Diana

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No domingo de manhã, todos acordaram com a visita de uma chuva, mas sem vento, trovões e raios. Aquela chuva constante que dura horas e horas.

─ Lá se foi nosso feriado... ─ Enoque disse cabisbaixo.

─ Gerson, acha que podemos assar a carne aqui dentro? ─ Rita disse esperançosa.

Gerson ficou na dúvida ─ Talvez. Podemos assar no forno.

Estavam ali por causa de uma trilha que tinha perto da chácara, mas tudo foi por água a baixo. Literalmente.

Todos ficavam pensando o que fazer: Renato e Fabiola estavam sentados no sofá mexendo no celular; Gerson arrumava a carne para o almoço; Diana encarava a sua xícara de café e Rita e Enoque estavam deitados no chão. Ainda era manhã e todos já estavam no tédio.

─ Já que não vamos fazer a trilha, por que cada um não conta algo que aconteceu no passado. Que tal? Pode ser interessante.

─ Eu topo! ─ Enoque levantou o busto do chão e sentou com as pernas cruzadas.

─ Diana, pode fazer as honras ─ Rita disse ainda deitada no chão.

Diana pensava em alguma coisa.
Encarava os rostos à sua frente que esperavam uma ação da amiga. A expressão de ódio e nojo do rosto de Diana revelava que estava pronta para contar algo.

“Em toda a minha vida, de adolescente e jovem, precisava pegar ônibus. Escola, casa, faculdade, casa, até conseguir uma moto. E nunca, até aquele dia, eu passei por aquela situação. Nunca achava que iria passar por isso.”

“Um certo dia, pela manhã, estava indo para a faculdade. Estava no segundo ônibus que ia até a universidade e ele sempre estava lotado. Naquele dia, não foi diferente. E alguns de vocês sabem que é aquele tumulto e mais tumulto.”

“Pressionava o livro de cálculo no peito e com a outra mão segurava o corrimão do ônibus ─ não sei se é assim que diz ─ pontuou. Quando um homem, devia ter seus 37 anos ou menos, estava chegando perto de mim. Eu olhei de longe e fiquei um pouco nervosa. Olhei em volta, e vi que todos estavam distraídos.”

“Ele chegou atrás de mim, mas não fez nada de início. Eu olhava de um lado para o outro, para ver se conseguia sair dali, mas estava muito cheio. Foi então que ele começou a se esfregar em mim, lentamente. E eu pensava (isso não pode estar acontecendo comigo). Olhava mais uma vez para certificar se alguém estava vendo, mas não.”

“Em poucos minutos, ele já estava duro e eu comecei a ficar nervosa e sempre esvaindo daquele nojento. Na época tinha 21 anos.”

De repente, um homem gritou:

─ Ei, babaca, não tem vergonha não?

(Graças a Deus)

─ Sai de trás da moça aí, seu nojento. Não tem o que fazer não?

─ Fica na sua aí, amigão.

“Nesse momento, eu consegui sair de perto daquele escroto.”

─ Só está se esfregando nela né moço? Toma vergonha, cara. Caras como você devia apodrecer na cadeia, mas aqui, um homem da sua laia, não passa de um mês naquele lugar.

“O homem ficou sem graça no meio de todo aquele pessoal. Todos começaram a aplaudir o cara que “salvou” minha pele.
Poucos instantes fizeram o homem descer do ônibus a força. E desceu.”

─ Você está bem? ─ Uma mulher disse quando eu consegui sentar.

─ Um pouco assustada ─ Saia um pouco de lágrimas.

─ Não é todo dia que alguém toma coragem para falar com um homem desse tipo. Semana passada aconteceu a mesma coisa quando ia para o centro. Pelo que ouvi falar, o homem conseguiu deixar sua marca na garota. Quando ela sentou, começou a chorar e algumas pessoas começaram a acalmá-la.

“Fiquei sem palavras, somente lágrimas saiam. Não fiquei traumatizada, fiquei com ódio e nojo daquele homem. No mesmo dia, depois da aula, eu fui até uma delegacia e fiz um B.O, mas não sei o que sucedeu posteriormente.”

“Poucas mulheres e garotas se sentem encorajadas de fazer o que eu fiz, mas o tempo acabou para esses ordinários. Eles devem pagar por tudo o que fazem. Não podem mais sair ilesos de suas ações ridículas. As mulheres não podem mais se sentir intimidadas. Todas que passarem por isso, devem denunciar. Sem medo, sem culpa, com coragem.”

Todos na sala ficaram em silêncio e atônitos com o que acabaram de ouvir de Diana. Poucos segundos depois, todos a aplaudiram. Alguns ficaram de pé e assobiaram.

─ É isso aí, amiga, ser tida como objeto, nunca mais! ─ Fabiola disse e assobiando no fim.

1 Dia de Chuva Onde histórias criam vida. Descubra agora