alimentação. Eu era uma daquelas pessoas que pensava que os veganos só se alimentavam de mato, apesar de nunca ter tido nenhuma repulsa; eu simplesmente pensava que o veganismo não era relevante. Era uma porta em minha mente que ainda estava fechada.

Já havia parado de consumir carne vermelha no início do ano de 2020. Foi uma das minhas promessas de ano novo. Na verdade, já fazia algum tempo que eu havia diminuído drasticamente o consumo de gado, passando a ter uma dieta rica em carnes brancas e, de vez em quando, carne de porco (a qual deixei definitivamente antes de entrar para o veganismo, logo na virada do ano). Peixe e frango era o meu cardápio diário e, em alguns dias da semana, por acaso, ocorria um ou dois dias sem carne alguma, somente a base de ovos e carboidratos. Sentia, então, como se estivesse fazendo mais parte, até que o Flávio me incomodou (num bom sentindo, claro). O que ele falou no debate ficou na minha cabeça e não saiu mais. 

Sem pretensão alguma de deixar a carne ou tornar-me vegana, cliquei no vídeo. Foi na injustiça, porém, que parei para refletir sobre o assunto. Aprecio a coragem do Flávio em defender os animais a frente de tanta injustiça, num debate que de saudável não tinha nada. Para começar, eram 3x1, logo, dando pouca chance de argumentação para o vegano, com direito a muita sátira, deboche, e risadas forçadas por parte dos 3. Em qualquer situação, isso seria absurdo; não é preciso defender a tese para reconhecer a injustiça. Há um desrespeito enorme com a pessoa do Flávio, contando com comentários sem relação com o assunto, como suas tatuagens ou o seu jeito de ser. Isso me incomodou. Mesmo que discordasse do veganismo na época, fiquei chateada por algo tão injusto ter acontecido com alguém que havia ganhado minha simpatia logo de cara. Um pouco indignada com a proposta do "debate", depois de ler boa parte do que as pessoas haviam comentado, decidi dar uma chance para ele. Fui até o seu canal, e lá meu espírito de cozinheira pareceu nascer de novo. Ali foi o meu estopim. Ali que eu percebi que parar com o gado e com o porco, apesar de ser uma boa medida para começar, ainda não era o suficiente para mim. Eu precisava de mais.

Certos comentários do vídeo me fizeram abrir o olho, e perceber que aquilo tudo não passava de uma desculpa esfarrapada para uma coisa: comodismo. Às vezes, temos medo da mudança, e isso interfere em nosso comportamento como seres humanos. Quando vemos outros deixando hábitos ou adotando uma nova estratégia de vida e percebemos que talvez aquela forma de vida seja melhor para algo (a natureza, os animais, os seres humanos), porém, não conseguimos fazê-la, tornamo-nos, em nossa maioria, agressivos. Eu sei porque, quando me deparei com o veganismo, minha reação foi de confusão. Fiquei pensando em como seria impossível viver sem carne e laticínios, e o quanto aquilo seria difícil para mim. Recusava-me a deixar o rodízio de sushi, ou o frango assado do almoço de domingo, dizendo que aquilo nunca aconteceria. Adivinhe? Aconteceu. Nossa mente é incrível. Quando queremos mudar algo, mudamos, nem que seja de pouquinho em pouquinho, um pequeno passo a cada dia e, para quem é um pouco apressado e impaciente como eu, entrar de cabeça nessa vida e abraçá-la. É assim que eu sou. As pessoas, porém, são diferentes, por isso, é importante que ocorra o respeito mútuo. Temos nosso tempo. O importante é não parar nele.

Sinceramente, a parte mais difícil para mim foi deixar o peixe. Era a carne que eu mais gostava, principalmente o salmão. Numa noite, no entanto, eu simplesmente enfrentei aquilo e disse para mim mesma que conseguiria. Dito e feito. Lembro-me como se fosse ontem do meu último rodízio de sushi. O gosto era bom, porém, quantas coisas com gosto bom temos por aí? Descobri novas coisas que jamais pensei que fosse gostar e, com o tempo, fui esquecendo o salmão. Para ser sincera, não sinto falta alguma, já estou muito bem acostumada. Há muitas coisas que são igualmente gostosas ao salmão, porém, que não ferem nossos bichinhos. Esse é o ponto. Nós não deixamos a carne por causa do gosto. Carne é bom, sim. Mas quantas coisas boas você pode comer que não utilizam dela?

Diferentemente do que dizem os anti-veganismo no debate do Spotniks, discordo que os animais estejam a serviço dos animais. Seria mais honesto dizer que, em alguns casos, a ciência ainda utiliza animais em seus testes, no entanto, que num futuro, provavelmente próximo, isso não será mais necessário. Boicotar produtos que testam em animais simplesmente por comodismo ou para poupar recursos é essencial, até para quem não é vegano ainda, e pode ser de grande ajuda, até mesmo para o meio ambiente como um todo. Vale dizer que são novas coisas para você experimentar, sair da mesmice, e ajudar pequenos empreendimentos a crescer, em vez de comprar sempre da mesma grande marca. Sair do comum é necessário para a evolução humana. Ao abrir seu leque de oportunidades, você vai conhecer novas coisas, novas produtos e, obviamente, novas comidas que, cai entre nós, são uma delícia. Tente. Experimente coisas novas; você pode descobrir que algumas delas caem mais no seu gosto do que a carne, como aconteceu comigo.

Para mim, deixar o leite e o queijo foi moleza! Desde pequeno, sempre tive uma certa rejeição ao queijo. Na pizza, eu sempre pedi para não colocassem muito queijo, pois eu não gostava. Tinha nojo de queijo in natura, e sempre o tirava do sanduíche quando comia. Nunca gostei tanto assim, também, de leite puro. O leite me trouxe alguns problemas, que abordarei num capítulo seguinte. Um dodói maior, no entanto, foi o ovo. Eu amava ovo frito e ovo de codorna. Era a comida mais simples do mundo e, quando eu estava com preguiça, era perfeito. Quando descobri, no entanto, que é possível fazer bolos e biscoitos sem ovos e, até mesmo, "pão de queijo" sem queijo, percebi também que o ovo frito não valia tanto assim. Num dia eu desisti, e disse para meus pais "chega, não vou mais comer nada disso". Foi do dia para o outro. As reflexões de Cowspiracy, Domínio e outros vídeos que encontrei no Youtube subiram a minha cabeça, e comecei a pensar: se eu tenho acesso a tanta informação, por que não colocá-la em prática? Foi incrível. Eu pensei que nunca iria conseguir. Bom, posso dizer tranquilamente que meus bolos sem ovos e leite ficam iguais a bolos normais, até mesmo mais saborosos por conta da qualidade do cacau. Eles crescem. Sim, isso existe! Incrível, não é? Se tivesse ouvido isso meses atrás, não conseguiria acreditar.

Procure receitas no Youtube! É uma ferramenta maravilhosa, e existem várias. Você vai se surpreender ao descobrir que nós não comemos só salada, afinal, nem só de folhas vive o homem. Aproveita seu tempinho livre, pois nosso universo é enorme e, com certeza, vai haver algo que você vai gostar. Eu, por exemplo, não gosto de salsa! Conheço veganos que não gostam de alface (isso mesmo que você leu). É uma alimentação normal, e você vai se surpreender com a quantia de coisas que são veganas e você consome no seu dia-a-dia. E, foi assim, aos pouquinhos, que eu descobri coisas que jamais pensei que iria descobrir. Tente. Dê uma chance para uma mudança na sua vida. Você vai se surpreender. 


Veganismo - O Amor Além das PalavrasWhere stories live. Discover now