Capítulo 2

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Silêncio.

Meus dias se passaram e eles eram repletos do silêncio e da cor branco. Minha visão já havia voltado ao normal, infelizmente, meus músculos ainda resistiam a recuperação completa. Às vezes eu me encontrava me esgueirando pelo hospital apoiada em qualquer coisa que me desse a força que minhas articulações não me davam. Como naquela tarde de um dia qualquer e um horário desconhecido.

Minhas mãos deslizavam pelas paredes brancas e gélidas, o corredor estaria vazio se não fosse por alguns enfermeiros que passavam por mim distribuindo sorrisos, fingindo que aquele era o paraíso, mesmo havendo milhares de pacientes com complicações naquele momento. Mas eu gostava de passear pelos corredores pálidos e semelhantes, me trazia um sentimento de controle. Ficar na cama o dia inteiro não era uma opção, talvez, me ver andando pelos corredores fosse convencer Christian a me dar minha alta o mais rápido possível. A verdade era que, a alguns dias atrás, eu o escutei falando com Orianna sobre minha alta. Ele estava disposto a me dá-la, segundo seu ponto de vista eu estava pronta o suficiente para fazer pequenas coisas por minha própria conta. Mas havia uma detalhe que lhe impedia de me dar, definitivamente, minha alta. O problema era tão simples quanto ridículo. Não havia alguém que pudesse cuidar de mim. Obviamente, aquilo não era verídico, eu o confrontei argumentando que eu ainda tinha meus avós. Mas claro que não adiantou, ele alegou que ambos não seriam capazes de me socorrer caso algo acontecesse e que eu precisaria de cuidados. Desde então eu tento mostrar-lhe que estou bem o suficiente para voltar para casa.

Eu estava tão cansada de ter pesadelos e, ao acordar, estar sozinha em um quarto estranho hospitalar ao invés do meu quarto tipicamente adolescente. Estava cansada de fingir não escutar as enfermeiras correndo pelos corredores enquanto alguém morria no quarto ao lado. Estava cansada do branco, do vazio, dos dias que não podiam ser contados, da comida, da camisola ridícula com uma fenda nas costas. Eu nunca imaginei que sentiria tanta saudades de casa. Mas, ultimamente, este sentimento só tem aumentado.

Um barulho profundo ecoou pelo corredor e então, novamente, havia enfermeiras correndo. Um suspiro escapou dos meus lábios. Logo a frente, encontrei Molly sentada nas cadeiras próximas à sala de cirurgia. Molly era uma mulher jovem, eu a conheci quando, em um dos meus passeios, esbarrei nela. Nós acabamos conversando até que isso se tornasse algo cotidiano. Sua filha de oito anos permanecia inconsciente já fazia meses, todavia, ela nunca mencionou o motivo. E eu não tinha coragem alguma de perguntar sobre isto. Eu fingia não notar, mas era visível a forma como ela me olhava toda vez que nos víamos, o que era freqüente já que ela vivia no hospital. Ela era uma mulher esperançosa e forte mas eu sabia que, de alguma forma, ela tentava buscar esperanças em mim. Afinal, se uma garota que passou anos no coma voltou, porque sua pequena filha que só estava ali a meses não conseguiria? Eu não poderia culpá-la, caso esse fosse seu pensamento. E, no fundo, eu não me importava que ela me olhasse daquela forma, era bom pensar que minha desgraça trazia algum tipo de alívio para alguém.

Mas naquele dia, foi diferente. Molly não me recepcionou com um sorriso, tagarelando sobre o fato de sua criança ter mexido algum músculo ou qualquer coisa que a fizesse acreditar que ela voltaria. Já fazia alguns dias que eu não a via mas seu rosto estava pálido, inchado e molhado. Eu me aproximei, seu rosto se ergueu e eu contemplei seus olhos vermelhos.

— O que aconteceu? — eu murmurei, sem coragem de pronunciar aquela pergunta em voz alta.

Havia um lenço em sua mão, seus dedos o apertavam com uma força desnecessária. Ela piscou, sua mão foi até a sua boca que se abriu em um sorriso.

— Boas notícias. — ela respondeu com a voz trêmula. Em seus olhos haviam sinais de lágrimas, mesmo que o sorriso permanecesse sobre seus lábios pálidos.

Inércia | Harry StylesWhere stories live. Discover now