CAPÍTULO 22 A FESTA

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A FESTA


Os preparativos começaram nas primeiras horas do dia. Meu pai vacilou quando disse à mamãe para tomar conta de tudo relacionado à parte dos jovens pois, uma vez que ele não tinha paciência, ele ficaria com a parte dos adultos. De cara, ela convidou dona Luíza e as duas mudaram tudo.

― Lu, o que acha de espalharmos umas mesas por aqui? ― Minha mãe fazia gestos com as mãos, mostrando o local. Eu nunca tinha visto minha mãe tão feliz.

― Não, eles são jovens, vão querer dançar. Ainda bem que passou cimento ali perto da casinha da árvore, lá vai servir de dancing e lá naquele canto pode ficar a mesa de som com o DJ. ― Dona Luíza apontava com a mão esquerda o local e, com a direita, falava ao telefone.

Quando eu ia passando para levar suco para as meninas lá em cima, ouvi meu pai o reclamando. Estava fulo da vida com a presença de dona Luíza na nossa casa, eu não entendia por quê.

― Já não chega a filha, agora também tenho de aturar a mãe socada dentro da minha casa. ― Ele apontava com o garfo grande com dois dentes para o local onde dona Luíza, inocente, dava ordens aos rapazes da decoração.

― Nossa casa, você quer dizer. A Luíza entende muito de festas, mais do que eu, e outra, ela é minha amiga, sempre foi. Esteve presente no nascimento de cada filho, é justo que participe do aniversário também ― mamãe falava baixo para não chamar a atenção das pessoas que por ali circulavam. Eu já ia saindo quando ouvi a insinuação que ele fazia:

―Eu sei muito bem o que ela quer.

―Pare agora mesmo. Eu sei muito bem o que está insinuando e não quero me estressar. Hoje é o aniversário dos meus filhos e quero que seja tudo perfeito para eles. ― Se eu não estivesse escondida, teria dado um abraço na minha mãe.

― Eu não gosto dessas duas direto aqui dentro.

― Qual o teu problema? Tem raiva de quê? Delas não viverem de cara amarrada como você? Que culpa elas têm se são felizes?

― São duas depravadas, isso é o que elas são. ― Papai era terrível quando cismava com uma pessoa, mas dessa vez minha mãe não ficou calada.

― Alberto, vá cuidar do seu churrasco. Daqui a pouco seus amigos chegam e sua festa começa. Deixa que da minha filha cuido eu.

— Isso está errado, essa menina não sai de dentro dessa casa, já chega parecendo o dono e vai direto para o quarto da Marina.

— Não vejo problema nenhum, elas são muito amigas, sempre foram, desde miudinhas — respondia minha mãe.

— Essa menina parece homem, vê como ela olha para sua filha? A daqui é inocente, mas essa aí, não sei, não. Ela puxou a mãe. Se o velho Luís fosse vivo agora, morreria de desgosto, isso é uma desgraça para um pai.

―Não vejo por quê. O mais importante é os filhos da gente estarem bem, é para isso que criamos eles, para serem felizes. Vai me dizer que, se um deles resolvesse ser homossexual, você renegaria seu próprio sangue?

― Eu expulsaria daqui de casa. Se quer viver na safadeza, pode viver, mas bem longe do meu teto. Eu não criei filho para ser viado.

― Só mesmo você para ter um pensamento de merda desses. Homofobia é crime, todo mundo tem direito a escolher como quer viver, criatura, ninguém manda no coração.

Aí estava a resposta para tudo que vinha me atormentando nos últimos meses. Receber a aprovação da minha mãe e a certeza de que ela me aceitaria mesmo que estivesse decepcionada comigo. Meu maior medo de assumir quem eu era para o restante da minha família era o receio de me rejeitarem, mas eu estava decidida, de hoje não passava. Saí de fininho para não perceberem que eu estava ouvindo a discussão deles e subi com a jarra de suco que estava descongelando de tanto que demorei.

🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)Where stories live. Discover now