Capítulo 1

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Fawn de vez em quando era pega por uma das fadas mais velhas enquanto tentava fugir para o mundo humano, sempre fora fascinada pelos homens das histórias românticas contadas pelas fadas e pixies mais aventureiras, histórias de uma era longínqua e a muito esquecida, ela não sabia bem o porque, mas um dia a rainha Titânia proibiu todo povo feérico sob o seu domínio a sair de suas terras, isolando o contato com humanos, mas ainda assim vez ou outra a cada século algum faery tentava desbravar a floresta para encontrar o mundo dos humanos, também chamado de Arrant, numa certa noite a jovem feérica planava de uma árvore para a outra, se escondendo entre os galhos nas copas das árvores quando ouviu duas pixies cochicharem sobre o caminho para Arrant.

-Você viu que a magia que esconde o lago está enfraquecendo? - Cochichou a mais velha

- Sim, ontem mesmo eu vi um humano com uma arma, um caçador!

A pixie mais velha esfregou as mãos em seus pequenos bracinhos como que para espantar o frio.

- Passar pelo lago se mostra cada mais difícil, as sirens tomaram conta daquele lugar, muito em breve o último portão ao sul vai se fechar e perderemos todo o contato com os homens. – A pixie mais velha balançava a cabeça em desaprovação enquanto falava.

De repente as duas se calaram e um silencio sepulcral preencheu o ressinto, Fawn se espremeu mais entre os galhos prendendo a respiração, um guarda fae pousou bem em frente as duas pixies que se enrijeceram no instante em que os pés do fae tocaram o chão, a pequena fada estremeceu.

O guarda fez um pequeno aceno de cabeça para as duas pixies, as pequenas feéricas continuaram olhando para o fae, estarrecidas as pixies mal respiravam, seus olhinhos esbugalhados encaravam o grande feérico a sua frente, Com um pigarro e balançando a cabeça em uma negativa o feérico pediu para que as pixies voltassem para suas casas pois já estava tarde, assim que ouviram a voz melodiosa do guarda as pixies entraram em transe, se levantaram e partiram.

O som de outro pigarro subiu em meio aos galhos chamando a atenção de Fawn que ao olhar para baixo encontrou dois olhos dourados a encarando.

- Meinha doce e querida Fawn, você sabe que espiar os outros é feio não sabe? – o jovem guarda deu um sorriso zombeteiro ao terminar de falar.

Com um leve bater de asas a pequena fada voou por cima dos galhos e jogando seu peso em direção ao solo começou a planar até estar ao lado do fae que agora a recebia com um sorriso meigo e um olhar doce.

- Eu não sabia que seguir os outros tinha deixado de ser uma coisa feia tbm Caspian. – Fawn tinha um olhar felino que dizia analisar a "presa" ao seu lado.

Caspian começou a rir do modo como ela o olhava, fazendo com que pequenas mechas de seu canelo loiro caíssem em seus olhos, Fawn deu um pequeno sorriso enquanto tirava pequenos galhos da armadura do irmão mais velho.

- Agora falando a verdade Caspian, você não deveria estar em patrulha?

- Bem... sim e eu estou em patrulha, estava voando por perto quando vi suas asas entre a folhagem, você precisa melhorar nisso se quiser entrar para a guarda. – Enquanto falava o riso na voz do fae lentamente esmaecia.

- E quem disse que eu estava tentando me esconder? Eu ia assustar as pixes para pegar algumas lágrimas de susto, afinal você sempre precisa de curativos quando volta do seu turno.

Caspian nada disse, apenas concordou com um leve menear de cabeça, mas algo em seu olhar dizia que ele não acreditava no que a irmã havia lhe dito e um pressentimento ruim lhe surgia na boca do estômago e apesar da vontade de pegar a irmã e carregá-la para casa fosse gritante, ele não o fez, apenas passou sua mão enluvada pelos cabelos cor de areia.

- Eu preciso ir agora então vá para casa e me espere, tenho uma surpresa.

E antes que Fawn pudesse responder algo o vento forte lhe jogou os cabelos no rosto, ao abrir os olhos viu seu irmão desaparecer entre as nuvens no céu, e, em pensamentos disse.

"Infelizmente meu caro irmão creio que não estarei aqui para descobrir sua surpresa"

Fawn esperou que a madrugada se aproximasse para assim poder sair sem que nenhum faery a visse, estava ansiosa para cruzar o lago e passar pelo portão sul, indo de encontro às grandes cidades humanas, assim que pôs os pés para fora de sua pequena casa um arrepio de excitação lhe percorreu, fez com que suas asas se juntassem ao corpo para que ocupassem menos espaço e começou a percorrer a trilha até o lago em silêncio, de vez em quando tinha que parar para desviar de alguma planta ou animal que dormia pela trilha, graças a Titânia os vagalumes e a luz do luar iluminavam bem o caminho para que a jovem féerica não se perdesse ou se machucasse, ao chegar ao lago percebeu que ali seria o momento de verdade, deveria usar toda a força de suas asas para que pudesse voar bem alto pelo lago, pois se não conseguisse as sirens a capturariam e teria somente duas opções, ou elas a devorariam ou a entregariam aos guardas.

Abrindo bem as asas e tomando fôlego ela levantou voo com um poderoso bater de asas, primeiro Fawn tomou distância do chão, se certificando que estaria alto o bastante para que quando atravessasse o lago não fosse pega pelas sirens, a pequena fada começou a planar no alto, batendo as asas de vez em quando para manter a altitude, abaixo dela uma melodia emergia das aguas agitadas do lago, varias sirens cantavam tentando atrair sua atenção, Fawn tampou os ouvidos com as mãos de modo a tentar abafar os sons.

Um arrepio de alívio percorreu sua espinha quando seus pés tocaram a grama do outro lado, mas apesar da vontade de sentar e observar a paisagem a sua volta ela correu, sentia algo chamando por ela em seu íntimo, suas pernas ágeis pulavam sobre arbustos e pedras numa corrida desenfreada pelo que quer que a estivesse chamando.

Seus pés se arrastaram pelo chão em uma parada abrupta, a sua frente se erguia um belo arco feito em pedra, algumas palavras em feérico estavam escritas nos blocos de pedra, Fawn passou os dedos pelas escritas empoeiradas, ansiedade a consumindo viva, respirando fundo ela tomou coragem e correu pelo portal sentindo quando a magia se enfraqueceu em seu corpo, ao chegar ao outro lado do portal foi com espanto que ela percebeu que a estrutura de pedra do portal já não estava mais atrás de si, tudo o que via era a folhagem verde das arvores e feixes da luz do luar que passava pelas copas.aparecia em seu campo de visão era apenas árvores e mais árvores.

De repente ela ouve o som de galhos se quebrando sob o peso dos pés de alguém, o medo a fez se arrepiar por inteiro, com um pouco de mágica fez com que suas asas se unissem a pele de suas costas formando um desenho sobre ela, seria mais fácil andar entre os homens se aparentasse ser como eles, outro galho quebrado e dessa vez mais perto, seu coração agora batia em seus ouvidos, já se preparava para correr quando ouviu um som diferente, algo como o tilintar de metal e ao olhar para o lado notou nas sombras um homem segurando um estranho objeto de ferro e madeira, ele puxou o dedo e um barulho alto ecoou pela pequena clareira em que estava, instintivamente se abaixou, segundos antes do projétil de metal colidir com a madeira da árvore atrás dela.

Seus olhos se arregalaram de maneira selvagem, em poucos segundos Fawn estava em uma corrida ensandecida pela floresta, pulando arbustos e pedras, vez ou outra se arranhando nos galhos das árvores, atrás dela a respiração ofegante do homem ficava cada vez mais distante, a pequena fada não soube dizer quando parou de ouvi-lo, ela só deixou de correr quando bateu com a cara em uma cerca branca que fazia divisa com a floresta que acabara de sair, notou que do outro lado da pequena cerca havia uma pequena casa, tão pequena que a lembrou de seu lar, que na verdade era nada mais que um pequeno quartinho perto da fonte das ninfas, envolvendo seu corpo com os braços feridos Fawn abriu um pouco as asas para voar até a casinha, assim que se viu de frente à porta logo tratou de esconder novamente as asas.

Assim que entrou no cômodo não pode evitar a onda de choro que lhe abateu, ela não esperava que o mundo de Arrant fosse tão cruel, em algum momento durante o choro naquela noite ela caiu no sono rezando para que o outro dia não fosse tão ruim quanto este fora.

In a FairytaleWhere stories live. Discover now