13 capítulo

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Não consegui pregar o olho a noite. Lucy não me chamou para o jantar e eu não fiz tanta questão. Eu já estava aceitando o fato de que tenho uma queda por Vicente Blythe. Sempre tive, mesmo que eu soubesse o safado que ele era.

Mas eu não sabia que ficaria tão magoada com a declaração dele para a Sarah. Os sapatos estavam jogados perto do guarda roupa e o meu orgulho também.

Graças a Deus eu não tive aula no outro dia. Saí cedo para caminhar perto do prédio e sem querer chegar perto da casa da minha amiga, dei várias voltas no parque.

Eu precisava afastar a minha mente de tudo que envolvesse Vicente, carros, amigas, segredos e desejo. Aquilo não tava me fazendo bem, definitivamente não estava.

Quando voltei pra casa, encontrei Luísa na minha cama (de novo). Fingi que não estava vendo nada e fui procurar uma toalha no meu guarda roupa ainda bagunçado.

- eu sei da verdade, Mary. - o meu nome foi proferido com um tom enojado.
Retesei nervosa.

- não sei do que você está falando. - fugi do assunto dando meia volta e abrindo a janela.

- não se faça de sonsa, Mary!- ela estreitou os olhos e se aproximou de mim. - sei sobre os empréstimos e da mesadinha que você recebeu durante todos esses meses.

Arregalei os olhos. Dei de ombros não vendo motivos para mentir.
- E o que você tem haver com isso?

- Papai não sabe disso!- a voz era de incredualidade. - Deixe ele desconfiar que você anda falando e pedindo dinheiro para aquela mulher...- a peguei pelo braço.

- Aquela mulher é a minha mãe!- a empurrei do quarto. - Se você ousar me ameaçar mais uma vez...

- vai fazer o que?- ela parecia exaltada.

- nada. Fala sério! Você tem o que? 14 anos?- perguntei irônica.

- 15! 15 anos!- revirei os olhos diante da clara chateação da minha irmãzinha.

- e eu tenho 17. Faça o seguinte: pegue as suas provas e mostre para o meu pai tudo, ok?- fechei a porta na cara dela.

Dei uma olhada pro quarto bagunçado com preguiça de tentar resolver alguma coisa e fui pro banheiro. Existia um lugar que me deixaria leve.

A galeria de Campos era a única de Forks e também a única na minha vida. O ambiente frio me fez sorrir. Não estava muito cheio como sempre e como sempre eu andei em direção do meu cantinho da eternidade.

A exposição nova havia saído há duas semanas e isso não me impediu de chegar só depois do prazo. Alguns quadros estavam sendo encaixotados e outros ainda emolduravam as luxuosas e antigas paredes.

Impedi o ânimo de tomar conta de mim quando vi a pintura abstrata, uma cópia da original, de Van gogh. Noite estrelada sempre despertava o melhor em mim, e nos últimos tempos era tudo que eu precisava.

Reprimi a vontade de toca-la, mesmo com a fita de segurança em volta. Seria loucura e eu ainda seria expulsa do local, mas só um toquinho...

- precisa de ajuda?- virei nervosa pro menino com a roupa de atendente. Mostrei os dentes e encarei a minha posição ainda distante.

- na verdade eu estou bem. - murmurei ainda nervosa. Ele assentiu, no entanto não fez nada pra me deixar no meu estado de solidão outra vez.

- você é nova por aqui?- perguntou observando o quadro da mesma forma em que eu encarava.

- frequento há muito tempo. Você é novo por aqui?- ele riu.

- fui contratado há pouco tempo, mas costumava frequentar esse lugarzinho antes. - assenti. Ele tinha uma pinta de artista com o cabelo quase nos ombros, preso em um pequeno rabo de cavalo e olhos azuis emoldurados.

- Você é de Forks?- idaguei interessada.

- na verdade nasci aqui, mas a minha família é de origem italiana, então cresci por lá quase perdido. Depois da faculdade me mudei pra cá. - o encarei chocada.

-pra cá?- a minha voz saiu impreencionada. Se eu tivesse a oportunidade de ir para a Itália eu iria, sem dúvidas.

- Surpresa?

- muito, quer dizer não que Forks seja ruim, mas pra um cara que gosta de artes esse lugar aqui é uma espelunca. - contei achando graça.

- eu sei, para os meus pais também foi um choque antecipado. - revelou amistoso.

- Eu acho que os meus pais também ficariam chocados. - fiquei imaginando como o meu pai reagiria de contasse que por acaso eu estava tentando ser admitida para a Faculdade de Artes em Nova York e não para a de corretora de imóveis em Forks. Seria no mínimo terrível.

- pra você ver como as coisas funcionam. Mas pra mim, arte existe em todo o lugar. Você ficaria impreencionada com o que existe do lado de fora dessa casinha. - apontou.

Fiquei refletindo sobre isso quando o meu celular começou a vibrar no meu bolso de trás. Mostrei a tela de ligações pra ele que prontamente assentiu e saiu.
- alô?- me dei conta que não havia perguntado o nome dele.

- Mary?- tremi ao reconhecer a voz.

- Vicente?- por favor não, não, não. Ouvi um suspiro do outro lado da linha e desabei. Era ele.

- oi, é sou eu. - revelou sem nenhuma surpresa da minha parte.
Escondi a felicidade que brotava no meu peito ao receber a ligação dele. Pigarreei ansiosa.

- aconteceu alguma coisa?- minhaa botas faziam um barulhinho a medida que eu andava.

- eu pensei que você tivesse com a Sarah, mas aí descobri que não. - deu uma risadinha. - Fiquei com medo de parecer estranho ligando pra você.

- Não imagina. Fico feliz de ter ligado. - mordi a língua no mesmo instante. "Fico feliz?"

- Que bom, porque assim não vou ter que devolver o ingresso. - minha respiração parou.

Senti a presença calorosa antes mesmo de virar. Quando ele me tocou no ombro, virei e encontrei os olhos verdes envergonhados.

O irmão da minha melhor amigaWhere stories live. Discover now