Cap.24 Aprendendo um pouco mais

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 O falatório das pessoas ainda não passava de um burburinho em meus ouvidos. Tudo ainda parecia suspenso em uma realidade diferente... 

O povo de Parvapo festejava como eles próprios tivessem lutado de forma excepcional. Não sabia dizer se eles realmente se importavam com a vitória, ou apenas agradeciam internamente a oportunidade de ter algo mais pelo que comemorar. Raposa Vermelha ia na frente de todo o destacamento, Menegrario ao seu lado, mancando e mais irritado do que nunca. Quatro dos dez cavaleiros que o acompanhavam estavam retornando envoltos em panos brancos, mortos por algum escavador qualquer. O povo cumprimentava quem podia, oficial ou soldado comum, estendendo as mãos e gritando agradecimentos.

Eu caminhava ao lado dos outros soldados, sujo de poeira e extremamente cansado, com fome. A espada havia se perdido no fim da batalha, quando o metal entortou em um golpe muito forte, quebrando-se em seguida. Mas quase não havia sangue em mim. Algumas gotas respingadas de golpes próximos era tudo o que se via de vermelho em minhas roupas.

Toda aquela caminhada até o castelo estava me cansando. A chuva dos últimos dias havia dado trégua, o que deixava o céu limpo, sem uma nuvem que servisse de alento. O campo ainda estava encharcado e lamacento, mas a capital já ondulava no sol do início da tarde. Um cavalo esbarrou em mim, e por pouco não caí na rua de pedra. 

Ainda está me vigiando...

Uma mulher montada em uma égua marrom havia ficado de fora do combate, às margens, observando cada um dos meus movimentos na encolha, e eu não teria percebido se o mundo não estivesse tão lento, e minha atenção ligada ao extremo.

Rever a fachada do castelo iluminada pela luz solar era reconfortante de certo modo. Agora, entraria ali como o Escolhido, e Leopoldo perceberia que talvez fosse melhor agir com mais cautela. Mas pelo que sabia, era Venatrix quem realmente reinava. E ela já agia com cautela.

Ao menos ser reconhecido aqui não teria consequências lá fora. Qualquer alarde sobre o que eu havia feito seria incapaz de escapar, e isso era reconfortante, de certa forma.

O castelo não estava muito diferente das ruas. O povo festejava aquele vitória como se pertencesse a eles. O clima da noite anterior ainda pairava no ar, então, muitos aproveitaram a comemoração para se embebedar um pouco mais. A visão de comida me fez vacilar e dar um passo em falso. Absolutamente todos os meus pensamentos se desvaneceram na visão de comida.

Leopoldo se aproximou bamboleando em panos, uma grande melancia verde e pouco saudável. Um prato repleto de doces vacilava em sua mão esquerda, e com a direita deu tapinhas no meu ombro.

— Sabia que não decepcionaria! - Disse sorridente, sua mão sujando ainda mais minhas roupas. Algumas pessoas lançavam olhares oblíquos para o garoto que acabava de invadir sua festa particular para comer bolos, mas eu simplesmente não ligava para o que pensavam.

— Raposa Vermelha foi um idiota. No momento de maior vantagem, desistiu da luta e quis voltar para casa, talvez querendo elogios. Menegrario estava certo em não querer que os escavadores fugissem, pois alguém quer muito saber onde eu estou.

— Ora! Deixe que saibam, rapaz! O povo sem nome ainda é forte, deixe que venham e os deteremos como o detemos agora há pouco.

Por um momento, parei de comer para olhar nos olhos daquele homem estúpido. 

— Vocês foram armados e blindados até não poder mais, quatrocentos contra quatrocentos, e perderam mais de cem. Isso porque os escavadores estão servindo como lacaios para alguém. - Mastiguei, engoli e olhei nos olhos de Leopoldo mais uma  vez.- Aquilo era um mísero grupo de busca, pelo que seus oficiais acreditam. Fiquei na ponta da fileira na volta para cá, ouvi algumas coisas em meio à gritaria. Um grupo de busca, compreende o que isso significa? Não vão pará-los com essa facilidade, e quando os chefes deles chegarem, estarão perdidos. 

Nas Ruínas AntigasWhere stories live. Discover now