Capítulo 40

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Seu reflexo no espelho não lhe transmitia a alegria que Luísa sempre sonhou sentir nesse momento. O vestido de noiva lhe caia perfeitamente, esculpindo seu corpo, desenhando suas melhores curvas. Depois de provar dezenas de vestidos, aquele era o escolhido. Ainda assim Claudia e Joana insistiram para que Luísa provasse mais um, só para ter certeza que era exatamente aquele o escolhido. Diante de tanta insistência ela não teve como fugir, as meninas pegaram um modelo sereia que moldava o corpo de Luísa perfeitamente, mas ela se sentiu ainda mais estranha com esse do quê com o escolhido. "Talvez o problema não seja o vestido, talvez o problema seja eu" —pensa consigo mesma—
Claudia e Joana não param de falar sobre vestidos tendências na Europa, Luísa não presta atenção, seus pensamentos estão no cavalheiro de olhos azuis e na vida que nunca terá juntos. Chacoalhando a cabeça, tenta trazer seus pensamentos ao presente, ao real, uma pontada é sentida em seu peito, uma sensação de que algo muito ruim estava acontecendo. Ao vê-la com a mão no peito e pálida, Claudia e Joana correm até ela bem a tempo de ampara-la, seus joelhos haviam cedido e ela teria aterrissado diretamente no chão se suas amigas não a tivesse ajudado. As meninas ajudam Luísa a caminhar até a poltrona e sentam ela lá.

—Lu o que aconteceu? Você está branca igual papel! Está passando mal? -pergunta Claudia enquanto Joana sai correndo para pegar um copo d'água.

—Uma sensação ruim Clau. Como se algo fosse acontecer. Não sei o quê exatamente. -Luísa tenta explicar, quando seu celular toca

O coração de Luísa começa a bater acelerado ao ver o nome de Poliana aparecendo na tela, suas mãos começam a tremer; fazendo esforço para controlar o nervosismo, ela atende.

Ligação on

—Tia tia tia! Socorro é o meu pai! -a menina mal espera a tia atender e fala desesperada

—O que aconteceu Poliana? Explica devagar! -Luísa tenta manter a calma, mas a tarefa se torna impossível

—Meu pai está sangrando e caído no chão tia! Vem antes que ele desmaie. Eu não sei o que fazer. -fala chorando

Ligação off

Luísa se levanta num pulo e começa a andar de um lado a outro tentando tirar o vestido, assustando Claudia e Joana que vão até ela na tentativa de acalma-la.

—Calma Lu! -pede Claudia

—O que aconteceu?  -pergunta Joana

—Aconteceu alguma coisa com o Otto, não deu para entender direito, Poliana está muito nervosa, mas ouvi quando ela disse que ele estava sangrando.   -explica e enfim se livra do vestido

—A gente vai com você!  -afirma Joana

—Não! Vou pegar um táxi. Vocês precisam ficar aqui e acertar os detalhes finais do pagamento.   -diz Luísa e as meninas confirmam com a cabeça

***********

Suas mãos tremiam, seu coração batia descompassado, só de pensar na possibilidade de Otto estar machucado.
O táxi corria pelas ruas de São Paulo mas para Luísa parecia que o caminho estava cada vez mais longo. Suas tentativas fracassadas de ligar para Poliana só fazia seu nervosismos aumentar. "Porque ela não atende" pensa Luísa enquanto tenta pela vigésima vez fazer contato com a menina.
O táxi para na entrada da mansão e Luísa paga a corrida com muito mais do que o valor dado, agradece e sai correndo, não consegue pensar em mais nada a não ser entrar em casa, saber o que de fato aconteceu e se livrar daquela angústia que a corrói desde que sentiu que algo estava errado.
Ao entrar em casa, paralisa ao ver aquela cena, Otto estava caído, mas consciente com a cabeça no colo de Poliana, a menina conversava para mantê-lo acordado. Vê ele ali foi como se ela tivesse levado um tiro no peito, vê-lo machucado fez seu coração parar de bater.

—O que aconteceu aqui? -sussurra a pergunta ainda parada na porta, passando as mãos no cabelo tentando assimilar se aquilo era real ou um pesadelo

Poliana levanta a cabeça e olha para porta como vem fazendo desde que conseguiu falar com a tia, mas diferentemente das outras vezes, Luísa está lá parada, a menina não perde tempo e grita chamando pela tia.
Luísa se desperta de seu transe e corre até onde Poliana e Otto estão, se ajoelhando ela passa a mão de leve no rosto de Otto.

—O que aconteceu? Por que seu pai está com o rosto machucado e sangrando? -a pergunta é direcionada a Poliana mas seus olhos encaram Otto

—Não sei como começou tia. Quando cheguei ele já estava caído e o Marcelo parecia que ia dar mais outro soco. Foi quando gritei e ele foi embora.  -explica

Ouvir o nome de Marcelo fez uma raiva percorrer o corpo de Luísa, ela tomaria satisfação com ele com certeza, mas antes precisava cuidar dos ferimentos de Otto.

—Poli, por favor. Pega lá dentro a caixinha de primeiros socorros, além disso, traga também uma vasilha com água.  -pede Luísa, segurando a cabeça de Otto e assumindo o lugar de Poliana, apoia a cabeça dele em seu colo

A menina sai correndo para buscar o que a tia havia pedido. Enquanto isso Luísa acaricia suavemente o rosto de Otto, tentando não tocar nos machucados. Ele levanta o olhar e sustenta o de Luísa, vendo a tristeza e a culpa refletir através deles, Otto pega a mão que acariciava seu rosto e leva até seus lábios beijando delicadamente. Ao ver o gesto ela sorri para ele mas seu sorriso não alcança seus olhos.

—Não foi culpa sua, meu amor. -sua voz sai mais baixa que um sussurro

—Não precisa dizer nada. Vamos cuidar disso e você vai estar ótimo logo. -conta Luísa

Minutos depois Poliana volta com a caixinha de primeiros socorros e a vasilha com água que a tia havia pedido.

—Otto, você consegue se sentar? -pergunta Luísa

Otto confina com a cabeça, então Poliana e Luísa lhe ajuda a sentar no sofá, sentando de frente a ele, Luísa observa os machucados com mais atenção.

—São cortes superficiais, não precisará de pontos. -explica

Luísa pega gases e umedece na água, passando suavemente ao redor e em cima dos cortes, a cada toque Otto faz uma careta e emite um gemido de dor. Vê-lo naquele estado faz o coração de Luísa apertar, um homem sempre tão sério, sempre tão seguro de si, sempre tão forte, naquele momento é apenas um homem frágil que precisa de cuidados. Mas ainda assim não deixa de ser lindo e charmoso. Um sorriso travesso se forma nos lábios de Luísa e Otto percebe.

—Está rindo da minha desgraça? -pergunta com humor

—Não, claro que não. Só que você mesmo todo machucado, não deixa de ser charmoso. -admite

—Um elogio inesperado! Acho que valeu a pena a surra.

—Seu bobo! Me deixou preocupada. -Otto a olhava com amor enquanto ela cuidava de seus machucados

Poliana não diz nada, sentada à mesa ela só observa a cena, percebendo que eles pareciam tão íntimos quanto na vez em que os viu dançando juntos.
A menina tenta montar o quebra cabeça, tentando ligar as peças que existe entre o pai e a tia. Ela se aproxima depois que o rosto do pai está parcialmente limpo, não aguentava ver ele sofrendo cada vez que a tia passava a gases com água para limpar.

—Está se sentindo melhor, pai? -pergunta enquanto se senta ao lado do pai no sofá

—Estou sim, meu amor! Muito obrigado por me manter consciente. Saiba que és muito importante para mim. -fala levando a mão ao rosto da filha

—Você também é muito importante para mim, pai. -exclama com a voz embargada tocando no cotovelo do braço que acariciava seu rosto

Luísa observava encantada o amor que um nutria pelo outro, no ótimo pai que o Otto havia se tornado e na menina doce que Poliana é. Luísa passa um pouco de Anti-séptico nos cortes, e finaliza.

—Você terá que dar compressa regularmente para diminuir o inchaço, a compressa fria será ideal. -explica Luísa

—Pode deixa enfermeira. -Otto brinca e arranca gargalhadas de todos

Continua ...

Orgulho e AmorWhere stories live. Discover now