Escuridão

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Moro com minha irmã e meu sobrinho Marcos. Ele não é de falar muito e eu sou grata por isso, visto que seus assuntos geralmente são um tanto macabros.

Moramos em uma casa confortável com três quartos, o que é ótimo, já que meu sobrinho está entrando na adolescência e precisa de privacidade. Com a idade ele tem se tornado cada vez mais estranho, quieto e irritadiço.

Todos os dias quando volto do trabalho eu o vejo na sala jogando videogame, usando sempre o mesmo moletom preto com o capuz cobrindo a cabeça. O moleque não acende uma única luz e eu sempre levo o maior susto com ele.

Não posso culpá-lo, também tive minha fase de usar preto constantemente. Dizia que era gótica, apesar de nem saber na época o que isso significava. Porém, eu não tinha esse hábito de ficar no escuro. Nunca gostei de escuro, aliás.

Hoje cheguei um pouco mais cedo em casa. Minha irmã ainda estava no trabalho e meu sobrinho estava sozinho. Como sempre, ele havia deixado a casa na completa escuridão.

Quando entrei, vi seu vulto escuro na sala, de costas para mim. Fiquei me perguntando se me assustava assim de propósito.

— Oi, Marcos, tudo bem?

— Tudo bem, tia. — Respondeu baixo, sem se virar.

Continuei meu trajeto, procurando um jeito de acender as luzes, mas não conseguia achar o interruptor. Estava indo para o meu quarto e liguei a lanterna do celular para enxergar o caminho.

Dei um grito quando uma mão, saída de uma das portas abertas, agarrou minha perna. Para meu completo pavor, parecia o meu sobrinho, encolhido no chão, completamente apavorado.

— Tia, não acenda as luzes.

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