O Poço

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— Seu próprio dinheiro? — Camila indagou, curiosa — Pensei que tinha apenas aquelas moedas de ouro.

— Quando fui baleado, sim, mas tenho mais.

— Moedas de ouro?

— É claro. Sempre recebi meus pagamentos em ouro, sempre deixei um pouco guardado.

Camila sorriu, se lembrando do comentário de Lauren sobre as moedas no cinto.

Presumindo que ela recebia mensalmente, como era comum na época, quanto ela podia ter guardado?

— Economizava para algo especial Lô?

— Sim, economizava para comprar um lugar no futuro, quando eu não fosse mais uma mulher rápida no gatilho. É claro. — o tom de Lauren se tornou seco e lento. — Nunca imaginei que seria tão longe no futuro.

— Que tipo de lugar?

— Um lugar sossegado, maravilhoso, onde eu seria feliz, mas fui baleada... — disse Lauren, espalmando a mão sobre as costelas de Camila, que tremeu ao lembrar do ferimento à bala no peito. — Calma, querida. Estou viva. Aquela bala me deu você.

Camila estremeceu outra vez.

— Detesto armas. E detesto a ideia do revólver que você deixa escondido em sua cômoda. Gostaria que se livrasse dele.

— Esqueça. Nunca se sabe quando poderei precisar.

— Lauren, estamos no século XXI! — Camila gritou. — As pessoas não precisam mais carregar armas para proteção.

— Claro, já percebi isso... Vejo quantas pessoas decentes estão protegidas! Todas as histórias nos jornais e na televisão falam de assassinatos, assaltos e estupro. Esqueça, querida. Vou ficar com o Colt.

Camila não queria discutir, mas, como Lauren demonstrava certa razão, preferiu mudar de assunto e evitar atritos.

E não tinha ideia de quanto as terras custariam mas tinha a impressão de que as pequenas economias dela não seriam o bastante.

— Quanto você economizou? — Camila quis saber, determinada a ajudá-la a realizar seu sonho nem que precisasse usar todas as suas economias.

— Quando contei pela última vez, tinha pouco mais de seis mil dólares. Camila arregalou os olhos.

— Mais de seis mil dólares! — repetiu espantada. — Em moedas de ouro?

Lauren sorriu.

— Se puder vender pela mesma quantia que conseguiu pelas outras moedas, poderá ter um retorno de... — Ela se calou para fazer alguns cálculos rápidos de cabeça, mas estava excitada demais para pensar direito, muito menos para contar.

— É uma fortuna!

Lauren alargou o sorriso com um ar malicioso.

— Sim, querida, foi o que imaginei.

— Maravilhoso! — Mas um pensamento terrível lhe ocorreu. — Lauren, isso faz cem anos. A sua conta não existe mais, nem o banco!

— Banco? Camz, você já ouviu falar em ladrões de banco? Eu nunca deixei meu dinheiro no banco.

— Então onde você o guardava?

— Não se preocupe, querida. Está num local seguro.

Camila suspirou.

— Onde, Lauren?

— Eu o escondi num poço localizado nas terras que herdei de minha mãe.

— Oh, Lauren. — Ela respirou fundo.

— O que foi, Camz?

— Você continua esquecendo de que isso aconteceu há mais de cem anos. — Camila replicou com tristeza.

— Não esqueci de nada. — Lauren murmurou, abraçando e lhe beijando a testa.

— Não se preocupe, querida. Aquele poço foi construído para durar bem mais de cem anos.

— A menos que alguém tenha construído um prédio em cima dele, Lauren. Ou talvez até mesmo uma cidade inteira.

— Bom, aí é uma questão de sorte.

— Exatamente.

— Bem, só existe um modo de descobrir. Terei de verificar.

— E como você vai fazer isso? — Camila quis saber.

— De avião ou jato. — Lauren murmurou num tom esperançoso.


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O avião parou na pista. Sentada na poltrona, com o cinto de segurança apertado, Lauren arqueou o corpo, com os olhos brilhando de expectativa.

Mais de duas semanas haviam se passado desde a noite em que ela decidira voltar ao Texas. Lauren pretendia partir imediatamente, mas, como Camila insistira em ir junto, tiveram de esperar até ela tirar uma folga. Os motores aceleraram, e o jato começou a avançar, ganhando velocidade enquanto percorria a pista. Lauren apertou a mão de Camila quando o avião decolou.

— Que delícia... — ela suspirou. — Isso é ótimo Camz.

Lauren se interessava por tudo, fazendo várias perguntas a Camila, e, quando sobrevoaram Dallas, não tirou os olhos da janela até o avião pousar.

Lauren ficou encantada com a multidão e o vaivém das pessoas no aeroporto de Dallas, espantada com sua primeira vista da cidade. Ao lado de Camila no carro alugado, olhava de um lado para o outro enquanto deixavam a cidade a caminho de Fort Worth.

Apesar das mudanças óbvias, Lauren reconheceu o Fort Worth, no mínimo pelo fato de os famosos currais ainda existirem lá. Como qualquer turista, admirou a estátua de bronze do gado e do vaqueiro do Texas numa praça. Mas ficou calada e introspectiva enquanto caminhavam ao longo de uma avenida comercial.

— Agora tudo deve parecer estranho a você. — Camila comentou, indicando as lojas com um gesto de mão.

— Sim, está bastante diferente do meu tempo. — Ela concordou com um gesto de cabeça, então sorriu. — Está bem mais limpa, também. — Então ela lhe tomou a mão e a levou até o estacionamento. — Já vi o bastante. Vamos buscar

meu dinheiro.

Encontrar o pequeno rancho foi mais fácil do que Camila supunha. Depois de consultar um guia turístico, Lauren localizou a área, próxima a Dallas.

— Vamos, por aqui — Lauren anunciou, estudando a pequena estrada de terra na qual entraram após algum tempo. — Eu direi quando deve parar.

Quando Lauren mostrou o lugar, Camila parou o carro e depois ficou olhando a desolação estéril da paisagem. "Este pedaço de nada é a herança de Lauren?", pensou, triste por ela.

— Está horrível, não é? — Lauren observou. — E esta desordem matou meus pais. — Suspirando, ela abriu a porta do carro. — É revoltante. Vamos pegar o dinheiro e ir embora.

Camila precisou andar rápido para acompanhar as passadas determinadas de Lauren, a seguindo enquanto ela contornava as ruínas de uma construção.

Então Camila se assustou quando ela gritou:

— Corra aqui. O que eu lhe disse, querida? O poço está aqui!



Viajante - Camren GpTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang