Família?

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Meu coração pulsava forte naquela sala de espera, à medida que minha mente borbulhava em pensamentos confusos e ideias de igual cunho, uma mais absurda que a outra. Minhas pernas balançavam sem parar e nenhuma notícia chegava.

Nenhuma notícia.

Percebo um corpo sentar ao meu lado no assento preto encostado à parede. Pela camisa azul de mangas longas que ele costumava usar para dormir, a calça preta que vestiu às pressas, eu já sabia de quem se tratava: Jeon Jungkook.

Olho para seu rosto, minhas mãos juntas em dedos cruzados apoiando minha cabeça, meus olhos certamente vermelhos tentando não adormecer naquelas horas da madrugada — se bem que o nervosismo não deixaria.

Seu olhar também ditava certa apreensão, já que querendo ou não, os dois já foram muito próximos e se falavam bastante. Mas, apesar disso, tentavam me passar a ideia de que estaria tudo bem lá dentro. Sua mão tocou meu ombro, um movimento rápido; ele logo me puxou para um abraço, tomando minha cintura e fazendo um carinho ali mesmo, enquanto busco refúgio para os meus olhos preocupados na curvatura do seu pescoço.

Nem percebi que fiz a mesma pergunta que fiz várias vezes, minha voz abafada:

— Você tem certeza que não soube de nada?

— Tae, já lhe disse. Eu não faço ideia. Tenta se acalmar, por favor...

Momentos antes, Kang Yeonji, mãe de Kang NaYoung, havia ligado para Jungkook. Falava rápido ao telefone, enquanto tentava buscar algum ar. Ela já tinha essa mania quando falava, mas naquela hora, seu tom, e o ar puxado mais vezes, eram assustadores. Parecia não só apressada, mas com raiva, também. Disse, com certa dificuldade, o nome do hospital, e mandou que Jeon fosse o mais rápido que pudesse. Perguntou por mim, por sorte eu dormiria na casa dele nessa noite, então tudo o que fizemos foi vestir algo mais apropriado, sem se importar de fato com qual roupa estávamos usando, e fomos para o local.

Depois do alerta, só ouvimos ela dizer que NaYoung tinha que chegar logo, pela voz distante nem parecia que aquela informação era para nós. Mas serviu para que eu estivesse como estou agora: nervoso, apreensivo, pensando em uma ideia mais absurda que a outra a cada minuto que tia Yeon não saía por aquela porta para dizer o que realmente estava acontecendo.

E principalmente, na culpa que me tomava por inteiro.

Eu e Kang NaYoung éramos amigos desde criança. Sempre companheiros um do outro, se algo faltava para um, o outro dava ou conseguia, sem cobrar nada em troca. Uma relação mútua de sinceridade. Amizade de anos, quebrando em algumas horas de espera em um hospital. Ou já estava rachando os pedaços nos meses que passamos sem nos falarmos.

Essa era a hora da cobrança.

Eu a conhecia muito bem, é de se esperar. No entanto, depois que comecei a namorar Jeon Jungkook, ela resolveu se afastar. Liguei muitas vezes, mandei inúmeras mensagens que foram apenas lidas e nenhuma resposta. Nenhum sinal além daquelas setas azuis. Até respondia em alguns momentos. Mas só para dizer estar ocupada demais para nos ver, ou que não podíamos ir atrás dela.

Agora, fico pensando se eu não deveria ter insistido mais. Ter ido até à casa de tia Yeon. Fingir que iria buscá-la na faculdade como costumava fazer só para ver se estava tudo bem. Se eu não havia feito algo errado, como sentia que fiz.

Mas Jungkook me convenceu que se ela não queria conversa, não tinha que forçar e esperar ela vir até nós, já que ignorava as mensagens dele também. Esperei. E ela não veio.

Nós que tivemos que vir, e ficar plantados numa sala de espera. Se havia alguma tranquilidade neste hospital majoritariamente branco e vazio, nos poucos passos para lá e para cá, nas ligações atendidas formalmente e em voz calma, meus batimentos cardíacos faziam tudo parecer incômodo e infernal demais.

Jeon Jungkook é... pai? [kth + jjk]Where stories live. Discover now