Madrugadas frias e cobertores

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"Ei."

Meus olhos demoram um pouco para abrir, mas o toque no meu nariz ainda permaneceu em um ritmo contínuo, um deslizar pela ponte até a ponta. Preferi ignorar, pensando que talvez fosse alguma mecha do meu cabelo que teria se desprendido do rabo de cavalo frouxo que tenho mania de fazer para dormir, talvez até mesmo fosse o lençol fazendo cócegas no meu rosto, mas o toque continuou. No mesmo ritmo, com o mesmo tom e de um tato já tão conhecido pelo minha pele. O seu.

Foram seus olhos que não demoraram muito tempo para se transformarem em duas riscas que vi assim que consegui enfim vencer o sono. Por um momento, voltei a pensar que fosse um devaneio do sono, mas você continuou a brincar de cutucar a ponto do meu nariz, segurando o riso, com os cabelos já meio longos que se espalhavam pelo travesseiro. E o seu cheiro também estava ali, se alastrando mais uma vez pelas minhas cobertas. Pisquei ainda algumas vezes e me aproximei, tirando as várias camadas de lençóis que estavam entre nós. Você não havia avisado que apareceria naquele dia.

Na verdade, eu não achava que te veria pelo menos pelas próximas semanas, achei que seria mais um período de longas conversas por mensagens de texto e algumas ligações, umas rápidas e outras mais extensas, que por vezes já entraram em madrugadas sem fim. Você sempre gostou de falar que se fosse por você, não precisaria nunca dormir, e eu sempre ri disso, falando que você é meio doido.

Minha voz ainda estava rouca quando comecei a falar baixinho, meio depressa, porque você sabe como sempre fico meio elétrica quando enfim nos encontramos. Falei que se soubesse que você vinha, teria ficado acordada, mas você só deu de ombros, falou que não queria atrapalhar meu sono, e que caso alguma coisa desse errado, não queria me deixar esperando.

Te abracei, afundando meu rosto na curva do teu pescoço, sentindo o cheiro fraco do perfume de tom meio cítrico. Entrelacei minhas pernas nas tuas, mas encolhi meu pé quando tocou o seu e reclamei que eles estavam gelados, assim como as pontas dos seus dedos que tocaram de leve a minha cintura. Você começou a rir, e de propósito abraçou as minhas pernas com as suas, e seu toque antes leve sobre a pele que a blusa havia deixado a mostra se tornou mais forte, fazendo com que eu me perdesse um pouco mais dentro do seu abraço. Fingi reclamar mais um pouco, mesmo que minhas ações demonstrassem o oposto do que eu dizia num tom baixo e ainda meio sonolento. Você mais uma vez me disse que eu deveria lembrar de usar meias, porque mais cedo ou mais tarde sempre reclamo do frio, e como sempre, eu disse que me lembraria da próxima vez.

Mas eu não me importava com o frio, porque você estava ali.

Bagunçando meu cabelo, meus lençóis, rememorando seu toque, deixando de novo seu cheiro por todo o apartamento e preenchendo ele com o som da sua risada. E era apenas isso que minha mente repetia, era apenas nisso que todo meu organismo se concentrava.

Você.

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⏰ Last updated: May 06, 2020 ⏰

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