Cap.1 Acampando

199 48 296
                                    

O pai do Leo tinha uma van que usava nas férias para levar a família à praia. Bem, hoje a rotina mudou.

Depois de alguns minutos de discussão sobre quem sentaria em qual lugar, e de um longo sermão do pai do Leo sobre ter juízo, tomar boas escolhas e não se meter em encrenca, essa parte foi exclusiva para o Leo, a van finalmente foi ligada. Pareceu tossir no início, como um velho que se esforça demais, mas finalmente ligou. 

O assunto no caminho foi variando: desde jogos de futebol, marcas de carro, o problema com o 4G na cidade, até teorias da conspiração. Em certos momentos não se sabia em qual assunto ainda estávamos

Por fim, após um tempo exaustivo dentro do veículo que mal mantinha uma boa temperatura, o senhor Rafael pisou no freio da velha van como se estivesse disposto a parar a própria rotação do planeta. Pegos de surpresa, nenhum de nós que estávamos ali escapou de ser lançado para frente e bater nos bancos. O senhor Rafael se virou para nós com um sorriso descabido no rosto.

— Chegamos, crianças! 

— Ah! Qual foi pai? Não nos chame de crianças!

— Que isso tio Rafa? Crianças não! 

Todos ali tinham uma aversão expressiva quanto a serem chamados de crianças.

Depois da pequena confusão, todos nós descemos da van e pegamos nossas coisas. O tio Rafa deu outro sermão, demorando-se dentro da van enquanto nós precisávamos suportar o discurso do lado de fora, o sol proporcionava o calor tirânico de trinta e um graus.

Por fim, ele foi embora, nos deixando lá, na margem da estrada, de frente para a trilha que adentrava um trecho de mata.

Mas... que... maneiro...

— Mas, é só mato!

— E o que pensou que encontraria, Felipe?

Fomos andando mata adentro, a caminho do lago que ficava quase no coração do local. O lugar, eu tenho que admitir, era um dos mais bonitos que eu já vi pessoalmente.

Árvores gigantes cercavam todo o local, deixando apenas alguns raios da luz solar passar até a margem, deixando o local com uma temperatura bem inferior ao normal, mas mesmo assim, o que em um dia quente como aquele era muito agradável. Lírios d'água brotavam aqui e ali acima da linha da água, que era verde, mas transparente o suficiente para se poder enxergar o fundo do lago, salpicado de peixes de todos os tamanhos. Patos nadavam perto da outra margem, dividindo espaço com as garças que se banqueteavam com os peixinhos do lugar. 

Algumas flores e árvores frutíferas também conviviam ali. Boa parte foi plantada por pessoas que passavam temporadas perto do lago. Vários pássaros e animais viviam ali, como gaviões, corujas, beija-flores, tatus, gatos selvagens e lagartos.

Fiquei um pouco desapontado quando notei que nos afastamos do lago, mas, era melhor, já que eu nunca me imaginei morrendo estrangulado por uma jiboia. Eu não sou comida!

Montamos nossas barracas em um local plano a cinco minutos do lago, onde normalmente as pessoas faziam piqueniques. Mas, como não havia ninguém ali naquele dia, nós tomamos posse do território abandonado.

O local devia ter o tamanho de um campo de futebol, havia grama em todo o espaço, alvejada aqui e ali pelos raios solares que teimavam em ultrapassar a barreira das folhas, fazendo o lugar parecer ligado por teias de aranha gigantes, dada a calmaria naquela hora do dia. 

O resto do dia foi melhor do que eu esperava, todos nós estávamos nos divertindo, aproveitando tudo o que o lugar tinha a oferecer. Foi realmente uma pena não ter aparecido ninguém por lá. Na verdade, foi estranho.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora