Loucura e Mais Som de Gatilho

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Todos os dias, enquanto Bruce dormia, eu gostava de fazer cafuné em sua cabeça. Ele não conseguia nem falar sem fazer cara de dor, e, por causa disso, nós dois conseguimos criar uma linguagem nossa, sem que ele precisasse falar qualquer coisa. Isso ficou tão recorrente que até com o olhar dele eu já entendia quando ele precisava de ajuda para ir ao banheiro ou quando estava com fome.

Hale me avisou que a recuperação de uma cirurgia tão delicada seria difícil – e só com as explicações dele eu entendi que Bruce sobreviveu, mas não queria dizer que a pior parte já tinha passado –, que Bruce iria precisar de muita atenção e paciência. Acontece, no entanto, que eu estava totalmente disposto a dar toda a atenção que ele precisasse, além de todo o carinho também.

Acho que eu conheci mais Bruce no período em que ele estava totalmente a mercê do que em todos os meses que ele esteva sob controle de todas as situações – ou, pelo menos, demonstrava estar. E isso era louco, porque eu só entendi o quanto ele precisava de mim quando ele estava bem... mas eu só vi, de verdade, o quanto ele confiava em mim quando ele estava doente. Foi aí que eu percebi a diferença entre falar e viver, falar e fazer.

De qualquer forma, enquanto ele tentava se recuperar, as produções e organizações – para a separação do grupo – continuavam. Jonas e Amélia foram buscar nosso grupo para que eles ficassem no hospital também, porque Hale me disse que acompanharia a cirurgia por, pelo menos, os três primeiros dias depois dela feita. Era claro o medo dele que algo se complicasse em Bruce, porque, se por acaso, ele acabasse precisando ser entubado, ninguém ali saberia fazer isso além dele.

– Sabe, Dylan, ele pode não ser, mas eu realmente sinto como se Bruce fosse o meu filho. – Hale comenta, enquanto observamos ele dormir. Eu fazia carinho próximo a orelha de Bruce, porque ele gostava muito, enquanto ele se mantinha em um sono pesado.

– Aposto que ele também se sente seu filho. Em algum lugar dentro dele, Hale, ele sabe que o que você disse só o ajudou a melhorar, porque ele queria valorizar suas palavras. – respondo a ele, que me observa. O sono de Bruce era pesado nos últimos dias.

Ele tinha chegado ao seu extremo levando duas flechadas em menos de 3 dias e agora precisava descansar. E olha, eu estava mesmo esperando esse limite chegar, porque Bruce sempre se movimentou – e se machucou – mais do que qualquer pessoa nesse grupo. Mesmo que eu fizesse loucuras, na maioria das vezes eu tinha um percurso e solução para não me machucar, mas ele não. Ele realmente estava disposto a, inclusive, se sacrificar por qualquer um.

– Ele errou tanto. O Bruce errou, chorou, se machucou, quase morreu, ele beijou, se relacionou, mas ele nunca, Dylan, nunca amou uma pessoa que ele não cresceu junto. Digo, quando eu estava de cama por causa do meu pé, ele disse que me amava, mas quando me refiro a amar uma pessoa que ele não cresceu junto, eu falo de paixão. Querendo ou não, o Bruce pode não ter crescido comigo, desde pequeno, mas ele me teve como pai por pouco mais de 7 meses. Até pescar eu o ensinei... – sorrimos.

– E ele era bom pescando?

– O Bruce sempre aprendeu tudo muito rápido. Ele aprendeu que nos treinos eu era o superior dele, e que em casa eu era o cara que ensinava ele a cozinhar e costurar, e que o silêncio ensina muito mais do que o barulho. Aprendeu que, quando uma pessoa fala, a outra cala a boca. E olha, não quero falar mal do pai dele, mas quando ele chegou na minha casa parecia não conhecer nada disso. E educar ele, doar paciência e tempo para um cara estressado e arrogante, fez com que eu me sentisse um pai. Dessa vez, no entanto, um bom pai. – Hale explica, enquanto eu continuo fazendo cafuné em Bruce, que ainda dormia seu sono pesado.

– Achou em algum momento que o Bruce poderia ser gay?

– Não vou mentir pra você. Eu não acho que ele seja gay. – Hale responde, enquanto eu olho nos olhos dele. – Nada é preto ou branco, Dylan. Mas não, no nosso grupo ninguém nunca, sequer, imaginou que o Bruce algum dia se relacionaria com um rapaz. Ele era marrento, ignorante, arrogante, era o que os caras chamavam de "um homem de verdade, que não abaixa a cabeça pra ninguém e quem peitar leva murro".

Caos (Romance Gay)Место, где живут истории. Откройте их для себя