10 capítulo

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Estacionamos em um supermercado 24 horas. Para a minha surpresa, assim que descemos Vicente me ofereceu a mão e entramos assim: como dois namoradinhos em direção a fila dos salgadinhos.
Devia ser quase uma hora da manhã. Lucy estaria dormindo sem preocupação uma hora dessas. Entramos nos pacotes de biscoito rodeados por chocolate branco e gotinhas de chocolate.
Senti os olhos de Vicente em mim. Ruborizei agora um pouco mais consciente do que aconteceu e do que estava acontecendo.
Ele jogou na cesta três latas de leite condensado e alguns morangos sem graça. Reprimi uma risada quando vi aquilo.
- está tentando me causar diabetes?- distraído com o número de promoções, a única coisa que ele fez foi assentir.
- provavelmente.
Agora, ele estava na minha frente carregando a cesta e balançando (acredito que de forma provocadora, mas fechei a boca) a bunda maravilhosa como um modelo.
Ele fez questão absoluta de pagar, porque, segundo ele, havia sido ideia dele, não minha.
Sentamos na calçada na frente do supermercado. Pareciamos bons amigos, o que era bom, já que assim ninguém desconfiaria de termos feito sexo oral horas antes.
Vicente pegou uma das latas, uma colher e uma tesoura. Assim que a abriu me entregou com um meio sorriso.
Senti um aperto. 
Ele começou a comer o doce bem antes de mim com uma colherada valiosa. Fiquei observando o jeito em que ele fazia as coisas sem parecer preocupado com nada.
E de repente uma coisa me veio a cabeça: quais eram as possibilidades de eu me apaixonar por Vicente Blythe?
Maneei a cabeça com veemência.
Existem um milhão de motivos que tornava aquele lance impossível: primeiro que ele não queria nada sério assim com ninguém, segundo que existia a Sarah (bem que eu não sabia como seria a reação dela, mas mesmo assim...) e terceiro a nossa idade.
Não que realmente existisse um lance pedófilo, no entanto, se o meu pai descobrisse sem dúvidas nenhuma Vicente ganharia uma apartamento e um pijama de xadrez.
Mas não existia nenhuma possibilidade de rolar algum a mais entre nós dois. Não ali, não daquele jeito.
Além disso, Blythe nunca se apaixonaria por mim.
E nem eu por ele.
Ou esperava que não.
- como é o seu nome completo?- perguntei curiosa.
Ele deu uma última chupada na colher.
- é serio que você estava pensando nisso nesse tempo?- as sobrancelhas se uniram em um charme especial.
- talvez...- dei a primeira colherada e delirei. Meu Deus aquilo era muito bom!
- Vicente Mathew Blythe.
Suspirei encantada.
- eu gosto de Mathew. - revelei. - Sabia que Vicente tem origem italiana?
Ele assentiu se aproximando.
- A minha mãe uma vez assistiu um filme que o nome do italiano era Vicente. - contou divertido. - assim que eu nasci ela me registrou com esse nome.
- uau!- exclamei surpresa e impreencionada com a história. - Essas coisas do destino só não acontecem comigo.
- qual é a sua história?- engoli seco. Senti que aquela pergunta já ultrapassava os limites do que estávamos falando.
- a minha mãe quando tinha 12 anos abriu um livro de Nova York de autoras famosas e importantes tentando a sorte de um nome legal...- soltei uma risada com a lembrança. - quando ela abriu o livro, o seu dedo estava encima do nome Mary Shelley.
- a sua é muito melhor do que a minha!- colocou a mão no peito em sinal de tristeza. - agora, como é todo?
Ruborizei um pouco antes de responder.
- Mary Scarlat Shirbert.
Não tive coragem de encara-lo. Não sei porque tinha vergonha disso, ou talvez nem fosse disso, fosse da história em si, das lembranças ela trazia.
- Escarlat?- arquejei.
- pois é!- me levantei extasiada. - a minha mãe conta que quando eu nasci, o meu cabelo era tão vermelho que ela não teve dúvidas quando escolheu Escarlat. - fiquei me balançando com a lata de leite condensado nas mãos.
- Eu gosto do seu cabelo. - o observei dar de ombros satisfeito. - mesmo que ele tenha escurecido...- abri a boca perplexa.
- sabe quanto tempo demorou pra poder chegar nessa tonalidade?- apontei para o meu cabelo.
Antes ele era muito vermelho, em uma condição quase assustadora, mas agora (depois de 14 anos) ele tomou um castanho avermelhado, não tão escuro quanto eu queria, mas mesmo assim.
- eu achava bonito. - deu de ombros.
- mas você não me viu assim. - protestei.
- Sarah deve ter umas três fotos suas na cabeceira da cama. É claro que eu vi. - mostrei um sorriso meio afetado.
- Os meus coleguinhas do terceiro ano não achavam isso. - contei.
Ele se levantou jogando a lata no lixo próximo. Devia ser quase três da manhã. Me sentia pesada, não tanto como antes.
- Claramente os seus amiguinhos do terceiro ano não sabiam de nada. - joguei o cabelo pra trás.
- É claro que não. Nenhum deles se tornou uma pessoa inteligente depois do fundamental.
Ele soltou uma risada. Maravilhada, acabei me aproximando sem resistir.
- Sabia que existia um pouquinho de maldade em você. - suas mãos enrolaram-se nos meus fios, assim como na nossa primeira noite.
Arfei.
- disse que eu não devia achar que existia algo a mais depois daquela noite. - lembrei-o sincera. Nunca mais beberia.
Os lábios dele tocaram a minha pele fria e ainda molhada pela chuva.
- um de nós dois tem que conseguir fazer isso, não é?- ele me beijou.
Não durou nem um minuto, mesmo que tenha parecido uma eternidade. Ele se afastou me deixando sem fôlego.
- você ainda está bem molhado...- murmurei quando as minhas mãos espalmaram na camisa molhada e colada.
- olha quem fala!- acusou oferecendo a mão pela segunda vez naquele dia e me levando para o estacionamento.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora