Thomas
"Era agora ou nunca"
- Como conseguiu seus poderes ?-Falo abaixando o olhar
"Por que eu não consigo sequer olhar para ele ?"
- Consigo imaginar os absurdos que seu tio falou sobre mim.- Ele fala indo até a sacada e eu o acompanho- Eu era um grande rei, como você mesmo já disse, mas...
Ele olha fixadamente para o horizonte e eu me aproximo ainda mais
- Mas ?
- Eu ainda era apenas um homem. As guerras estavam cada vez mais frequentes, e com ela. Doenças.-Ele se vira me olhando e eu desvio o olhar
- Eu poderia lutar contra quantos homens aparecessem. Mas nem mesmo eu pude evitar quando uma doença se espalhou. Meu filho... acabou pegando.
- Eu lamento- Falo o olhando nos olhos pela primeira vez desde que chegamos ali e sinto um arrepio percorrer meu corpo
- Eu procurei incansavelmente a cura, até que ouvi boatos sobre um monstro na caverna. Um que poderia fazer coisas impensáveis. Fui até ele, o acordo foi simples. Ele me transformaria no que sou e eu o ajudaria a sair da caverna que era amaldiçoada.- Ele para um pouco respirando fundo- Eu passei três duas naquela caverna, não foi uma transformação fácil. Meu corpo mudou totalmente, minha visão...tudo. Quando voltei para meu castelo, era muito tarde. Meu filho tinha acabado de partir, eu tinha sido dado como desaparecido e minha esposa tinha pulado da torre mais alta.
"Então, ele fez tudo pelo filho..."
- Eu tentei trazê-los de volta mas nem eu podia fazer isso, tudo perdeu o sentido. Eu tinha tanto, mas ao mesmo tempo nada. Com o tempo todos começaram a espalhar boatos ao meu respeito e sobre meu reino.
- Você matou muitos homens.- Digo e ele revira os olhos
- Eles vinheram até mim, quem não cumpria sua parte teve sua devida punição.
- Então, se eu não tivesse me casado. Teria me matado?
- Não foi você que fez o acordo comigo, por outro lado seu tio...
- Ele é um bom homem, só é muito preocupado com o reino- Digo me ponto em sua frente
- Eu não vou matá-lo. Estamos casados, não?- Ele fala rindo e eu dou de ombros
"Por enquanto..."
Valmir
As lembranças eram fortes, quase todos os dias eu acordava gritando o nome do meu filho. Entrar no quarto e encontrar ele morto na cama foi o pior dia da minha vida. Por incrível que pareça, desde que Thomas chegou eu não tive mais esses sonhos.
- Bom, acho que vou andar por aí- Ele fala se virando e eu o acompanho
- Eu te contei algo, não acha que deveria me contar alguma coisa também ?
- Hum, não tenho muito para contar. Não é como se minha vida fosse muito animada.- Ele diz dando de ombros
- Já conheceu outros reinos ?
- Não, meu pai não permitia que eu deixasse o castelo. Acho que ele tinha medo de você.
- Eu jamais faria algo contra você.-Digo firme e vejo um sorriso surgir nos seus lábios- Aliás, eu sinto muito pelo seu pai.
- Tudo bem, é o ciclo da vida. E você?
- Eu?
- Viajou muito ?
Continuamos caminhando até chegarmos ao jardim
- Claro, quando se tem todo o tempo do mundo você fica meio sem ter o que fazer. Conheci muitas terras distantes.
- Isso é incrível- Ele fala animado
- Podemos ir depois, se você quiser.
Ele sorri ainda mais mas seu sorriso desaparece tão rápido quanto se formou
- Meu tio nunca permitiria.
- Achei que você fosse o rei.- Falo como se fosse óbvio e ele suspira
- Eu ainda o devo respeito, ele sempre me criou.
- Você que sabe, não vou te obrigar a nada.
- Obrigado.
Ele diz se sentando na grama e o silêncio se instaura no ambiente. Ele parecia pensativo
- Mas sabe, seria uma ótima oportunidade de nos conhecermos melhor. Podemos ir para aqui perto.
Ele me olha como se analisasse a situação
- Bom, se não passarmos tanto tempo acho que ele nem precisa saber.
- Vai mentir para ele?- Falo divertido e ele revira os olhos
- Não é mentir, só não vou contar.
- Parece justo, já até sei para onde vamos.
- Onde ?
- É surpresa.
Ele me olha desconfiado mas concorda com a cabeça, seu corpo relaxa e ele se deita colocando a cabeça no meu colo
"Tão lindo, tão inocente..."
