Luísa já estava desistindo da vida quando foi levada para o meio da Grande Guerra, como era conhecida na época a Primeira Guerra Mundial.
Liam, por sua vez, não desiste de viver, pois apesar dos intempéries, acredita que Deus tem um propósito para...
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Andamos bastante, mas sem intempéries.
Liam me ajudava com os percursos do caminho, até porque minhas pernas doíam e meu braço ainda estava enfaixado por conta do sangramento aberto de outrora. Felizmente, passamos boa parte do caminho na floresta e em montanhas e encontramos muitas pessoas que como na nossa condição pareciam procurar lugares que não tinham sido afetados pelo frio, pela fome e pela guerra.
― Esse barco está indo para Londres? ― Ele perguntou a um homem velho que cheirava a peixe. Havia muitas pessoas em condições miseráveis ao redor de nós parecendo com fome e talvez um pouco de esperança de sair daquele lugar.
― Sim. Mas com a quantia certa. Está um pouco difícil entrar na Inglaterra por conta da Guerra. ― Disse o homem que mascava um pedaço de uma planta. Liam concordou.
― Vamos querer duas passagens. ― O homem olhou para Liam com cara de desdém.
― E o pagamento, moleque?
― Esse. ― E para minha surpresa – e também surpresa do homem – Liam tirou um broche em forma de cruz e entregou ao homem. ― É de ouro. Pode conferir.
Eu fiquei alguns minutos como se tivessem dado pausa no meu sistema operacional e Liam aproveitou para me puxar para dentro da embarcação. O segui mais anestesiada do que de fato concordando com tudo aquilo. Quando finalmente acordei, puxei minha mão da de Liam e exasperei:
― Mas o que era aquilo? Parecia importante para você! Não vale a nossa entrada em Londres! Vale muito mais! ― Liam olhou para os dois lados se certificando de que ninguém nos ouvia.
― Não mais importante do que levá-la viva até Londres.
― Isso é uma mentira.
― Pense como quiser, my lady.
― Liam! ― Gritei fazendo ele olhar novamente para os lados dessa vez encontrando alguns pares de olhar curiosos com a nossa briga.
― O que foi? Você quer que eu diga o que você já sabe? Era importante sim, mas não mais importante do que levá-la em segurança, Luísa! ― Ele também falou alto, sem muita paciência.
― Porque você está me ajudando desse modo? Nunca vou conseguir te pagar tudo o que você está fazendo por mim... ― Liam apertou um lábio sobre o outro.
― Não fiz nada disso esperando algo em troca.
― O casal pode discutir quando chegar em Londres. Estamos saindo. Precisamos aproveitar a noite. ― Disse o mesmo homem com cheiro de peixe de antes passando por nós. Por ora, decidi engolir a agonia de estar levando Liam para o fim do poço e decidi que isso poderia esperar, de fato, Londres.
A viagem foi agonizante. Em algum momento, com medo de que as ondas gigantescas que quebravam em cima de nós pudessem nos naufragar, agarrei a mão de Liam entre os meus dedos para tentar me manter calma e em segurança. Ele olhou para a sua mão esmagada pela minha e sorriu e, para minha total surpresa, me deu a outra mão para esmagar enquanto passava o braço pelas minhas costas até o meu ombro me mantendo mais próxima dele.