01 | he is a monster, the worst.

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Josh Beauchamp

Respiro fundo. O cheiro de cobre enche o ar e a grama vermelha banhada a sangue me deixando um aviso, nós vencemos. Nem mesmo a fraca chuva do começo do inverno que cai sobre nós é capaz de apagar as marcas sobre a superfície. Cerca de 300 mortos. Metade delas, minhas.

Lamar, meu amigo e soldado, me olha, ele tem um corte embaixo do olho, sua mão direita está apoiada sobre a costela e vejo sangue passar entre os seus dedos cobertos pela luva. O pergunto com o olhar se ele está bem e recebo uma confirmação leve com a cabeça.

Meus outros soldados estão em estado parecido, pelo menos os que sobreviveram.

Mais uma guerra vencida, mas também mais mortos no meu nome. Tantos meus quanto deles e os que se renderam se tornarão escravos de Casthle, um destino pior que a morte. Sei que os que eles estão pensando, a derrota de um soldado é a derrota do seu próprio reino. Ainda mais quando a derrota é para mim.

Os boatos correm pelos reinos. Eles me chamam de assassino, sem coração, estrategista.

Eu discordo.

Eu sou muito pior que isso.

Mesmo vendo os corpos já falecidos pela grama, muitos deles desfigurados, eu não sinto remorso. Acredito que meu corpo não foi programado para isso e cenas como essa não me atingem.

Mas eu também não sinto alegria. Eu simplesmente não sinto nada.

Então quando eles dizem que eu sou sem coração, eu concordo rapidamente.

Ser o único herdeiro do maior reino do Sul tem seu peso. Eu fui criado para ser um monstro e nesses 22 anos me tornei o que mais meu pai desejava.

Passo meus dedos dormentes pela espada, limpando os resquícios de sangue que ainda restam e a guardo logo em seguida. Está na hora de voltar para casa.

Meus olhos se voltam para o céu alaranjado, evidenciando o final da tarde. Restam apenas algumas horas no dia, se não partirmos logo, o caminho se tornará ainda mais longo no escuro. - Se começarmos a voltar hoje, acredito que chegaremos até terça, daqui a dois dias.

— Mas Alteza, nós precisamos parar para cuidar dos ferimentos. — Denver, um dos nossos soldados mais novos, me avisa de maneira sôfrega. Vejo o rasgo na sua calça e um ferimento sendo exposto, o tecido que antes era bege agora está em vermelho vivo. Me aproximo para analisar, o corte é fundo, mas não o bastante para que ele perca a perna, provavelmente irá precisar somente de pontos.

Por fim, concordo com a cabeça, com essa quantidade de ferimentos, eles só nos atrasarão e demoraremos mais que dois dias para chegarmos até o castelo. E eu definitivamente não estou com paciência para uma repreensão do meu pai.

— Pararemos em Vaner e partiremos ao primeiro aviso de luz pela manhã. — digo de maneira simplista seguindo em direção a floresta. Levará cerca de trinta minutos até chegarmos à Croscor, uma pequena vila na qual estávamos acampados. Sinto as respirações pesadas dos meus soldados atrás de mim, mas não dou atenção.

Eles são soldados reais, foram treinados para saber lidar com a dor. Suas dores e ferimentos não são minha responsabilidade, e sim deles. Nosso treinamento os prepara para serem os melhores, então se algo dá errado no meio do caminho, eles assumem totalmente a culpa.

— Vossa Alteza, o senhor tem algum ferimento? — um dos homens me pergunta, mas não me dou o trabalho de olhar para o seu rosto. Sei que o papel deles é me fazer voltar inteiro para o reino, porém minha resposta nunca muda.

Crown In The Flames | Beauany [HIATUS]Where stories live. Discover now