Capítulo 22 - O Acerto De Contas

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Capítulo 22 - O Acerto De Contas. 



Depois de mais de vinte anos eu finalmente estava frente a frente com Raymond Steele.  
Já nos encontramos várias outras vezes mas desta vez, é diferente. 
Dessa vez não vou precisar mentir, armar, nem dissimular para com ele. 
Hoje vou poder ser quem realmente sou e acabar de vez com toda a alegria daquele que me arruinou no passado.
- Que cara é essa de interrogação?! - Ele tentou falar, mas sua boca estava amordaçada. 
Então, caminhei até ele e tirei a mordaça. 
- Que brincadeira de mau gosto é essa Capitã?! Me tire daqui agora! Quando sair daqui, você vai ser suspensa do seu cargo, suspensa não, exonerada! Vou acabar com sua carreira no exército pra você aprender a não fazer essas pegadinhas estúpidas com seu superior. 
Espera... Essa criatura não ouviu o que eu disse?
- Está pensando que estamos em uma pegadinha? É isso? - Comecei a gargalhar - Sinto muito Comandante, mas não. Essa é a vida real, a mais pura e sórdida vida real. - Ele continuou não entendendo direito, parecendo negar a triste realidade - Vamos começar de novo? Que tal? Poxa vida, Raymond! Eu tive uma entrada triunfal, perfeita, mas você nem reagiu como deveria, com medo, com temor de mim como sonhei a vida inteira! Está tudo errado, tudo errado mesmo aqui! É isso, bora começar de novo. - Respirei fundo - Boa noite, PAPAI! - Gritei pra ver se esse imbecil entende logo o que estou querendo dizer. 
- Está louca? Não sou seu pai, garota. De onde tirou isso?! 
- Ah não... - Revirei os olhos - Pensei que seu QI fosse alto Raymond, mas você está me parecendo tão burro. Eu, Anastasia, sou sua filha. SUA FILHA! Será que deu a entender?
- É impossível, eu só tenho um filho, Christian. Você sabe disso! Como pode ser minha filha?! 
- Meu nome é Anastasia Adams. Isso te lembra alguma coisa? - Minha paciência já estava começando a se esgotar. 
- Não! Você só pode estar me confundindo com outra pessoa, só pode ser isso. 
- E Carla? Te lembra alguém? 
Quando falei o nome da minha mãe a expressão de Raymond mudou completamente. 
- Agora começou a lembrar, não é mesmo? - Sorri.
- Você... - Ele engoliu em seco - É filha da Carla? 
- Exatamente, Comandante! Finalmente mostrou que tem um pouquinho de massa cinzenta dentro dessa cabeça imunda. E aí papai? Gostou da novidade? 
- Onde está a Carla?
- Onde ela está? ONDE ACHA QUE ELA ESTÁ, SEU DESGRAÇADO? NO INFERNO! E POR SUA CULPA! - Me descontrolei sentindo que naquele momento, só existia ódio dentro de mim. 
E nada mais.
- Ela está... Morta? - Ray engoliu em seco novamente, começando a encher o olho d' água - O que aconteceu com ela?
- Hum... A história é bem longa, daria uma boa novela, um livro até. Mas temos tempo, então vou te contar tudinho com riqueza de detalhes. - Sentei-me novamente - Vamos lá. Depois que você terminou com ela, Carla teve que se virar sozinha pra me ter, pra me criar. Sozinha não, teve a ajuda da minha avó mas essa partiu mais cedo ainda do que ela. Carla tinha... Depressão. Depressão esta adquirida por sua causa, por causa do que você fez com ela pois minha vó dizia que antes de te conhecer ela era outra pessoa. Carla nunca foi feliz comigo, nunca bastei à ela. Mamãe quase não sorria, tadinha. Daí quando eu tinha quinze anos... Ouça bem, QUINZE ANOS! - Apontei o dedo pra ele - Ela sucumbiu e se matou. Por sua culpa, ainda adolescente a encontrei morta em casa e a partir daí, minha vida acabou. Acabou Raymond, acabou! 
- Céus... - Ele murmurou baixando a cabeça. 
- Você tem ideia do que passei depois disso? Mas é claro que não tem, pois nunca esteve nem aí comigo. - Tirei a arma da cintura.
- O que vai fazer Anastasia? Calma... - Ele pediu com os olhos arregalados. 
É um prazer indescritível vê-lo assustado. 
- Calma papai, está tudo bem. - Sorri - Só vou colocar a arma aqui pra nossa segurança. - A coloquei em cima de uma mesa, ao lado de algumas garrafas d'água para matar exclusivamente minha sede - Por enquanto. Continuando... Depois que a Carl se foi, comi o pão que você amassou. Fui pra casa de adoção, apanhei, passei fome, morei na rua. 
- Anastasia...
- CALA A BOCA! - Bati com a mão na mesa e ele se assustou, calando-se imediatamente - Continuando... - Baixei o tom de voz - Enfrentei tudo de ruim, mas sabe o que me deu forças pra continuar papai? - Sorri novamente - Você. Eu sabia que tinha que sobreviver a tudo aquilo pra acabar com você, pra me vingar e tornar a sua vida um horror. Passei anos planejando cada detalhe da minha vingança a partir do momento que descobri que você era meu pai. Caso esteja confuso, só descobri o homem podre que você era com meus quinze anos. Enquanto as garotas de quinze anos estão pensando em estudar, namorar e se divertir eu tava passando fome por sua causa. E onde você estava enquanto isso? Arrasando no exército americano, recebendo honrarias, dinheiro, prestígio como se fosse um grande homem de bem! Patético! 
- Anastasia, você precisa ouvir meu lado da história. Precisa me perdoar, sei que é difícil, mas...
- Não! Não quero ouvir, você não merece este tipo de consideração, paizinho querido. Nossa, tenho uma história e tanto, não é mesmo? Aposto que está adorando ouvir. Se fosse escritor você estaria feito, hein? Isso se você sobrevivesse a mim.  Depois que decidi me vingar, sabia que precisava ficar perto de você mas como poderia me aproximar de um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos? Me aliando a ele! - Estalei os dedos - Então entrei no exército, nos Sentinelas e cá estou! Dividindo um galpão caindo aos pedaços com o homem que ajudou a me conceber. - Peguei a arma na mão e levantei - Sabe que outro dia estava até em dúvida se deveria me vingar ou não? Mas aí escutei outro dia você falando de mim e da mamãe com tanto desdém que sabia que não descansaria enquanto não destruísse você. - Apontei a arma em direção a testa do infeliz.
- Você entendeu tudo errado, Anastasia. Por tudo que te é mais sagrado, me deixe contar minha versão de tudo isso. Não justifica, mas entendendo meu lado talvez você até possa cogitar a possibilidade de me perdoar e...
- Não, não. Não tô a fim de conversa fiada, hoje é minha noite de ser feliz pelo menos um pouquinho. - Aproximei um pouco mais a arma - Você tem alguma religião? Porque acho bom começar a se despedir desta vida pra quem sabe, ser recebido em bom lugar? Se bem que duvido muito. Carla se matou, não terá paz, então você também não merece ter. 
- Por favor Anastasia, não destrua sua vida! - Agora ele estava tremendo e chorando muito. 
- Minha vida está destruída há tanto tempo, Ray. Sabia que por sua causa perdi meu filho?
- Filho? Como assim filho? Você está grávida?
- Estive, mas meu bebê se foi naquela explosão no Afeganistão. 
- Céus... Eu sinto muito, sinto tanto Anastasia. 
- Sente nada! - Bati com a arma na cabeça dele - Sabe... No começo pensei em somente acabar com sua reputação, com seu nome já que por conta dele você nos abandonou, mas depois vi que isso seria tão pouco perto do mal que me causou... Você tinha que pagar mais caro, tinha que pagar com a vida. Se Carla teve que morrer por sua causa, é coerente que você também vá para o outro mundo. 
- Não...
- Sim, sim e sim! É o certo a se fazer Raymond, aos meus olhos e é isso que importa agora. - Grudei a arma na testa dele - Está pronto para visitar o inferno, papai?
- Por favor... - Pediu com a voz trêmula, fechando os olhos. 
- Adeus. 
[...]
Era só puxar o gatilho. 
Era só puxar o maldito gatilho, mas não sei porque não consegui. 
Não consegui! 
- Merda... - Abaixei a arma.
- Você não quer fazer isso, Anastasia. Não quer. Você não é um monstro, não pode ser que minha filha se transformou em um monstro. - Tentou me manipular. 
- Queria que eu fosse o quê? Uma mocinha de comédia romântica papai?
- Anastasia, me solte. Olha, juro que se me soltar agora, te deixo ir pra longe. Mas se você continuar com essa loucura eu vou...
- Você vai o quê?
- Quando eu sair daqui vou te caçar até o fim. 
- Sua ameaça é ótima, mas tem um porém. Você não vai sair vivo daqui, Raymond. - Guardei a arma na cintura e peguei uma garrafa de vinho da bolsa. - Só preciso de um pouco mais de coragem. - Fui até ele me certificar que estava bem amarrado e coloquei a mordaça em sua boca - Nos vemos muito em breve, papai. Bom fim de noite! - E saí do galpão, ficando do lado de fora, sentando-me no cantinho do chão e começando a beber a fim de ganhar um pouco mais de coragem para resolver esta  situação de uma vez por todas.


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Sei que este foi um dos capítulos mais aguardados, espero que tenham gostado dessa treta toda.

Digam nos comentários o que acham que vai acontecer nos próximos capítulos com esses dois.

Votem & Comentem muito ❤

Bom domingo a todos ❤

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