IX

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Talvez ficar com a cabeça nas nuvens não fora algo muito bom para Taehyung, pois ele perdeu metade da conversa na mesa de jantar com sua família. A maioria não era tão importante, baseavam-se em fofocas dos irmãos e algumas coisas do seu pai que envolviam seu cansativo trabalho na baía.

Pois isso o ômega permitiu-se ficar no seu próprio mundo, aquele que o deixava visualizar o acontecimento de mais cedo como se fosse uma cena bem escrita de um livro. Se existisse um modo de registrar momentos como aquele em imagem, um que não precisasse de um desenhista ou pintor, Taehyung provavelmente o repetiria milhares e milhares de vezes. Seus lábios ainda ressentiam o toque dos lábios do alfa e, mesmo comendo na mesa de jantar, ele ainda sonhava com o sabor que havia sentido minimamente.

Apenas uma, pequena e mínima, coisa foi capaz de tirar Taehyung de seu eterno looping com o alfa que estava mexendo com seu coração mais do que o esperado.

— Nós conseguimos pegar uma jubarte, assim vamos ter dinheiro por longos meses. Quem sabe não façamos mais um baile? Vai ser uma oportunidade melhor para nosso Taehyungie ser cortejado.

Taehyung teve quase certeza que sentiu o seu rosto perder a cor quando ouviu a frase do pai.

Primeiro que ele não sabia sobre o animal capturado. Por sua família ser a principal encarregada no ramo de pesca e caça, Taehyung estava acostumado a receber notícias de animais raros que eles eventualmente capturavam. Durante algum tempo isso não foi nada ao ômega, até o momento que seus olhos viram uma baleia pela primeira vez — porém, não foi da maneira que ele desejava desde sempre, como em alto mar. Tudo o que seus olhos capturaram foi uma carcaça morta de um animal gigantesco, totalmente sem vida, quando seu pai teve que interceder pelo carregamento do corpo que pesava toneladas na península. Depois disso, Taehyung nunca mais viu a caça às baleias do mesmo jeito. Saber que eles capturaram uma baleia jubarte, um mamífero extremamente raro naquela parte do país, fez um aperto no coração do ômega — além do constante sentimento de impotência que sentia toda vez que algo do tipo acontecia. Ele era apenas o filho ômega do caçador, sem qualquer poder para opinar ou fazer aquilo parar.

E, claro, a parte que o atingiu em cheio fora a simples menção de um cortejo. Foi como se alguém tivesse tirado o tapete debaixo de seus pés, ou como se tivessem puxado os pés enquanto estava flutuando nas nuvens.

Havia acabado de dar seu primeiro beijo e sentia-se apaixonado, enquanto seus pais planejavam seu cortejo de casamento que aconteceria muito em breve.

E não era com o alfa que estava em seus pensamentos.

— N-Não acho que seja uma boa época para cortejos agora... — tentou argumentar de maneira natural, como se não tivesse um furacão em seu interior.

— Estamos literalmente no equinócio da primavera, querido. Não seja bobinho — Vera disse e o ômega abaixou a cabeça envergonhado. Foi totalmente involuntário. — Seu pai tem razão. Quando a hospedagem acabar, vou providenciar isso. Tentei observar melhor os alfas que vieram dessa vez, mas não encontrei nenhum a sua altura. Talvez um convite explícito de baile para cortejo seja mais eficiente.

Taehyung sentiu sua janta embrulhar dentro do estômago.

— Também não é assim, querida — O pai disse após olhar o rosto branco como papel do filho. — Já perguntou se ele interessou-se por alguém da hospedagem? É bom aproveitar as oportunidades.

Kim Woosung era um bom homem e um bom pai, isso sempre foi claro para Taehyung. Ele sempre teve mais facilidade em falar com o pai do que com a própria mãe; suspeitava que talvez fosse por ele ser um beta. Apesar de ser responsável pelos atos nem um pouco misericordiosos de caça às baleias, Woosung tinha um coração bom. Era estranho para Taehyung concluir isso, enquanto sua mãe era como um quadro em branco o qual ele nunca sabia se tinha boas intenções ou não.

— Eu sei o que é bom para Taehyung — Porém, foi o que ela disse, fazendo o coração do ômega comprimir de um jeito, capaz de caber em uma noz. Eles falavam como se o próprio não estivesse na mesa junto. — E quando digo que não tem nenhum alfa na hospedagem à altura dele, eu sei o que estou falando.

E durante o resto do jantar, ele perguntou-se se sua mãe sabia também como seu coração batia forte ao pensar no alfa que ela pediu para ficar longe.

O porto da baleia | tae.kookOnde histórias criam vida. Descubra agora