Capítulo 2

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Os primeiros raios de sol já atravessavam a janela do quarto de Daniel quando levantou, estava decidido desde a noite anterior que consertaria o degrau solto da escada, obviamente essa decisão só foi tomada pois o mesmo furou o pé em um dos pregos soltos.

Serviço braçal infelizmente não era sua especialidade, na verdade a botânica era de fato seu lazer favorito, como o bom médico que era ele cultivava as mais diversas plantas em sua pequena estufa no quintal, o jovem médico decidiu que antes de pegar o martelo molharia as plantas, uma vez que todas as suas ferramentas ficavam em um quartinho ao lado da estufa.

Após cuidar de suas amadas plantas, certificando-se de que cada uma recebesse sua devida atenção, estremeceu ao lembrar do que viria a seguir, tentando não pensar muito se encaminhou para o pequeno quartinho anexado a estufa, sua disposição quase no zero para pegar as ferramentas.

Mas ao tentar abrir a porta percebeu que algo parecia fazer uma certa pressão sobre a mesma, foi necessário empenhar um pouco mais de força para que ele conseguisse enfim abrir a porta, o que ele não esperava era encontrar uma moça seminua desmaiada no local.

Daniel deu um pulo para trás com o susto, batendo a cabeça no batente da porta, gemendo o jovem medico resolveu se aproximar da moça deitada no chão, primeiro observando o leve movimento de subir e descer de seu peito evidenciando que a jovem estava viva, com um pouco de delicadeza lhe tocou o braço alvo chamando-a bem baixinho para que ela acordasse, o rapaz já estava quase desistindo da tentativa de acordá-la quando viu seus olhos se abrirem.

Bem devagar um par de olhos castanhos o encarou, primeiro com confusão e segundos depois se abriram selvagemente, a fada o empurrou com toda a força para que ele fosse para trás, fazendo com que Daniel emitisse um silvo de dou ao bater suas costas contra uma pequena mesa.

Fawn já estava se levantando para começar a correr novamente quando ouviu o silvo do pobre rapaz, sua natureza de fada curandeira pulsou em seu peito, por mais que quisesse romper em mais uma corrida ensandecida o sibilo do rapaz a desarmou, e, ao vê-lo com a face contorcida em dor não foi mais capaz de dar sequer um passo na direção contrária a dele, de vagar e com cuidado a pequena fada se aproximou do homem que tentou recuar para trás colocando uma das mãos em volta de seu torso, com calma Fawn colocou sua pequena mão sobre a dele, seu semblante transparecia a mais pura tranquilidade.

Daniel sentiu a palma da garota sobre a sua mão, e o calor que fluía dela era quente e agradável, um leve brilho emanou de sua pequena mão e então a dor latejante que ele sentia em suas costelas aos poucos foi desaparecendo, um sorriso ínfimo tomou conta dos cantinhos dos lábios da jovem a sua frente, ela tinha um olhar tão tranquilizante que Daniel não conseguia sentir outra coisa a não ser paz.

A jovem fada estava se preparando para levantar e sair do cômodo quando o homem gentilmente lhe segurou o pulso, algo em seu peito lhe dizia que não precisava temer o rapaz a sua frente e então voltou-se para ele esperando que fizesse algo.

- Como você fez isso? – a surpresa evidente na voz do rapaz fez com que Fawn risse.

- Veja bem, eu sou uma fada curandeira então isso é o básico. – disse como se fosse um pouco óbvio.

No entanto o rosto do rapaz tinha se tornado o próprio ponto de interrogação, Daniel não sabia se tinha ouvido mal ou realmente a garota a sua frente tinha se autointitulado uma "fada", com que para ter certeza o jovem pigarreou e repetiu a palavra.

- Fada?

- Sim, você nunca viu uma fada? – a naturalidade com a qual a jovem falava assustava o rapaz.

- Bom, fadas sempre foram partes de lendas desde que eu me lembre, mas de onde você veio?

- Eu passei por uma espécie de portal, mas ele desapareceu e então apareceu um homem estranho com uma arma e então eu corri e acabei parando aqui.

- Um portal na floresta? – talvez se você se lembrar do caminho eu possa te ajudar a encontrá-lo.

- Sim eu me lembro o caminho, se você puder me ajudar eu lhe serei eternamente grata. – um sorriso de orelha a orelha se abriu no rosto da jovem.

- Bem então me mostre o caminho. – O rapaz direcionou um olhar doce para a fada que prontamente acatou o pedido.

Daniel apontou a porta pela qual tinha entrado antes do pequeno acidente, tão logo Fawn o viu direcionar a saída ela logo se apressou em passar pela porta, seus olhos brilharam ao encontrar do outro lado uma linda estufa repleta de ervas e flores medicinais, seu sorriso se alargando ainda mais.

- São ervas medicinais, você que as cultiva? – disse com olhinhos brilhantes em direção ao rapaz.

Um assentir foi tudo o que obteve em resposta, continuou andando pela estufa, vez ou outra parando para observar alguma erva, Daniel a observava com curiosidade enquanto ela parava para cheirar as flores e ervas que estavam dispostas entre as várias prateleiras e mesas, Fawn então parou em frente a uma flor, a pobrezinha estava quase completamente seca, ela tocou levemente as folhas com a ponta dos dedos.

- É uma valeriana, infelizmente eu não consigo fazê-la viver aqui. – um pouco de tristeza se evidenciou em sua voz.

Fawn então segurou o caule da planta com as duas mãos e uma luz fraca surgiu entre seus dedos, a planta que antes poderia ser considerada morta agora retomava suas cores verdes, as flores que estavam murchas agora ganhavam de volta suas belas pétalas rosadas e seus botões secos desabrocharam, Daniel observava tudo com olhos brilhando em fascínio, quando a pequena fada voltou seu olhar para ele não pode evitar de sorrir ante a seu olhar maravilhado.

Daniel foi tirado de seu transe pela risada da fada a sua frente, enquanto ela ria ele a observava fascinado, os raios de sol que entravam pelo teto da estufa pareciam ser refletidos na imagem da garota, tamanho era o brilho que ela emanava quando ria, passado algum tempo a fada soltou um pequeno pigarro e acenou com a cabeça para a porta em um pedido silencioso para ir embora, pedido este que foi logo acatado pelo médico que pediu que ela o indicasse o caminho pelo qual viera.

Andaram por cerca de duas horas pela floresta, parando vez ou outra para checar se o caminho condizia com o que lembrava Fawn, no entanto ao chegar a clareira para o desespero de Fawn já não havia mais um portal ali, nem sequer uma pequena pedra que lembrasse o arco, nem marcações ou runas, uma onda de tristeza lhe invadiu o peito e ela não pode evitar o choro que a dominava enfraquecendo suas pernas e jogando-a ao chão, Daniel alarmado a pegou delicadamente pelos ombros perguntando o que estava acontecendo.

- O portal sumiu, eu não posso voltar. – seus soluços atrapalhavam sua fala mas ainda assim foi capaz de responder com certa coerência.

- Eu não tenho para onde ir e meu irmão? Céus ele deve estar tão preocupado, eu sabia que não devia ter saído de Avalon, Titania o que eu faço agora?! – a fada cuspia as palavras em uma onda de angustia e raiva enquanto Daniel tentava acalma-la.

- Você pode ficar comigo até conseguir voltar para casa, vamos voltar aqui todos os dias e procurar pelo arco e enquanto não o encontramos você pode aprender um pouco sobre o meu mundo como você queria. – o tom de voz doce utilizado pelo médico de certo modo tranquilizou a fada.

Respirando fundo a jovem se levantou do chão batendo a poeira de seu pequeno vestido, algumas folhas tinham se grudado no tecido verde que lhe cobria parcialmente o corpo, assim que a pequena fada se levantou Daniel imitando os movimentos dela batendo a poeira de sua calça social e retirando alguns galhos que haviam se grudado em seu suéter.

- A proposito meu nome é Daniel Hunt, mas pode me chamar de Dan se quiser.

- Me chamo Fawn Dust, é um prazer tê-lo como amigo Dan. – com um leve sorriso nos lábios a pequena fada apertou a mão estendida do médico, o vento dizia em seu ouvido que aquele serio o inicio de uma bela parceria.

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⏰ Last updated: May 03, 2020 ⏰

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