Point 16: Banho quente.

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Já era tarde da noite quando os meninos foram dormir, após horas conversando na cozinha.

— Nos casamos há cinco dias e eu já tenho quatro filhos — falei, acariciando o cabelo de Richard.

Richard tinha fechado todas as persianas do quarto, o fazendo cair em uma completa escuridão. Ele tinha se deitado ao meu lado, com a cabeça em meu colo, brincando com a barra do meu short de dormir, enquanto meus dedos passavam por seu cabelo loiro.

— Cinco — me corrigiu.

— Você está se colocando como meu filho nessa conta?

Ele riu, dando um beijo na minha coxa.

— To falando da minha filha.

Arregalei os olhos, só me lembrando agora que ele tinha uma filha. Havíamos conversado sobre isso quando tomamos café da manhã na quarta feira, e eu mal podia acreditar que isso tinha acontecido no dia anterior.

Parecia que estávamos naquele apartamento há meses.

— Quando vou conhecer ela?

— Não sei. — Ele se virou, o rosto me analisando. — Até quando você vai ficar?

— Preciso voltar antes da segunda — respondi baixinho, acariciando seus cachos. — Minhas aulas começam semana que vem. E dessa vez é verdade.

— Como vamos fazer?

Respirei fundo, pensando em uma resposta. Richard vivia no sul do país, atualmente no extremo leste para o sul, e eu ao extremo oeste para o norte. Miami e Seattle ficam há um país inteiro de distância, e os Estados Unidos é o quarto maior do mundo. Mais de cinco mil quilômetros estavam entre nossas cidades, seis horas diretas de voo.

Aquilo era loucura.

— Quando você se forma? — perguntou, levantando a mão e passando as costas dos dedos por meu queixo.

— Final do ano.

— É seu último semestre?

— Aham. Se eu conseguir finalizar meu TTC, me formo com a turma do final do ano.

— Já é agosto, não falta tanto para o fim do ano. Podemos esperar até você se formar.

— Esperar para o que, exatamente? —Tirei sua cabeça do meu colo, me levantando. A consciência de alguns fatos estava começando a pesar em minha mente, e eu estava a ponto de chegar na realidade da situação.

— Não sei. Você vem para Florida, eu vou para Washington.

— Não acho que isso seja uma opção. Você tem sua vida aqui, e eu a minha lá.

— Gabbe, eu passei os últimos dez anos da minha vida ao redor do mundo. É esse meu lugar. Não Miami, ou qualquer outra cidade. — Ele se sentou, esticando o corpo e pegando minha mão, me trazendo para junto dele. — Já faz dez anos que eu procuro uma razão para ficar. Ficar em qualquer lugar. Talvez agora eu tenho encontrado.

Respirei fundo, olhando para cima e cobrindo os olhos com as mãos.

— Vamos combinar algo, pode ser? Pelos próximos meses, eu vou te ver aos finais de semana. Até você se formar.

— Richard, isso é loucura! — o reprendi, abaixando meu tom de voz.

— Não trabalho já tem dois anos, Gabbe, minha agenda não vai se encher de compromissos agora, posso viajar quando quiser.

— E depois, hm? Quando eu me formar?

— Nós vamos para onde você quiser. Vai estar formada, entrando no mercado. Onde você arrumar um emprego, eu vou junto.

Las VegasWhere stories live. Discover now