Aquelas três palavras, finalmente

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               O humor de Lila Rossi contrastava gravemente do resto da população. Enquanto todos, ou uma maioria, estavam temerosos sobre o futuro da princesa adormecida, Lila estava experimentando tiaras. Cantarolando, retirou uma de um ferro escuro e tentou novamente a de ouro. Quando viu que sua mãe tinha chegado ao quarto, a indagou:

               — O que você acha, mamãe, para o material da minha coroa? Ferro ou tento outro? Porque o ouro, apesar de lindo, não combina nada com a minha pele.

               Charlotte apenas lançou um olhar de desdém para a filha, enquanto começava a pensar nos detalhes do seu plano.

               — O mundo caindo em nossas cabeças e você pensando em estúpidas coroas...

               Lila virou-se para a mãe, falando com orgulho:

               — Nós vencemos. A empregada está quase morta, daqui a pouco Gabriel vai desistir de esperar a "bela adormecida" acordar e os dois vão vir correndo para garantir a minha mão. E então, voialá, rainha de Alsacillion!

               — Ela não está morta, Lila. E enquanto Margot respirar, nós corremos perigo. — A condessa de Rossi se deitou na cama e tacou um travesseiro até o outro lado do quarto, furiosa: — Não é possível. Quatro tentativas de matá-la e ela continua escapar de todas! Maldita, maldita, mal...

               — Mãe, ninguém consegue acordá-la. Os guardiões ainda não fizeram contato com os reis- e eu duvido que eles saibam o que quebra o feitiço, já que até agora eles nem se moveram- e ninguém nem desconfia que a chave disso tudo esteja bem mais perto do que eles imaginam.

               — Isso, fala mais alto para ver se alguém desse castelo te escuta. — Debochou e deu um suspiro exasperada. — Eu vou ter que tentar matá-la de novo. Hoje.

               — Mãe, é muito arriscado. A garota está sendo vigiada dia e noite e não acho que o truque da empregada vai adiantar de novo. Eles, ao que parece, ficaram espertos.

               Charlotte foi até a filha e colocou a tiara de ferro escuro com pequenas pedras alaranjadas na cabeça de Lila. Com um sorriso e uma voz veludosa, finalizou:

               — Fica tranquila, querida. No final dessa noite, os nossos problemas vão ter terminado. Comece a pensar na sua coroação, porque eu tenho um plano.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------                 Horas depois, usando a escuridão como aliada, Charlotte começou a se esgueirar pelo castelo de Ladinelle. Não que precisasse é, claro. Com sua aparência de velha curandeira, nem os guardiões a reconheceriam, mesmo que estivesse embaixo dos narizes presunçosos deles. E ela, como sabia, estava.

               A condessa sabia que estava se arriscando demais tentando assassinar Marinette agora, mas amanhã todos os nobres voltariam para os seus reinos e essa seria a sua última melhor oportunidade. Além disso, ela não poderia negar que gostava dessa perspectiva de perigo iminente.

               Estava perto do quarto da princesa. Precisava ir devagar para entrar no personagem de uma anciã indo fazer o seu trabalho. Devido a feiura extrema e as limitações físicas e mágicas, essa era a pior pessoa em que ela já teve que se transformar.

               Lembrou-se com um pouco de carinho da primeira vez que se transformou em Charlotte, sua preferida. Foi poucos dias depois do Dia dos Derrubados e Milicente estava a procura de alguém para tomar a identidade "emprestada", cansada de se disfarçar de mendiga. Ela estava desesperada e precisava se esconder o mais rápido possível, já que os guardiões estavam querendo a sua cabeça em uma bandeja de prata.

A Garota AdormecidaWhere stories live. Discover now