Erros do passado

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A ligação acontece dias depois que ele finalmente conta a Taehyung sobre sua real situação de saúde. É tarde da noite, e está muito frio. Sua cama parece um bom local para descansar agora, visto que ele nunca mais tem tido pesadelos com o campo de margaridas. Parece que existe alguma paz para ele nesse quesito. Isso, é claro, só dura até que ele alcance o celular e aceite a ligação, sem dar muita atenção ao nome na tela por ainda está com os olhos parcialmente fechados.

- Jungkook?

É a voz de sua mãe. Jungkook automaticamente abre os olhos depressa, de repente assustado pelo motivo da ligação.

- Mãe? O que foi?

- Os pais de Joseph me pediram para dar a notícia a você.

Jungkook inspirou fundo, ar saindo pesadamente em seguida. Se manteve em silêncio, e provavelmente sua mãe percebeu isso, apenas continuando a falar.

- Joseph faleceu hoje. Eles queriam que você soubesse. Também disseram que pode ir ao velório dele. Vai acontecer na casa deles, pela tarde.

Jungkook prometeu para si mesmo não voltar lá nunca mais. Mas agora... essa situação não é inesperada, isso aconteceria em algum momento. Isso vai acontecer com ele. Não há como fugir.

- Estarei lá.

Com sua confirmação, a ligação é encerrada. Jungkook joga o celular na cama, mãos deslizando pelos cabelos enquanto ele tenta não pensar. A morte realmente buscou o homem que tanto o havia machucado e condenado. Mesmo que a sensação de justiça divina feita, ele só conseguiu ficar mais triste. Realmente não havia fuga, e ele logo acabaria como Joseph.

Jungkook não queria morrer. Ele queria acordar de novo e de novo e tentar reconstruir tudo aquilo que foi destruído em sua vida. Mas não há mais essa opção, e agora ele tem certeza. Só não pode mais estragar os últimos tempos restantes.

Jungkook deixa o corpo cair na cama de novo, mãos correndo para puxar o cobertor até o pescoço. Seu peito está apertado, e apesar de não sentir tristeza pela morte do outro, ele sente pena. Foi um final que seu ex namorado buscou, e poderia ter sido apenas isso. Mas infelizmente Jungkook também estava afundando nesse mar de espinhos.

Depois daquela ligação, Jungkook ficou pensando em muitas coisas em relação a tudo e a todos. Ele só conseguiu dormir quando o sol começou a raiar.

×

Jungkook acha que preto cai bem nele. Se olhando no espelho agora, sua pele parece incrivelmente pálida, e contrasta muito com as suas roupas. É como se aos poucos ele estivesse definhando vivo, e não era uma mentira. Seu pobre coração, tão consumido, tentava ao máximo lutar e se manter batendo, mas era uma batalha condenada. Não haveria vencedores.

Ele houve batidas na porta de sua casa, e toma isso como o momento de ir. Já são quase três da tarde, isso significa que logo o velório deverá acabar.

Jungkook vai em direção a entrada da casa e abre a porta, encontrando Taehyung o aguardando. Ele também usa preto, e Jungkook acha difícil aceitar que alguém tão vivo como ele tenha que usar cores tão frias.

- Você não é obrigado a ir, sabe disso, não é? - Taehyung perguntou com uma última garantia enquanto eles iam em direção ao ponto de ônibus. Jeon assentiu.

- Sinto que preciso ir. Ao menos para olhar na cara dele e... Perceber que realmente acabou...

- Isso vai acabar machucando você, Jungkook-ah.

- Não vai machucar, não mais - Jungkook garantiu, e apesar do Kim ter receios disso, ele apenas concordou com ele.

Eles chegaram na casa dos pais de Joseph minutos depois. Havia algumas pessoas na sala, todas de preto, conversando baixo. Poucos olhos caíram sobre ele, provavelmente apenas achando que eram amigos do falecido.

Jungkook caminhou por entre os cômodos, até chegar no quarto que antes havia estado, vendo tudo organizado para que tivesse espaço suficiente. Se aproximou em passos lentos, adentrando o ambiente fechado. Os pais de Joseph estavam em pé no canto, a mãe parecendo inconsolável. Eles o olharam, mas não disseram nada, apenas deixando que ele fizesse o que tinha ido fazer.

Jungkook olhou para Taehyung rapidamente apenas para ter certeza que não estava sozinho, então, se aproximou mais do corpo do falecido, olhando com apatia. Alguns segundos depois, Jeon se sentiu confuso. Não havia nada lá, nenhum sentimento referente a Joseph que não fosse raiva e remorso. Não entendia o porquê de realmente ter ido ali, olhá-lo, se despedir. Taehyung tinha razão, no fim aquilo só iria deixá-lo mais machucado. Negou levemente, se afastando do caixão até alcançar Taehyung.

- Eu realmente não deveria ter vindo aqui.

- Podemos ir embora.

- Não há nem lágrimas nos seus olhos. Você realmente nunca se importou com ele! - a voz brava vinha da mãe de Joseph.

- Não vou lamentar por alguém que só me fez mal - disse friamente, sentindo a mão de Taehyung na sua costa, tentando instigá-lo a irem embora.

- Meu filho nunca fez mal a você! Ele era bom! Você foi quem acabou com o relacionamento de vocês! Nem sei porque permiti que você viesse, Jungkook. Pensei que se arrependeria vendo o que você fez a ele.

- Infelizmente eu cometi muitos erros na minha vida, mas tive a oportunidade de acertar quando terminei esse relacionamento ruim que seu filho causava. Tudo de errado foi apenas ele, não eu. Eu sou a vítima disso tudo, mas você está cega demais para perceber. De todo modo, agora é tarde demais. Para mim, para Joseph. Acabou. Eu sinto muito que tenha perdido o seu filho, mas não tenho nenhum bom sentimento por ele.

Ele saiu do quarto junto com Taehyung, e tem certeza que a mãe de Joseph desabou em lágrimas. Algumas pessoas desconfiaram, mas ninguém disse uma só palavra enquanto eles sumiam de vista.

Já fora da casa, Jungkook não perdeu tempo com Taehyung enquanto iam para a sua. Quando eles chegaram, tomaram banho e trocaram aquelas roupas, pela qual Jungkook agradeceu. Taehyung disse que ficaria com ele até que precisasse ir para a faculdade pela noite, e ele agradeceu.

Agora que Taehyung sabia que os remédios não iam salvá-lo, ele tinha estado mais próximo, sempre que podia. Como se estivesse tentando compensar todo o tempo perdido entre eles. Jungkook gostava disso, ele se sentia feliz, mas as vezes lembrava que estava condenado, e Taehyung não. Ele não deveria estar se esforçando tanto. No final, aquilo desaparecia assim como a imagem de Jungkook.

O som de uma nova ligação foi o que tirou-o dos devaneios. Novamente, era sua mãe, e dessa vez ele estava bem atento disso.

- Como você pode ser tão ruim assim? Indo para o enterro de Joseph com aquele rapaz ao lado? Isso é tão decepcionante, Jungkook! Você nem mesmo chorou por ele! Joseph está morto!

- Sim, e eu não posso trazê-lo a vida, mãe. Eu fui ao lado de alguém que realmente me ama e me faz bem, diferente de Joseph. Mas você nunca vai acreditar nisso, não é? Assim como meu pai. E eu lamento muito por vocês. Mas está tudo bem... Isso não vai durar por muito tempo. E mesmo que eu devesse, não vou renegá-los. Antes que tudo isso desse errado, éramos uma família. Mas vocês acabaram com tudo isso - Jungkook suspirou, ouvindo passos vindo da cozinha, onde Taehyung estava. Não podia mais perder tempo. - Estou desligando.

- Eu não terminei-

Jungkook desligou o celular para garantir que não recebesse novas ligações. Ele viu Taehyung entrar no quarto naquele momento, a expressão preocupada. Sorriu para ele, vendo o mais velho sorrir também.

- Vem, eu fiz algo para lanchar.

Jungkook assentiu, levantando da cama e indo até ele. Porque era apenas disso que ele precisava enquanto seus dias se desfaziam pouco a pouco.

De Taehyung.

Doses de Amor | taekookDonde viven las historias. Descúbrelo ahora